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segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Comentário ao Evangelho VIII Domingo do Tempo Comum

Comentário ao Evangelho VIII Domingo do Tempo Comum - Ano A - 2014
Evangelho ( Mt 6, 24-34)
“Ninguém pode servir a dois senhores: Porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
Portanto vos digo: Não vos preocupeis, nem com a vossa vida, acerca do que haveis de comer, nem com o vosso corpo, acerca do que haveis de vestir. Porventura não vale mais a vida que o alimento, e o corpo mais que o vestuário? Olhai para as aves do céu que não semeiam, nem ceifam, nem fazem provisões nos celeiros, e, contudo, vosso Pai celeste as sustenta. Porventura não valeis vós muito mais do que elas? Qual de vós, por mais que se afadigue, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida?
E por que vos inquietais com o vestido? Considerai como crescem os lírios do campo — e não trabalham nem fiam! Eu digo-vos, todavia, que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles. Se, pois, Deus veste assim a uma erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca Fé? Não vos aflijais, pois, dizendo: Que comeremos? Que beberemos? Com que nos vestiremos? Os gentios é que procuram com excessivo cuidado todas estas coisas. Vosso Pai sabe que tendes necessidade delas. Buscai, pois, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã; o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu mal” (Mt 6, 24-34).
Pobres sempre tereis entre vós” (Jo 12, 8), respondeu Jesus a Judas que, perplexo diante de um grande gasto de Maria Madalena, para ungir os adoráveis pés do Salvador, perguntara: “Por que não se vendeu esse bálsamo por trezentos denários e não se deu o dinheiro aos pobres?” (Jo 12, 5).
Essa é a grande ansiedade que pervade as almas de povos e nações dos últimos tempos, ou seja, a frenética busca dos bens materiais. Ora, segundo os Doutores, tanto mais se dividem os homens, quanto mais se apegam a esses bens. Pelo contrário, tanto mais união, benquerença e paz há entre eles, quanto mais se entregam aos bens espirituais. São Tomás de Aquino se serve várias vezes desse elevado pensamento de Santo Agostinho: “Bona spiritualia possunt simul a pluribus (integraliter) possideri, non autem bona corporalia” 1.
Assim, quanto maior for o número dos que possuem os mesmos bens do espírito, tanto melhor será. Ademais, obtém-se grande progresso no conhecimento da verdade, na medida em que se procure ensiná-la e se deseje aprendê-la nos outros.
Eis a liturgia de hoje a nos indicar uma profunda solução para as crises atuais: a da desgastada questão social e a da ameaçada economia mundial.
 Introdução
Quem nasceu numa gruta, teve uma manjedoura por berço e em sua vida pública não encontrou onde repousar a cabeça, tem absoluta autoridade para discorrer sobre o desprendimento. A experiência humana, ao longo dos milênios, comprova que não devemos amar as criaturas por elas mesmas. Se for conveniente ou até necessário amá-las, é em função do amor a Deus que devemos fazê-lo.
“É claro que o coração humano tanto mais intensamente se entrega a uma coisa quanto mais se aparta de muitas outras” 2. Seguindo essa via, alguns santos alcançaram um alto grau de virtude, sobretudo ao abraçarem o exagero. São Francisco de Assis chega a fazer um conúbio místico com a pobreza, e Santo Inácio de Loyola, ao partir para Jerusalém, depois de sua contemplação em Manresa, deixa na praia de Barcelona tudo quanto lhe haviam dado; leva consigo três companheiras: a Fé, a Esperança e a Caridade.
A outros, porém, São Paulo recomenda serem previdentes: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Te 3, 10). Até onde deve ir a preocupação com nossa subsistência e qual a atitude de alma, equilibrada e santa, face aos bens deste mundo, como, também, a plena confiança em Deus, são os temas tratados pela Liturgia deste VIII Domingo do Tempo Comum.
Dois Senhores que não admitem rivais
“Ninguém pode servir a dois senhores: Porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”.
O presente Evangelho faz parte do famoso Sermão da Montanha, do qual São Mateus transcreve as partes essenciais. Nele transparece a forte advertência do Divino Mestre contra o desvario dos que se afanam pelos tesouros deste mundo e acabam por se perder em meio às aflitivas preocupações da vida presente.
O apego às riquezas constitui uma real escravidão
Neste versículo, é muito sutil e preciso o emprego do verbo servir, e não qualquer outro, pois o problema central não está em ter bens materiais, mas sim no valor que a eles se tributa e, sobretudo, no afeto que se lhes tenha. Em sua substância, encontramos aqui um desdobramento do Decálogo, em particular do Primeiro Mandamento, tal como o próprio Deus o declarou através de Seus profetas: “Não terás outros deuses diante de Mim. Não farás para ti imagem alguma, nem escultura [...]. Não adorarás tais coisas, nem as servirás; Eu sou o Senhor, o teu Deus” (Ex 20, 3-5) 3.

O apego às riquezas constitui, a partir de certo grau, uma real escravidão e “ninguém pode servir a dois senhores quando mandam coisas contrárias, nem mesmo quando ordenam coisas diferentes, porque a própria natureza impede que o amor do servo se reparta para dois senhores diversos” 4.

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