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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Evangelho 2º Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12

Neste Ano 2013 o 2º Domingo do Advento coincide com a Solenidade da Imaculada Conceição. Clique aqui para ler os comentários

Continuação dos comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Mons João Clá Dias
Exortação à integridade de vida
Quando a pessoa se apega a algo ilegítimo, imediatamente cria uma doutrina para justificar esse mau caminho que seguiu. Porque o homem é um monólito de lógica no que diz respeito à coerência de sua conduta com seu pensamento, como expressa a frase lapidar de Paul Bourget, recolhida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira em sua célebre obra Revolução e Contra-Revolução: “Cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu”.3 Caso a pessoa não queira emendar-se — ou seja, “endireitar suas veredas” —, terminará, de fato, pensando de acordo com o modo como vive. Por conseguinte, é indispensável arrancarmos as racionalizações de nossa alma, para caminharmos com retidão nas vias de Deus.
João Batista não só exortava à integridade, como também dela dava exemplo com sua vida, modelo de completa coerência, e com seus costumes, inteiramente alheios ao comum das pessoas, como descreve São Mateus no versículo seguinte.
4 João usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinturão de couro em torno dos rins; comia gafanhotos e mel do campo.
Naquela época — como, aliás, também na nossa — as roupas não eram feitas de pelo de camelo, pois é um material áspero e agressivo ao tato. O traje de São João, portanto, devia causar estranheza. Ademais, trazia um cinturão de couro em torno dos rins, para mostrar que era virgem e praticava a castidade. Quanto à sua alimentação, consistia em gafanhotos e mel silvestre, dado que nos permite imaginar o teor de sua penitência. Impedidos pelo reflexo de repugnância, muitos de nós não suportaríamos comer um desses insetos, se a isto fôssemos obrigados.
São João rasga o véu das falsas aparências
5 Os moradores de Jerusalém, de toda a Judeia e de todos os lugares em volta do rio Jordão vinham ao encontro de João. 6 Confessavam seus pecados e João os batizava no rio Jordão.
O que ocasionou essa movimentação popular em torno do Precursor, a ponto de virem israelitas de todas as partes da Palestina para estar com ele? Dentre outras razões, a comprovação de que ele dizia a verdade. E os que acolhiam suas palavras com boas disposições decidiam começar uma nova vida. Para dar esse passo, confessavam seus pecados e recebiam o “batismo de arrependimento” (Le 3, 3), o qual não era o Sacramento instituído depois por Nosso Senhor, mas um rito simbólico, uma espécie de sacramental que, mediante a penitência, preparava as almas para receber o Salvador.4 Era assim que João reconduzia muitos “rebeldes à sabedoria dos justos” (Le 1, 17).
Contudo, junto a estes que se convertiam havia alguns que não queriam ouvir...
7ª Quando viu muitos fariseus e saduceus vindo para o batismo, João disse-lhes: “Raça de cobras venenosas...”
Os fariseus e os saduceus, cuja influência dominava todo o panorama sócio-político judaico da época, estavam sempre muito atentos a qualquer variante na opinião pública, pois não lhes era conveniente perder o apoio das bases da sociedade. O entusiasmo pela figura do Precursor suscitado nas multidões, que afluíam para ouvi-lo, supunha para os membros de um e de outro partido uma ameaça ao seu poder. Querendo causar a impressão de que também haviam aderido à onda de fervor religioso, resolveram ir ao encontro de João. Não obstante, como eles se julgavam perfeitos a ponto de não terem pecado algum, sua intenção não era a de confessarem suas culpas, mas apenas receber o batismo como um carimbo que os justificasse aos olhos da opinião pública.
Quando o profeta os viu, “discerniu que não vinham com disposição sincera, mas fingida e dissimulada, o que era muito conforme à maneira de ser deles”.5 Por isso não hesitou em repreendê-los: “Raça de víboras!”.6 E não devemos imaginar São João dizendo isto em voz baixa ou de forma pouco expressiva. Decerto ele possuía uma voz possante que, por assim dizer, atingia a espinha dorsal dos ouvintes como se o próprio Deus lhes falasse. Na verdade, João, “cheio do Espírito Santo” (Lc 1, 15), representava a Deus e transmitia sua vontade.

Ora, a serpente foi o animal utilizado por satanás, no Paraíso, para levar Eva ao pecado. Este marca tanto que, mesmo sendo criatura irracional — sem livre arbítrio, portanto, incapaz de ter culpa —, foi ela amaldiçoada pelo Criador, tornando-se desde então um símbolo da maldade. E víbora foi o título dado por São João aos fariseus e saduceus por serem instrumento de pecado para outros. Mais tarde, Nosso Senhor lhes repetirá esta censura (cf. Mt 12, 34; 23, 33) e acrescentará outras ainda mais severas e incisivas.
Continua no próximo post

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