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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

EVANGELHO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 2014 - Mt 5, 38-48


CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO VII DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - 2014 - Mt 5, 38-48
Por este prisma, oferecer a outra face suporia induzir o agressor a cometer mais um pecado, em vez de conduzi-lo a cair em si. Ao interpelar seu algoz, na realidade Ele procurava o bem daquela pobre alma, dando-lhe oportunidade de reparar o seu erro. Embora o infeliz provavelmente não tivesse noção de ter esbofeteado o próprio Deus, nem por isso sua censurável brutalidade deixava de ser falta grave contra o bem e a justiça. Com sua resposta serena, Nosso Senhor tentava pôr a consciência do agressor em ordem.
Desapego dos bens materiais
40 “Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto!”
Naquele tempo era comum a posse de várias túnicas, mas só um ou dois mantos. Este último era reputado indispensável, o traje por excelência, mais valioso do que a própria túnica. Com efeito, vemos a preocupação de São Paulo em pedir a Timóteo, em uma de suas epístolas, a capa que havia deixado “em Trôade na casa de Carpo” (II Tim 4, 13). Segundo a Lei judaica, quem tomava o manto do próximo como penhor de empréstimo, não podia retê-lo até o dia seguinte e estava obrigado a devolvê-lo antes do pôr do Sol (cf. Ex 22, 26), porque faria muita falta ao proprietário. Assim, ao dizer que entreguemos “também o manto” a quem nos quiser tomar a túnica, Nosso Senhor nos recomenda o mais completo desapego dos bens terrenos e que nossas almas estejam livres de qualquer volúpia de posse.
Combate ao egoísmo
41 “Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele!”
Às vezes, os soldados romanos ou outros funcionários do governo requisitavam a ajuda de alguém para lhes servir de guia ou para outro trabalho, como aconteceu a Simão de Cirene, “que voltava do campo, e impuseram-lhe a Cruz para que a carregasse atrás de Jesus” (Le 23, 26). Naturalmente, quando um imprevisto semelhante ocorria, muitos se queixavam e até se recusavam a atender ao pedido. Para nos ensinar o valor da caridade, diz Nosso Senhor: “Caminha dois quilômetros com ele!”. Ou seja, desde que esteja a seu alcance, faça de bom grado até mais do que lhe for solicitado.
O valor da generosidade
42 “Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado”.
No Antigo Testamento encontramos vários elogios a quem empresta: “jamais vi o justo abandonado, nem seus filhos a mendigar o pão. Todos os dias empresta misericordiosamente, e abençoada é a sua posteridade” (Sl 36, 25-26); “Feliz o homem que se compadece e empresta” (Sl 111, 5). Jesus, ao lembrar aos seus ouvintes esta verdade, demonstra que, de fato, não veio para abolir a Lei e os profetas, mas para lhes dar pleno cumprimento (cf. Mt 5, 17).
Então, como deve ser interpretado este versículo? É preciso que nós cedamos sempre e demos tudo o que nos pedirem? Se este princípio fosse transformado em lei, a sociedade tornar-se-ia um caos em razão de incontáveis abusos. Não pode ser esta, portanto, a intenção de Nosso Senhor. Deseja Ele que nos esqueçamos de nós mesmos, preocupando-nos com as privações alheias, e que estejamos limpos de qualquer interesse e pragmatismo. Pelo contrário, o egoísta, aquele que vive fechado em si, jamais toma a iniciativa de auxiliar o necessitado, e se alguém lhe implora um favor, logo procura esquivar-se.
O preceito do amor universal
43 “Vós ouvistes o que foi dito: marás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!”
Quando, posto à prova, o Divino Redentor perguntou ao doutor da Lei o que nela estava escrito (cf. Lc 10, 25-26), este logo respondeu de maneira acertada, citando os Livros do Deuteronômio e do Levítico: ‘Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” (Dt 6, 5) e a “teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19, 18). Conheciam os judeus perfeitamente o preceito do amor universal, todavia consideravam como “próximos” apenas os seus compatriotas, enquanto os gentios e os pagãos eram tidos como inimigos, merecedores de desprezo e ódio.
Verdadeiro Legislador, Nosso Senhor Jesus Cristo vai retificar as interpretações falseadas da Lei de Moisés, que a alteravam e empobreciam, para dar nova plenitude aos Mandamentos e ensinamentos antigos. Como já tivemos ocasião de comentar,1 ao confrontar a expressão “Vós ouvistes...” com a afirmação “Eu vos digo...”, do versículo seguinte, Ele mostra quão vazia é, em contraposição ao Evangelho, a moral das exterioridades criada pelos fariseus. Falando em primeira pessoa, Ele realmente“ensinava como quem tinha autoridade e não como os escribas” (Mt 7, 29).
44 “Eu, porém vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!”
Segundo a Nova Lei, os discípulos d’Aquele que é “manso e humilde de coração” (Mt 11, 29) não deverão amar menos os que os aborrecem, perseguem e caluniam do que os que os estimam, exaltam e abençoam. Se queremos ser filhos de Deus, precisamos ter uma completa isenção de ânimo em relação aos inimigos e rezar por eles. A glória de Deus exige que procuremos fazer o possível para a conversão de todos, imitando o sublime exemplo de Jesus no alto da Cruz. Qual foi sua primeira palavra, pronunciada em relação aos que O crucificavam? “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Le 23, 34).
Por certo, não se deve ser indolente e permitir aos adversários da Igreja agirem livremente contra Ela, implantando a iniquidade na Terra. Se é obrigação amar os inimigos, é mister também odiar o pecado! Cumpre, pois, pedir a intervenção divina para fazer cessar o mal e empregar todos os meios — sempre conforme a Lei de Deus e a dos homens — para que este não prevaleça no mundo.
Continua no próximo post.

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