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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

EVANGELHO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 2014 - Mt 5, 38-48

EVANGELHO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 2014 - Mt 5, 38-48
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Vós ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’  Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40 Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto!  41 Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42 Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.  Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! 1 Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos Céus, porque Ele faz nascer o Sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre os justos e injustos. 46 Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? ‘ E se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? 48 Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5, 38-48).
COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 
A IMPORTÂNCIA DO SERMÃO DA MONTANHA
No Evangelho se São Mateus o Sermão da Montanha ocupa três capítulos inteiros — do quinto ao sétimo —, e a Santa Igreja de tal forma valoriza esta pregação do Divino Mestre que lhe destinou seis domingos consecutivos do presente Ciclo Litúrgico, a fim de nos permitir considerá-la com maior profundidade e proveito espiritual. Assim, em domingos anteriores pudemos admirar a beleza das oito Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 1-11), recebemos o convite de sermos sal e luz para o mundo (cf. Mt 5, 13-14) e consideramos as palavras de Jesus sobre o pleno cumprimento que Ele veio dar à Lei de Moisés (cf. Mt 5, 17). No próximo domingo veremos a impossibilidade de se servir, ao mesmo tempo, a Deus e às riquezas (cf. Mt 6, 24) e, por fim, no 9 Domingo, Nosso Senhor nos alertará sobre o risco de se construir a casa sobre a areia (cf. Mt 7, 24-27).
É no Evangelho deste 7º Domingo do Tempo Comum, entretanto, que se encontra o cerne de todo o Sermão da Montanha, o qual nos indica a via segura para atingirmos a santidade. No que consiste ser santo? Em alcançar a ousada meta traçada pelo Divino Mestre: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito”.
A AURORA DE UMA NOVA ERA NO RELACIONAMENTO HUMANO
No Paraíso Terrestre, Adão e Eva possuíam a graça santificante, as virtudes infusas e os dons do Espírito Santo, com os quais participavam intrínseca e formalmente da vida divina. Gozavam, ademais, de um equilíbrio interno perfeito e não tinham apetência alguma desregrada, porque, em virtude do dom preternatural de integridade, suas potências inferiores estavam submetidas à razão, e esta a Deus. Ao pecar eles perderam — e com eles toda a humanidade — esse feliz estado de justiça original.
O homem passou a enfrentar, em consequência, uma tremenda luta interior provocada pela inclinação para o mal. E uma das manifestações dessa desordem é o amor-próprio exacerbado, com o decorrente desejo de vingança, de retaliação diante de qualquer ofensa, como evidencia um antigo dito alemão: Schadenfreude ist die beste Freude — A alegria por ver a desgraça alheia é a melhor das alegrias.
Como veremos neste Evangelho, Nosso Senhor modificou completamente tal sistema cruel e egoísta de encarar o relacionamento humano.
No Cristianismo, a vingança pessoal fica banida
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Vós ouvistes o que  foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado!  Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!”
Já tivemos ocasião de explicar como a lei de talião vigorava na Antiguidade. Podemos encontrá-la no Código de Hamurabi — escrito por volta de 1750 a.C., na Babilônia —, tendo sido, inclusive, incorporada ao Direito Romano. Vale recordar vir o termo talião do latim talis, significando tal ou igual. Ou seja, o revide deveria ser proporcionado à ofensa. Em certo sentido, compreende-se que fossem estabelecidas normas como esta, por se tratar de povos rudes habituados ao uso da força, entre os quais não era fácil fazer prevalecer o direito e a justiça. Na realidade, a lei de talião, ao promulgar a equivalência do castigo em relação ao crime cometido, moderou as vinganças desmesuradas tão frequentes na época.
Também a legislação mosaica a empregava, como lemos no Livro do Exodo: “urge dar vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (21, 23-25). Se bem que, no início, a aplicação desta lei competisse apenas à legítima autoridade, mais tarde, com a decadência dos costumes, os particulares começaram a fazer justiça pelas próprias mãos e segundo seu critério, praticando atrozes represálias contra os adversários. E, pois, para premunir seus discípulos contra sentimentos de rancor que Nosso Senhor afirma: “se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda!”.

Ora, ouvindo estas palavras, uma pergunta aflora ao espírito: como entender tal preceito, uma vez que Ele mesmo agiu de outro modo ao ser esbofeteado por um soldado na casa de Anás? Em vez de oferecer a outra face, replicou: "Se falei mal, prova-o; mas se falei bem, por que Me bates?" ( Jo 18, 23)
O Redentor veio implantar uma mentalidade nova. Ele quer que o egoísmo seja eliminado de nosso interior, a ponto de não reagirmos por amor-próprio quando alguém nos ofender ou esbofetear injustamente, mas considerarmos, antes de tudo, o ultraje feito a Deus pela violação do seus Mandamentos.
Continua no próximo post.

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