-->

quarta-feira, 12 de março de 2014

Evangelho 2º domingo da Quaresma - Mt 17, 1-9 - Ano A - Transfiguração

Comentário ao Evangelho – II domingo da Quaresma – Mt 17, 1-9 – Ano A – 2014
A refulgência esplendorosa da alma de Jesus
E transfigurou-Se diante deles. O Seu rosto ficou refulgente como o Sol, e as Suas vestes tornaram-se luminosas de brancas que estavam.
No que terá consistido essa transfiguração? Evidentemente, não viram os Apóstolos a divindade do Verbo de Deus, inacessível aos olhos corporais. Viam apenas uma fímbria dos fulgores da verdadeira glória da humanidade sagrada de Jesus. Provavelmente, nada mais do que o dom da claridade da qual gozam os corpos gloriosos.
Tenhamos presente o quanto o Salvador tinha preferência pela noite para rezar e por isso esse marcante acontecimento deve ter-se dado após o entardecer, em meio aos silêncios da natureza, pois também assim Ele Se manifesta a nós quando fazemos calar, em nosso interior, o bulício das criaturas e buscamos as luzes do alto depois de termos apagado as de aqui debaixo.
“O seu rosto resplandecia como um Sol” (Ap 1, 16), ou seja, raios de luz partiam de Sua Sagrada Face e se espalhavam a Se a fé dos Apóstolos necessitasse de boa distância. Sem deixar uma confirmação testemunhal, ali estavam dois máximos representantes da Lei e dos de ser a mesma fisionoProfetas adorando a Cristo Jesus mia, nada mais possuindo de conotações terrenas, tornou-se radiante de brilho e esplendor, com plena vitalidade e doçura. Bem podemos imaginar Sua grandeza ao vir julgar os vivos e os mortos no fim dos tempos, uma vez que Seu rosto será ainda muitíssimo mais brilhante nessa ocasião.
Por mais requintada que seja a arte humana, difícil lhe é superar certas belezas da natureza saídas das mãos de Deus. Acima dessas, estão as maravilhas da graça, as quais ultrapassam todos os limites. Assim deveriam ser as vestes de Jesus durante Sua Transfiguração, bem diferente, aliás, das usadas por nós nessas vias que terminam na morte. Essa refulgência das roupas de Jesus era pálida exteriorização da glória de Sua adorável alma, bem-aventurada pela graça de união e por encontrar-se na visão beatífica desde o primeiro instante de Sua criação.
Quanta ilusão causam às vezes, nossos alfaiates, costureiras e modistas, quando com certo sucesso, por suas habilidades, conseguem encobrir defeitos de um corpo concebido no pecado e por ele tisnado. Nestes casos, a roupa acaba por retificar as linhas tortas da natureza. Durante a Transfiguração tudo foi diferente; a pulcritude da alma de Jesus revestiu sua natureza humana perfeitíssima. Foi a glória interior que se explicitou ante o olhar de quem teve a felicidade de estar no Tabor naquele momento.
O poder sobre a morte e a vida
Eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com Ele.
Se a fé dos Apóstolos necessitasse de uma confirmação testemunhal, ali estavam dois máximos representantes — um da Lei e outro dos Profetas — adorando a Cristo Jesus. Intimamente ligados ao Messias, cumpriam de maneira soberana as exigências jurídicas para a autenticidade de um testemunho absoluto. Termina a Lei, cumprem-se as profecias. Toda a criação se prostre aos pés do Prometido das nações.
Esses dois grandes personagens aparecem na Transfiguração do Senhor, segundo nos assegura São João Crisóstomo, “para que se soubesse que Ele tinha poder sobre a morte e sobre a vida; por esta razão apresenta Moisés, que tinha morrido, e Elias, que ainda vivia”
Papel das consolações na vida
Pedro, tomando a palavra, disse a Jesus: “Senhor, que bom é nós estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas, uma para Ti, uma para Moisés, e outra para Elias.”
Pedro será confirmado em graça somente em Pentecostes; até lá, sua loquacidade lhe confere o mérito da manifestação de fé na divindade de Jesus (cf. Mt 16, 16; Mc 8, 29; Lc 9, 20), ou o demérito da promessa temerária de jamais romper sua fidelidade (cf. Mt 26, 33-35; Mc 14, 29; Lc 22, 33; Jo 13, 37), ou da negação na casa do Sumo Sacerdote (cf. Mt 26, 69-74; Mc 14, 66-72; Lc 22, 55-60; Jo 18, 25-27). No Tabor, penetrado de desmedida alegria, deseja perpetuar aquela felicidade. Pedro não estava ainda suficientemente instruído pelo Espírito Santo para saber o quanto a Terra não era o ambiente para o gozo permanente. Não tinha noção de quanto as consolações são auxílios passageiros concedidos por Deus para nos estimular em Seu serviço e a sofrer por Ele.
“Eu e o Pai somos um”
Estando ele ainda a falar, eis que uma nuvem resplandecente os envolveu; e saiu da nuvem uma voz que dizia: “Este é o Meu Filho muito amado em Quem pus toda a Minha complacência; ouvi-O”.
Nas Escrituras Sagradas, aparece algumas vezes esta ou aquela nuvem para simbolizar a presença de Deus e Sua teofania. Várias são as passagens do Êxodo em que elas são utilizadas como sinais sensíveis da manifestação divina: “a glória do Senhor apareceu no meio da nuvem” (Ex 16, 10); “e logo que Moisés entrava no tabernáculo da aliança, a coluna de nuvem descia [...] vendo todos que a coluna de nuvem se conservava parada à porta do tabernáculo” (Ex 33, 9-10); etc.
Não resta a menor dúvida de ser do Pai a voz que proclama: “Este é o meu Filho”. E de fato, analisando em profundidade, somente Cristo Jesus preenche todos os requisitos de Filho perfeito. Possui a mesma substância do Pai de maneira tão plenamente cabal que constitui uma só e mesma coisa com Este: “O Pai e eu somos a mesma coisa” (Jo 10, 30). É, portanto, igual ao Pai: “Filipe, quem me vê, vê também a meu Pai” (Jo 14, 9).
Em Suas duas naturezas, Ele é a Palavra que manifesta o Pai: é “o resplendor de sua glória e a figura de sua substância” (Hb 1, 3), enquanto Deus. Por outro lado, também o fez através de Sua humanidade: “Manifestei o Teu nome aos homens que Me deste do meio do Mundo” (Jo 17, 6); “glorifiquei-Te sobre a Terra; acabei a obra que Me deste a fazer” (Jo 17, 4). Além disso, foi de uma insuperável obediência: “Não se faça a Minha vontade, mas a Tua” (Lc 22, 42); “o meu alimento é fazer a vontade dAquele que Me enviou” (Jo 4, 34); “fez-Se obediente até a morte, e morte de cruz!” (Fl 2, 8). Sempre em inteira submissão, imitando-O em tudo: “O Filho não pode por Si mesmo fazer coisa alguma, mas somente o que vê fazer o Pai” (Jo 5, 19).
Se bem que sejamos verdadeiros filhos de Deus, como nos assegura o Salmista — “Eu disse: ‘Sois deuses, e todos filhos do Altíssimo’” (Sl 81, 6) —, nós o somos por misericordiosa adoção. O Filho de Deus por natureza é um só: “O Filho de Deus veio e nos deu entendimento e luz para conhecer ao verdadeiro Deus” (1 Jo 5, 20).
[...] “muito amado em Quem pus toda a minha complacência” [...]
Quando amamos algo, buscamos uma bondade que preexiste nesse algo, enquanto reflexo do próprio Deus. Nosso amor não é eficiente a ponto de produzir a bondade nos objetos por nós amados. Pelo contrário, o amor de Deus, segundo São Tomás de Aquino, é tão rico que introduz a bondade nos seres por Ele amados. Ele é a Bondade por essência e a difundiu por todas as Suas criaturas. Porém, aqui afirma o Pai ter colocado “toda” a Sua complacência em seu Unigênito, tal qual no-lo declara São João: “O Pai ama o Filho, e pôs todas as coisas na sua mão” (Jo 3, 35). Portanto, ao colocar nEle todo o Seu amor, pôs nEle, toda a Sua bondade.
[...] “ouvi-O”
Ali estava o próprio Moisés, que outrora dissera ao povo eleito: “O Senhor teu Deus te suscitará um Profeta, como eu, de tua nação, e dentre teus irmãos; ouvi-lo-ás” (Dt 18,15). A ele, mais tarde, se associaria a voz de um outro mestre: Elias.

Os mestres do Antigo Testamento eram autênticos enquanto procuravam anunciar o Messias vindouro ou Sua doutrina. O mesmo se deve afirmar a respeito de todos os que vieram depois de Cristo: serão eles verdadeiros mestres na medida em que aprenderem e transmitirem a doutrina do Divino Mestre, tal qual Ele mesmo afirmou: “Um só é o vosso Mestre” (Mt 23, 8). Ele não ensina como um professor comum que busca ilustrar seus alunos por meio de puros raciocínios, Ele se baseia em Seu conhecimento, por ser a Sabedoria infinita, e em Sua autoridade de Filho de Deus, e por isso exige nossa fé. Sua vida nos proporcionou, a cada passo, motivos suficientes para nEle crermos. É um dever de nossa parte crer em Sua Palavra, imitar Seus exemplos, praticar sua lei, etc.; nisto consiste a obediência à ordem do Pai: “... ouvi-O”.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST

Nenhum comentário: