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terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Evangelho – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014 – Mt 5, 17-37

Continuação dos comentários ao Evangelho  6º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014

Uma concessão temporária em desacordo com a Lei Natural
31 Foi dito também: ‘Quem se divorciar de sua mulher, dê-lhe uma certidão de divórcio’. 32 Eu, porém, vos digo: Todo aquele que se divorcia de sua mulher, a não ser por motivo de união irregular, faz com que ela se torne adúltera; e quem se casa com a mulher divorciada comete adultério”.
 Moisés estabeleceu no Deuteronômio que “se um homem toma uma mulher e se casa com ela, e esta não lhe agrada, porque descobriu nela algo inconveniente, ele lhe escreverá um atestado de divórcio e assim despedirá a mulher” (Dt 24, 1). Ora, as interpretações laxistas dessa passagem bíblica deram margem a escandalosos abusos, a ponto de ser o divórcio, segundo o Cardeal Gomá, “um mal gravíssimo do povo judeu, no tempo de Jesus”.18
Com efeito, explica Fillion: “As palavras ‘algo inconveniente’, utilizadas pelo Deuteronômio, eram de si vagas. Mas tinham recebido de Hillel e dos de sua escola um interpretação escandalosa, que abria de par em par as portas para a paixão. Admitiam que a mulher, mesmo fidelíssima, podia ser despedida por qualquer motivo ou, digamos melhor, por qualquer frívolo pretexto: um prato mal preparado, a vista de uma mulher mais formosa — atreviam-se a dizer os rabinos — eram razão para o divórcio”.19
Acrescia-se a isto o fato de o divórcio não ser conforme à Lei Natural.20 Como mais adiante afirmará o próprio Nosso Senhor, tratava-se de uma concessão temporária feita por Moisés devido à dureza de coração dos hebreus, “mas não foi assim desde o princípio” (Mt 19, 8).
Comenta a este propósito São Cromácio de Aquileia: “Com razão, nosso Senhor e Salvador, eliminada aquela permissão, restaura agora os preceitos de sua antiga constituição. Ordena, pois, conservar como lei indissolúvel a união do matrimônio casto, mostrando que a lei conjugal estava instituída originariamente por Ele”.21
A fé elimina o mau costume de jurar
33 “Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não jurarás falso’, mas ‘cumprirás os teus juramentos feitos ao Senhor’. 34 Eu, porém, vos digo: Não jureis de modo algum: nem pelo céu, porque é o trono de Deus; 35 nem pela terra, porque é o suporte onde apoia os seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do Grande Rei. 36 Não jures tampouco pela tua cabeça, porque tu não podes tornar branco ou preto um só fio de cabelo”.
A Lei de Moisés, afirma o padre Tuya, “proibia expressamente o falso juramento, mas, ressalvado isso, a casuística rabínica fez um prodígio de subtilezas e distinções para justificar os juramentos”.22 No tempo de Jesus, o abuso de jurar a qualquer propósito alcançara um grau inacreditável, e isso O levou a condenar expressamente, neste Sermão da Montanha, todo tipo de juramento: “Não jureis de modo algum”. Os três versículos do sintético texto de São Mateus, acima transcritos, indicam bem a gravidade desse mal.
Ocorria que, levados pelo orgulho, julgaram os fariseus haver maior honra e mérito em “fazer todas as coisas por Deus, obrigando-se por juramento”; e do preceito “não tomarás o nome de Deus em vão” deduziram, por uma interpretação forçada: “logo, tomarás o nome de Deus sempre que seja como garantia de algo que não seja falso”.23
Entre os cristãos, pelo contrário, devem reinar a sinceridade e a confiança, fruto da retidão de almas habitualmente em estado de graça, conforme ensina Santo Hilário de Poitiers: “A fé elimina o costume de jurar. Fundamenta na verdade a atividade de nossa vida e, rechaçando a inclinação para mentir, prescreve a lealdade tanto no falar como no ouvir. [...] Portanto, quem vive na simplicidade da fé não precisa recorrer a juramentos”.24
“Aprendei a chamar de pecado o pecado”
37 “Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim’, e o vosso ‘não’: ‘Não’. Tudo o que for além disso vem do Maligno”.

Nossa vida deve ser um perpétuo “sim” a tudo quanto Cristo espera de nós, e um firme “não” às propostas e sugestões do demônio. A isso nos convida o Papa João Paulo II: “Aprendei a pensar, a falar e atuar segundo os princípios da simplicidade e da clareza evangélica: ‘Sim, sim; não, não’. Aprendei a chamar de branco ao branco, e preto ao preto – mal ao mal, e bem ao bem. Aprendei a chamar pecado ao pecado, e a não lhe chamar libertação e progresso, ainda que a moda e a propaganda fossem contrárias”.25
Conclusão no próximo post.

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