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quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Evangelho 2º Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12

Neste Ano 2013 o 2º Domingo do Advento coincide com a Solenidade da Imaculada Conceição. Clique aqui para ler os comentários

Conclusão dos comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Mons João Clá Dias
Causa da perdição de outros
7b “...quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar?”
A seguir, o Precursor os ameaça, lembrando-lhes o iminente castigo de Deus. Ao falar em “fugir da ira”, refere-se mais uma vez aos subterfúgios elaborados pela consciência de quem procura parecer santo diante dos outros, e vive de um modo que não condiz com sua exterioridade. Tal era a situação deles, preocupados que estavam com a figura a representar face ao povo e não com a autêntica mudança de vida preconizada por São João Batista. Quem ludibria os outros desta forma faz o papel da serpente que mentiu a Eva, pertence à “raça de víboras” dos fariseus e saduceus, e junto com eles incorre na ira divina.
8 Produzi frutos que provem a vossa conversão”.
Ao fazer esta exigência, São João afirma tacitamente que os frutos produzidos até então eram o contrário das obras da virtude. Com efeito, os fariseus e os saduceus, cada um à sua maneira, se aproveitavam da força da palavra de Deus, da qual se diziam transmissores, para enganar os outros, desviando-os da verdadeira Religião. Além disso, como não buscavam a perfeição, davam o mau exemplo característico dos hipócritas, que “proclamam que conhecem a Deus, mas na prática O renegam” (Tt 1, 16). Quantas almas eles teriam lançado no inferno por causa dos escândalos provocados pela sua duplicidade de vida?
O próprio Nosso Senhor apontaria, mais tarde, a gravidade desse pecado: “Vós fechais aos homens o Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar” (Mt 23, 13). No dia do Juízo Final, estes que se condenaram levantar-se-ão para acusar aqueles que foram causa de sua perdição.
Daí decorre uma importante lição para nós: quem não tem sua própria alma em ordem, não conduz os outros à virtude. Para fazermos o bem ao próximo, a vida interior é fundamental, como ensina o excelente tratado A alma de todo apostolado: “Seja nossa vida interior como um tronco túmido de seiva robusta a desatar-se sempre em flores de nossas obras. Uma alma de apóstolo! Mas é ela a primeira que deve ser inundada de luz e inflamada em amor, a fim de que, refletindo essa luz e esse calor, possa esclarecer e abrasar depois as outras almas. O que viram, o que consideraram com os próprios olhos, o que quase palparam com as mãos, eles o hão de ensinar aos homens (cf. I Jo 1, 1)”.
De nada adiantarão as aparências...
9 “Não penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai, porque eu vos digo: até mesmo destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de Abraão”.
O Precursor lembra, então, que diante do Divino Juiz não adianta invocar as aparências: “Abraão é nosso pai”. Argumento cogente para os que assistiam à pregação, pois, segundo a ideia comum entre os judeus, o simples fato de descender de Abraão já garantia, de si, a salvação eterna. Ora, se Deus pode fazer nascer das pedras brutas filhos de Abraão, a atitude que nos cabe é invocar a sua graça, enquanto estamos neste mundo. Entretanto, nunca poderemos dizer que somos verdadeiros filhos de Abraão — ou seja, herdeiros da promessa feita a ele e à sua descendência, isto é, a Cristo (cf. Gal 3, 16) — se estivermos abraçados ao pecado, ainda que o ocultemos sob a capa da virtude. É o que afirma o próprio Nosso Senhor: “Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão” (Jo 8, 39).
Pelos frutos se conhece a árvore
10 “O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”.
Depois de tão tremenda acusação pública, São João faz uma advertência usando a expressiva imagem da árvore estéril. Se a árvore que não produz bom fruto só serve para ser cortada e lançada ao fogo, quanto mais aquela cujos frutos são maus e prejudiciais para os outros! Por tal motivo, às vezes é mister uma intervenção de Deus para interromper o avanço do mal; do contrário, o inferno continuaria a se encher das criaturas que Ele fez para render-Lhe perfeita e eterna glória no Céu. O machado se encontra na raiz das árvores, pois “em todo lugar estão os olhos do Senhor, observando os maus e os bons” (Pr 15, 3). E o fogo eterno aguarda aqueles que, não querendo se converter, vivem no pecado e condenam outros pelo seu péssimo exemplo.
Anúncio do Messias que vem para salvar… e condenar
11 ‘“Eu vos batizo com água para a conversão, mas Aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Subitamente, o discurso muda de tom, pois o foco passa a ser Nosso Senhor. Destacando a substancial diferença entre o batismo penitencial e o Sacramento que seria trazido pelo Redentor, João Batista sublinha sua completa submissão a Jesus, dizendo-se indigno de carregar suas sandálias, gesto que caberia a um simples escravo. Põe, assim, a figura de Nosso Senhor no verdadeiro lugar de precedência aos olhos do povo, dando mostras da humildade que foi uma constante em sua missão de anunciador de Cristo: “Importa que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30).
12 “Ele está com a pá na mão; Ele vai limpar sua eira e recolher seu trigo no celeiro; mas a palha Ele a queimará no fogo que não se apaga”.
Concluindo suas palavras, o Precursor revela quem será o executor da sentença antes anunciada: o Messias, o mesmo que vem para salvar, batizando “com o Espírito Santo e com fogo”, está prestes a lançar a palha “no fogo que não se apaga”. Na hora do Juízo, se desvanecerá a ilusão dos que julgam ser possível dar um jeitinho diante de Deus e ir para o Céu, ainda que tenham levado uma vida contrária aos seus caminhos. Não haverá mais comiseração nem condescendência da parte do Criador: se a “árvore” não produziu o que deveria e morreu na inimizade com Deus, será lançada “na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13, 42). E não pensemos que basta o caráter de cristão para nos livrar da desgraça eterna. Pelo contrário, é ele uma agravante da nossa condenação, pois implica uma recusa maior da graça.
NOSSA ESPERANÇA DEVE ESTAR EM DEUS
Convidando-nos a pensar um pouco nesses acontecimentos dos quais nenhum de nós escapará — a morte e o Juízo —, as palavras de São João neste 2º Domingo do Advento mostram a necessidade de mudar a mentalidade. Se nos analisássemos honestamente, pelo prisma deste Evangelho, constataríamos quantos princípios mundanos deixamos entrar na alma ao longo do tempo, iludindo-nos com uma falsa segurança e estabilidade. Será, por exemplo, o igualitarismo nascido do orgulho, será o materialismo, que faz viver em função da técnica ou do dinheiro, entre outros desvios. E nessa perspectiva que temos de considerar a conversão à qual São João Batista nos exorta, e nos prepararmos para o momento do comparecimento perante o tribunal de Deus.
Juízo que devemos encarar com esperança verdadeiramente cristã, ou seja, com inteira confiança em Deus e nos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que perdoará nossos pecados e misérias desde que os reconheçamos, arrependidos. Se vivermos com esta disposição de alma, atingiremos a santidade, metade todo batizado, e alcançaremos a plena participação na vida de Deus, como sublinha a Oração do Dia: “O Deus todo poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruIdos pela vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida”.8
1) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Suppi., q.87, a.2.
2) Cf. GOMA Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado. Introducción, Infancia y vida oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.1, p.332; 403; FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Infancia y Bautismo. Madrid: Rialp, 2000, v.1, p.295.
3) BOURGET, Paul Le démon du midi, apud CORRÊA DE OLIVEIRA Plinio. Revolução e Contra-Revolução 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002, p.41.
4) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.38, a.3.
5) MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelio de San Mateo. Madrid: BAC, 1950, v.1, p.187.
6) Embora na tradução litúrgica do Brasil conste “raça de cobras venenosas”, o texto grego fala (gennhma ecidna) e a Neo Vulgata traduz para pro genies viperarum, isto é, “raça de víboras”.
7) CHAUTARD,OCSO Jean-Baptiste.A alma de todo apostolado. São Paulo: FTD, 1962, p.66.

8) SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.130.

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