-->

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Comentário ao Evangelho 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014 - Mt 4, 12-23

Continuação dos comentários ao Evangelho Mt 4, 12-23 – 3º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, E.P.
Jesus Se retira para a Galiléia
Tendo Jesus ouvido dizer que João fora preso, retirou-Se para a Galiléia.
“Entre o jejum e as tentações de Cristo no deserto e a prisão e martírio do Batista — que São Mateus contará detalhadamente mais adiante (Mt 14, 3-12) — decorre um lapso de tempo de alguns meses, durante o qual Jesus exercita seu primeiro ministério nas terras da Judéia e Samaria. O evangelista São João é o único que nos faz conhecer essa lacuna deixada pelos sinópticos. Jesus Cristo, depois dos quarenta dias que passou no deserto, voltou para onde estava o Batista, pregando às margens do Jordão. Ao vê-Lo, João testemunha que Aquele é o Cordeiro que vem destruir o pecado no mundo, e alguns discípulos começam a seguir Jesus. Este A prisão de São João Batista determina o fim do vem com eles para a regime da Lei e dos profetas e o começo da pregação Galiléia, onde opera sobre o Reino dos Céus seu primeiro milagre Decapitação de São João Batista por em Caná; dali parte para Cafarnaum; depois de poucos dias volta à Judéia para celebrar a páscoa. Prega e opera alguns milagres em Jerusalém, o que dá ocasião ao colóquio noturno com Nicodemos. Durante alguns meses continua pregando nas regiões da Judéia e, nessa ocasião, é preso o Batista. Por este motivo, empreende Cristo sua volta à Galiléia, passando pela Samaria (Jo 1, 29–4, 3).
“São João Batista foi entregue ao tetrarca Herodes Antipas pelos escribas e fariseus, como insinua o mesmo Cristo mais adiante (Mt 17, 12). É esta a razão pela qual Cristo foge para a Galiléia, apesar de esta província estar sob o domínio de Herodes, inimigo do Batista. Os fariseus da Judéia ficavam muito incomodados — como adverte São João (4, 1) — pelo fato de os discípulos de Jesus serem mais numerosos que os do Batista, e teriam aproveitado, sem dúvida, qualquer ocasião favorável que se lhes apresentasse, para pôr também Cristo nas mãos de Herodes” 3.
Conduzido pelo Espírito Santo
Como podemos comprovar, pelos Evangelhos, Jesus era conduzido pelo Espírito e, por um sopro dEle, se retira para a Galiléia. Não por temer o martírio, mas por não haver ainda chegado Sua hora.
É o próprio Espírito Santo que nos inspira sabiamente a escolher os tempos e os lugares. Ele é quem nos ensina quando devemos fugir das perseguições ou afrontá-las, em quais momentos temos obrigação de falar ou de calar, de manifestar-nos a todos ou de nos recolher. Se fôssemos inteiramente flexíveis aos sopros da graça do Espírito Santo, maravilhas sairiam de nossas mãos para a glória de Deus e da Santa Igreja, o bem dos outros e a santificação de nossas almas.
Infelizmente, com raras exceções, a humanidade se move, ao longo da História, muito mais pelo interesse pessoal, pela ambição, pela inveja, pelo amor próprio, pela vaidade, pelo prazer, em uma palavra, pelo pecado. Quão grande desperdício de dons, virtudes e graças, do qual se prestará contas diante do Juízo de Deus!
Jesus, muito pelo contrário, retira-se para a Galiléia a fim de ali começar Sua vida pública, com Suas primeiras pregações, confirmadas por prodigiosos e profusos milagres, ilustradas por insuperáveis parábolas. Ali estabeleceu o centro de Sua missão.
Oh feliz Galiléia! Tomara soubesses tirar todo o proveito de tão excelsa circunstância! Oh odienta Jerusalém, oh maldosa Judéia, vós perseguis o precursor e perdeis os benefícios da presença do Salvador. Justamente debaixo desse prisma é que se cifra a minha verdadeira felicidade, corresponder com perfeição aos toques da graça ou rejeitá-los. Eu devo temer a Jesus que passa e não retorna...
Razão sobrenatural: levar o remédio onde mais grave era o mal
Depois, deixando Nazaré, foi habitar em Cafarnaum, situada junto do mar, nos confins de Zabulon e Neftali [...]
A propósito desse versículo, o próprio Maldonado chegou a equivocarse, julgando haver duas Galiléias. Ao expor sua observação, o Revmo. Pe. Luis María Jiménez Font, S.J., com muita precisão desfaz o engano em nota ao pé da página, nestes termos: “O autor [Maldonado] faz uma distinção desnecessária. Não havia mais que uma Galiléia, governada por Herodes. Cristo Se retirou a Cafarnaum, onde podia viver sem perigo, porque estava na fronteira da tetrarquia de Filipe” 4.
Como claramente se deduz, foi por motivos ocasionais que Jesus “Se retirou” para Cafarnaum. Entretanto, pode-se afirmar, com segurança, que nada se passava na vida do Salvador sem ter grandes razões como causa. De imediato, percebe-se não ser útil para a vida pública a manifestação de Sua divindade, na cidade de Nazaré. Jesus a escolheu para as décadas de Sua fase oculta, devido a Seu recolhimento, paz, pequenas proporções geográficas e população restrita. Não era, porém, própria para a difusão em grande escala da semente da Boa Nova. Ademais, “ninguém é profeta em sua própria pátria”, conforme Ele mesmo repetiria aos Seus concidadãos, basta ver o modo como foi expulso daquela cidade.

Um motivo mais sobrenatural levou Jesus a tomar este caminho: “Começa Jesus a evangelizar as regiões por onde tivera início a defecção de Israel. Demonstra com isso Sua misericórdia e sabedoria, levando o remédio onde mais grave era o mal, servindo-Se de uma cidade populosa, mas incrédula e preocupada só com os negócios humanos, para que dali se irradiasse a pregação do Reino de Deus. Quis, assim, significar que quem mais necessita de remédio são os enfermos, não os sãos; e que nunca devemos resistir a nenhum apostolado sob pretexto de que o campo não está preparado para receber nosso trabalho” 5.
Continua no próximo post.

Nenhum comentário: