Neste Ano 2013 o 2º Domingo do Advento coincide com a Solenidade da Imaculada Conceição. Clique aqui para ler os comentários
Comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Mons João Clá Dias
Naqueles dias, apareceu
João Batista, pregando no deserto da Judeia: 2 “Convertei-vos, porque o Reino
dos Céus está próximo”. João foi
anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “Esta é a voz daquele que grita no
deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas!”
João usava uma roupa feita
de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins; comia gafanhotos e
mel do campo. Os moradores de Jerusalém,
de toda a Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão vinham ao
encontro de João. 6 Confessavam seus pecados e João os batizava no rio Jordão. Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo
para o batismo, João disse-lhes: “Raça de cobras venenosas, quem vos ensinou a
fugir da ira que vai chegar? 8 Produzi frutos que provem a vossa conversão. Não
penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai’, porque eu vos digo: até mesmo destas
pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão.
O machado já está na raiz
das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo.
‘Eu vos batizo com água para a conversão, mas Aquele que vem depois de mim é
mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos
batizará com o Espírito Santo e com fogo. 2 Ele está com a pá na mão; Ele vai
limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha Ele a Queimará no
fogo que não se apaga” (Mt 3, l-12).
Tempo de uma nova conversão
Ao invectivar a
hipocrisia dosfariseus e saduceus, São João nos põe na perspectiva do Juízo
Final, do qual ninguém poderá escapar. Naquele dia, de nada valerão as
exterioridades se não tivermos produzido frutos que provem a nossa conversão.
ADVENTO, TEMPO PARA UMA REVISÃO
Quando um navio vai
sair do estaleiro pela primeira vez, é costume realizar-se uma cerimônia na
qual a nova ‘ embarcação recebe o nome e, como desfecho do ato, uma garrafa de
champanhe é quebrada de forma espetacular no casco, escorrendo ali todo o seu
precioso líquido. Segundo uma antiga crença, quanto melhor for a qualidade do
espumante maior será a probabilidade de que o navio singre os mares com segurança.
Depois disso, com o costado recém-pintado, liso e completamente limpo, a embarcação
é lançada na água e começa a navegar pelos oceanos. Com o passar dos anos a
velocidade do navio vai diminuindo, não por perda de força do motor, mas porque
no casco se incrustam moluscos em grande quantidade que dificultam a navegação.
Para recuperar a rapidez inicial é imperioso retornar ao estaleiro e remover
essa crosta. Também os automóveis quando são novos funcionam bem, e depois de certo
tempo de uso é necessário submetê-los a uma revisão, a fim de garantir o bom
desempenho de seu mecanismo.
Em relação à saúde,
nossa situação é parecida. Periodicamente temos de nos submeter a um checkup
médico ou ir ao dentista para verificar se tudo está em ordem. Mas, sobretudo, necessitamos
fazer uma revisão.., da alma. Temos de analisar com frequência nossa vida espiritual,
porque, apesar de sermos batizados, recebermos os Sacramentos com assiduidade e
praticarmos com seriedade a Religião, é frequente passarmos por circunstâncias
que nos levam a cometer certas imperfeições ou a nos apegarmos às vaidades deste
mundo, e adquirimos manias e maus hábitos.
Muitas vezes julgamos
que cada um existe por si, independente de Deus e sem relação com os demais, e
que ninguém vê nossos pensamentos e ações ocultas. Entretanto, é só uma questão
de tempo para tudo se tornar público. Nossa situação é semelhante à de uma
pessoa que, possuindo um documento comum importante segredo, o pusesse num
envelope dentro de um cofre de banco. E à noite, porém, recebesse a visita de
um Anjo, enviado por Deus, com a ordem de comunicar aquele texto secreto à
humanidade inteira... Assim será o Juízo Final: todos os nossos pensamentos,
desejos, maquinações, tudo o que tivermos feito de bom e de mau será conhecido
por todos os homens, bem-aventurados ou condenados, sem exceção de ninguém, inclusive
pelos Anjos e pelos demônios, como nos ensina a doutrina católica.1
É por isso que, na sua
extraordinária sabedoria, a Igreja distribui a Liturgia ao longo do ano de
maneira a nos proporcionar, em determinados momentos, a oportunidade de fazer a
nossa revisão espiritual. Um desses períodos é o Advento, tempo de conversão,
ou seja, tempo de exame de consciência, de penitência e de mudança de vida. A
pregação de São João Batista, recolhida por São Mateus no Evangelho de hoje,
nos oferece preciosos elementos para isso.
“Convertei-vos…”
1 Naqueles dias, apareceu João Batista, pregando no
deserto da Judeia.
Podemos delinear melhor
o cenário da atividade do Precursor reportando-nos à narração de São Lucas, o
qual registra que João “percorria toda a região do Jordão” (Lc 3, 3). Devido à
proximidade do rio, em cujas margens cresce abundante vegetação, este local
corresponde a uma parte menos agreste da inóspita e extensa zona circunvizinha
ao Mar Morto, conhecida pelo nome de deserto da Judeia. De fato, São João vivera
os anos precedentes à sua missão pública nas paragens solitárias situadas mais
ao norte deste descampado, onde também, mais tarde, Nosso Senhor passaria os
quarenta dias de jejum, depois de ser batizado.2
Ouçamos as palavras que
João Batista proferia, procurando aplicá-las à nossa situação pessoal.
A falsa esperança do mundo
2 “Convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo”.
No Batismo, todos
recebemos uma semente do Reino de Deus, que devemos fazer crescer em nós pela
prática da Religião, enquanto esperamos o momento de possuí-lo em plenitude, na
eternidade. Todavia, no mundo moderno essa esperança da vida eterna é
substituida por outra esperança, cujo objeto não é Deus: é a técnica, são as
invenções e as descobertas científicas, que tornam a existência humana mais
agradável e a prolongam de modo considerável. Chega-se até mesmo a admitir a
ideia de que a ciência ainda fará surgir o elixir cujas propriedades tornarão
imortais os homens. Ora, a tecnologia e a medicina podem, na verdade, aumentar
o número de nossos dias, mas não eternizá-los. Chegará a hora em que elas de
nada adiantarão e deixaremos este mundo. Aí termina a esperança mundana, como
ensina o Livro da Sabedoria: “E como poeira levada pelo vento, e como uma leve
espuma espalhada pela tempestade; ela se dissipa como o fumo ao vento, e passa
como a lembrança do hóspede de um dia” (5, 14). Nesse sentido, a admoestação do
Precursor é muito clara e atual para nós: trata-se de fazer penitência desses
desvios,pois o Reino dos Céus não é dos que põem sua segurança no progresso, na
máquina ou no conforto material, e sim daqueles que confiam em Deus e têm sua
esperança posta na eternidade.
O risco de se tornar surdo para Deus
João foi anunciado pelo profeta Isaías, que disse: “Esta
é a voz daquele que grita no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai
suas veredas!”
Aplicada pelos quatro
evangelistas à pessoa de São João Batista, esta passagem de Isaías possui um
profundo simbolismo que nos lembra quão oportuna é para nós a mensagem do Precursor.
Chama a atenção que o profeta localize a missão de João “no deserto”. Devemos interpretar
esta menção num sentido mais metafórico que propriamente físico: João gritava e
era ouvido por aqueles que estavam “no deserto”, ou seja, no inteiro
desprendimento de tudo o que não conduz a Deus. Quando alguém, pelo contrário,
está no bulício da “cidade”, aferrado ao que nela existe: a vaidade, as
máquinas, o relacionamento humano que afasta da virtude, etc., fica surdo à voz
que o convida à conversão. A primeira vista, muitas dessas coisas podem parecer
legítimas. No entanto, quem se apega ao que é lícito esquecendo-se de Deus,
logo estará apegado também ao que é ilícito. Em nosso caso concreto, quantos afetos
desordenados não estão impedindo que ouçamos o clamor de São João, dirigido a
nós a todo instante, seja por moções interiores da graça em nossa alma, seja pela
ação de outros?
Continua...
Continua...
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