EVANGELHO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 2014 - Mt 5, 38-48
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho
por olho e dente por dente!’ Eu, porém,
vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um
tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40 Se alguém quiser abrir
um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41 Se alguém te forçar a andar um quilômetro,
caminha dois com ele! 42 Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te
pede emprestado. Vós ouvistes o que foi
dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai
os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! 1 Assim, vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, porque Ele faz nascer o Sol
sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos. 46 Porque, se
amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de
impostos não fazem a mesma coisa? ‘ E se saudais somente os vossos irmãos, que
fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48 Portanto, sede
perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 38-48).
COMENTÁRIOS
AO EVANGELHO
A IMPORTÂNCIA DO SERMÃO DA
MONTANHA
No
Evangelho se São Mateus o Sermão da Montanha ocupa três capítulos inteiros — do
quinto ao sétimo —, e a Santa Igreja de tal forma valoriza esta pregação do Divino
Mestre que lhe destinou seis domingos consecutivos do presente Ciclo Litúrgico,
a fim de nos permitir considerá-la com maior profundidade e proveito
espiritual. Assim, em domingos anteriores pudemos admirar a beleza das oito
Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 1-11), recebemos o convite de sermos sal e luz para
o mundo (cf. Mt 5, 13-14) e consideramos as palavras de Jesus sobre o pleno
cumprimento que Ele veio dar à Lei de Moisés (cf. Mt 5, 17). No próximo domingo
veremos a impossibilidade de se servir, ao mesmo tempo, a Deus e às riquezas
(cf. Mt 6, 24) e, por fim, no 9 Domingo, Nosso Senhor nos alertará sobre o risco
de se construir a casa sobre a areia (cf. Mt 7, 24-27).
É no
Evangelho deste 7º Domingo do Tempo Comum, entretanto, que se encontra o cerne
de todo o Sermão da Montanha, o qual nos indica a via segura para atingirmos a
santidade. No que consiste ser santo? Em alcançar a ousada meta traçada pelo Divino
Mestre: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.
A AURORA DE UMA NOVA ERA NO RELACIONAMENTO
HUMANO
No
Paraíso Terrestre, Adão e Eva possuíam a graça santificante, as virtudes
infusas e os dons do Espírito Santo, com os quais participavam intrínseca e
formalmente da vida divina. Gozavam, ademais, de um equilíbrio interno perfeito
e não tinham apetência alguma desregrada, porque, em virtude do dom
preternatural de integridade, suas potências inferiores estavam submetidas à
razão, e esta a Deus. Ao pecar eles perderam — e com eles toda a humanidade —
esse feliz estado de justiça original.
O homem
passou a enfrentar, em consequência, uma tremenda luta interior provocada pela
inclinação para o mal. E uma das manifestações dessa desordem é o amor-próprio
exacerbado, com o decorrente desejo de vingança, de retaliação diante de
qualquer ofensa, como evidencia um antigo dito alemão: Schadenfreude ist die
beste Freude — A alegria por ver a desgraça alheia é a melhor das alegrias.
Como
veremos neste Evangelho, Nosso Senhor modificou completamente tal sistema cruel
e egoísta de encarar o relacionamento humano.
No Cristianismo, a vingança
pessoal fica banida
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 38 “Vós ouvistes o que foi
dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis
quem é malvado! Pelo contrário, se
alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!”
Já
tivemos ocasião de explicar como a lei de talião vigorava na Antiguidade. Podemos
encontrá-la no Código de Hamurabi — escrito por volta de 1750 a.C., na
Babilônia —, tendo sido, inclusive, incorporada ao Direito Romano. Vale
recordar vir o termo talião do latim talis, significando tal ou igual. Ou seja,
o revide deveria ser proporcionado à ofensa. Em certo sentido, compreende-se que
fossem estabelecidas normas como esta, por se tratar de povos rudes habituados
ao uso da força, entre os quais não era fácil fazer prevalecer o direito e a
justiça. Na realidade, a lei de talião, ao promulgar a equivalência do castigo
em relação ao crime cometido, moderou as vinganças desmesuradas tão frequentes
na época.
Também
a legislação mosaica a empregava, como lemos no Livro do Exodo: “urge dar vida
por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura
por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (21, 23-25). Se bem que, no
início, a aplicação desta lei competisse apenas à legítima autoridade, mais
tarde, com a decadência dos costumes, os particulares começaram a fazer justiça
pelas próprias mãos e segundo seu critério, praticando atrozes represálias
contra os adversários. E, pois, para premunir seus discípulos contra
sentimentos de rancor que Nosso Senhor afirma: “se alguém te dá um tapa na face
direita, oferece-lhe também a esquerda!”.
Ora,
ouvindo estas palavras, uma pergunta aflora ao espírito: como entender tal
preceito, uma vez que Ele mesmo agiu de outro modo ao ser esbofeteado por um soldado na casa de Anás? Em vez de oferecer a outra face, replicou: "Se falei mal, prova-o; mas se falei bem, por que Me bates?" ( Jo 18, 23)
O Redentor veio implantar uma mentalidade nova. Ele quer que o egoísmo seja eliminado de nosso interior, a ponto de não reagirmos por amor-próprio quando alguém nos ofender ou esbofetear injustamente, mas considerarmos, antes de tudo, o ultraje feito a Deus pela violação do seus Mandamentos.
Continua no próximo post.
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