Neste Ano 2013 o 2º Domingo do Advento coincide com a Solenidade da Imaculada Conceição. Clique aqui para ler os comentários
Conclusão dos comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Conclusão dos comentários ao Evangelho II Domingo do Advento - Ano A - 2013 - Mt 3, 1-12
Mons João Clá Dias
Causa da perdição de outros
7b “...quem vos ensinou a fugir da ira que vai chegar?”
A seguir, o Precursor
os ameaça, lembrando-lhes o iminente castigo de Deus. Ao falar em “fugir da
ira”, refere-se mais uma vez aos subterfúgios elaborados pela consciência de
quem procura parecer santo diante dos outros, e vive de um modo que não condiz
com sua exterioridade. Tal era a situação deles, preocupados que estavam com a
figura a representar face ao povo e não com a autêntica mudança de vida
preconizada por São João Batista. Quem ludibria os outros desta forma faz o
papel da serpente que mentiu a Eva, pertence à “raça de víboras” dos fariseus e
saduceus, e junto com eles incorre na ira divina.
8 Produzi frutos que provem a vossa conversão”.
Ao fazer esta
exigência, São João afirma tacitamente que os frutos produzidos até então eram
o contrário das obras da virtude. Com efeito, os fariseus e os saduceus, cada
um à sua maneira, se aproveitavam da força da palavra de Deus, da qual se
diziam transmissores, para enganar os outros, desviando-os da verdadeira
Religião. Além disso, como não buscavam a perfeição, davam o mau exemplo característico
dos hipócritas, que “proclamam que conhecem a Deus, mas na prática O renegam” (Tt
1, 16). Quantas almas eles teriam lançado no inferno por causa dos escândalos
provocados pela sua duplicidade de vida?
O próprio Nosso Senhor
apontaria, mais tarde, a gravidade desse pecado: “Vós fechais aos homens o
Reino dos Céus. Vós mesmos não entrais e nem deixais que entrem os que querem entrar”
(Mt 23, 13). No dia do Juízo Final, estes que se condenaram levantar-se-ão para
acusar aqueles que foram causa de sua perdição.
Daí decorre uma
importante lição para nós: quem não tem sua própria alma em ordem, não conduz
os outros à virtude. Para fazermos o bem ao próximo, a vida interior é fundamental,
como ensina o excelente tratado A alma de todo apostolado: “Seja nossa vida interior
como um tronco túmido de seiva robusta a desatar-se sempre em flores de nossas
obras. Uma alma de apóstolo! Mas é ela a primeira que deve ser inundada de luz
e inflamada em amor, a fim de que, refletindo essa luz e esse calor, possa
esclarecer e abrasar depois as outras almas. O que viram, o que consideraram
com os próprios olhos, o que quase palparam com as mãos, eles o hão de ensinar
aos homens (cf. I Jo 1, 1)”.
De nada adiantarão as aparências...
9 “Não penseis que basta dizer: Abraão é nosso pai,
porque eu vos digo: até mesmo destas pedras Deus pode fazer nascer filhos de
Abraão”.
O Precursor lembra,
então, que diante do Divino Juiz não adianta invocar as aparências: “Abraão é
nosso pai”. Argumento cogente para os que assistiam à pregação, pois, segundo a
ideia comum entre os judeus, o simples fato de descender de Abraão já garantia,
de si, a salvação eterna. Ora, se Deus pode fazer nascer das pedras brutas
filhos de Abraão, a atitude que nos cabe é invocar a sua graça, enquanto estamos
neste mundo. Entretanto, nunca poderemos dizer que somos verdadeiros filhos de
Abraão — ou seja, herdeiros da promessa feita a ele e à sua descendência, isto
é, a Cristo (cf. Gal 3, 16) — se estivermos abraçados ao pecado, ainda que o
ocultemos sob a capa da virtude. É o que afirma o próprio Nosso Senhor: “Se
fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão” (Jo 8, 39).
Pelos frutos se conhece a árvore
10 “O machado já está na raiz das árvores, e toda árvore
que não der bom fruto será cortada e jogada no fogo”.
Depois de tão tremenda
acusação pública, São João faz uma advertência usando a expressiva imagem da
árvore estéril. Se a árvore que não produz bom fruto só serve para ser cortada e
lançada ao fogo, quanto mais aquela cujos frutos são maus e prejudiciais para
os outros! Por tal motivo, às vezes é mister uma intervenção de Deus para interromper
o avanço do mal; do contrário, o inferno continuaria a se encher das criaturas
que Ele fez para render-Lhe perfeita e eterna glória no Céu. O machado se
encontra na raiz das árvores, pois “em todo lugar estão os olhos do Senhor,
observando os maus e os bons” (Pr 15, 3). E o fogo eterno aguarda aqueles que,
não querendo se converter, vivem no pecado e condenam outros pelo seu péssimo
exemplo.
Anúncio do Messias que vem para salvar… e condenar
11 ‘“Eu vos batizo com água para a conversão, mas Aquele
que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de carregar suas
sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo”.
Subitamente, o discurso
muda de tom, pois o foco passa a ser Nosso Senhor. Destacando a substancial
diferença entre o batismo penitencial e o Sacramento que seria trazido pelo Redentor,
João Batista sublinha sua completa submissão a Jesus, dizendo-se indigno de
carregar suas sandálias, gesto que caberia a um simples escravo. Põe, assim, a
figura de Nosso Senhor no verdadeiro lugar de precedência aos olhos do povo,
dando mostras da humildade que foi uma constante em sua missão de anunciador de
Cristo: “Importa que Ele cresça e que eu diminua” (Jo 3, 30).
12 “Ele está com a pá na mão; Ele vai limpar sua eira e
recolher seu trigo no celeiro; mas a palha Ele a queimará no fogo que não se
apaga”.
Concluindo suas
palavras, o Precursor revela quem será o executor da sentença antes anunciada:
o Messias, o mesmo que vem para salvar, batizando “com o Espírito Santo e com
fogo”, está prestes a lançar a palha “no fogo que não se apaga”. Na hora do
Juízo, se desvanecerá a ilusão dos que julgam ser possível dar um jeitinho
diante de Deus e ir para o Céu, ainda que tenham levado uma vida contrária aos
seus caminhos. Não haverá mais comiseração nem condescendência da parte do
Criador: se a “árvore” não produziu o que deveria e morreu na inimizade com
Deus, será lançada “na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes”
(Mt 13, 42). E não pensemos que basta o caráter de cristão para nos livrar da
desgraça eterna. Pelo contrário, é ele uma agravante da nossa condenação, pois
implica uma recusa maior da graça.
NOSSA ESPERANÇA DEVE ESTAR EM DEUS
Convidando-nos a pensar
um pouco nesses acontecimentos dos quais nenhum de nós escapará — a morte e o Juízo
—, as palavras de São João neste 2º Domingo do Advento mostram a necessidade de
mudar a mentalidade. Se nos analisássemos honestamente, pelo prisma deste
Evangelho, constataríamos quantos princípios mundanos deixamos entrar na alma
ao longo do tempo, iludindo-nos com uma falsa segurança e estabilidade. Será,
por exemplo, o igualitarismo nascido do orgulho, será o materialismo, que faz
viver em função da técnica ou do dinheiro, entre outros desvios. E nessa
perspectiva que temos de considerar a conversão à qual São João Batista nos
exorta, e nos prepararmos para o momento do comparecimento perante o tribunal
de Deus.
Juízo que devemos encarar
com esperança verdadeiramente cristã, ou seja, com inteira confiança em Deus e
nos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo, que perdoará nossos pecados e
misérias desde que os reconheçamos, arrependidos. Se vivermos com esta
disposição de alma, atingiremos a santidade, metade todo batizado, e alcançaremos
a plena participação na vida de Deus, como sublinha a Oração do Dia: “O Deus
todo poderoso e cheio de misericórdia, nós vos pedimos que nenhuma atividade
terrena nos impeça de correr ao encontro do vosso Filho, mas, instruIdos pela
vossa sabedoria, participemos da plenitude de sua vida”.8
1)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Suppi., q.87, a.2.
2)
Cf. GOMA Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado. Introducción, Infancia y vida
oculta de Jesús. Preparación de su ministerio público. Barcelona: Rafael
Casulleras, 1930, v.1, p.332; 403; FILLION, Louis-Claude. Vida de Nuestro Señor
Jesucristo. Infancia y Bautismo. Madrid: Rialp, 2000, v.1, p.295.
3)
BOURGET, Paul Le démon du midi, apud CORRÊA DE OLIVEIRA Plinio. Revolução e
Contra-Revolução 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002, p.41.
4)
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., III, q.38, a.3.
5)
MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los Cuatro Evangelios. Evangelio de San
Mateo. Madrid: BAC, 1950, v.1, p.187.
6)
Embora na tradução litúrgica do Brasil conste “raça de cobras venenosas”, o
texto grego fala (gennhma ecidna) e a Neo Vulgata traduz para pro genies
viperarum, isto é, “raça de víboras”.
7) CHAUTARD,OCSO
Jean-Baptiste.A alma de todo apostolado. São Paulo: FTD, 1962, p.66.
8)
SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa
da 2a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com
acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.130.
Nenhum comentário:
Postar um comentário