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segunda-feira, 21 de abril de 2014

EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA – ANO A – Jo 20, 19-31

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA – ANO A – Jo 20, 19-31

9 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo -Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.
20 Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se a alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também vos envio”. 22 E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
24 Tomé, chamado Dídimo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos contaram-lhe depois: “Vimos o Senhor!” Mas Tomé disse-lhes: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.
26 Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-Se no meio deles e disse: “A paz esteja convosco”.
27 Depois disse a Tomé: “Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel”. 28 Tomé respondeu “Meu Senhor e meu Deus!” 29 Jesus lhe disse: “Acreditaste, por que Me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!”
30 Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31 Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20, 19-31).

A bem-aventurança de crer no testemunho da Igreja
São Tomé não acreditou em São Pedro e nos demais Apóstolos quando lhe anunciaram a Ressurreição do Senhor. Nós somos convidados a adquirir a bem-aventurança, crendo no que a Igreja nos ensina.
A PRIMEIRA APARIÇÃO DE JESUS AO COLÉGIO APOSTÓLICO
Nosso Senhor Jesus Cristo, se quisesse, poderia ter ascendido aos Céus imediatamente após a Ressurreição. Entretanto, tal é o seu empenho em nos salvar que quis permanecer ainda quarenta dias na Terra, manifestando-Se em várias ocasiões a numerosas testemunhas, para deixar patente sua vitória sobre a morte e demonstrar ser Ele a garantia de nossa ressurreição. Com efeito, todos nós abandonaremos esta vida — uns antes, outros depois —, mas a Fé nos dá a certeza de que, se morrermos na graça de Deus, um dia nos congregaremos no Vale de Josafá (cf. Jl 4, 2), à direita do Supremo Juiz, e, tendo retomado nossos corpos em estado glorioso, subiremos “ao encontro do Senhor nos ares” (I Ts 4, 17), para com Ele habitarmos no Paraíso Celeste, O penhor dessa realidade futura está presente de modo especial no Evangelho proposto pela Igreja para este domingo de encerramento da Oitava da Páscoa.
Um fator providencial: o medo
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou...
O Evangelho se abre com um episódio ocorrido no próprio dia da Ressurreição. Desde a aurora haviam se sucedido umas às outras as notícias sobre as aparições do Senhor e, embora os Apóstolos não lhes tivessem dado crédito, São Pedro e São João haviam constatado estar vazio o sepulcro (cf. Jo 20, 3-8). Ao cair da tarde, ainda os encontramos reunidos no Cenáculo. Temerosos de que os judeus viessem à sua procura e os levassem para a prisão, fecharam bem todas as portas do local. Não obstante, enquanto conversavam — talvez em voz baixa, receosos das ameaças que sobre eles pairavam —, de repente, “Jesus entrou”.
Ora, tudo o que se relaciona com Nosso Senhor tem um profundo sentido. Neste caso, o medo que se apoderou dos Apóstolos foi útil, e até providencial, para lhes oferecer uma prova irrefutável da Ressurreição de Jesus em Corpo glorioso, pois se a casa estivesse aberta eles imaginariam que o Mestre havia entrado pelas vias normais. De fato, esse ato de transpor barreiras físicas decorre de uma das propriedades dos corpos gloriosos, a sutileza, pela qual os Bem-aventurados são capazes de atravessar outros corpos sempre que o queiram.1
Isto se explica porque o corpo é o espelho da alma ou, em termos mais exatos, a alma é a forma do corpo.2 Um líquido, ao ser vertido em um recipiente, toma o formato deste. E, erroneamente, julga-se que a alma é uma espécie de fluido contido numa “taça” chamada corpo, quando na realidade é o contrário: o corpo faz o papel de líquido dentro da “taça”, que é a alma. Assim como o vinho guardado num magnífico tonel de carvalho vai adquirindo algumas de suas qualidades, também o corpo estando na alma recebe as características dela. Por tal razão, se a alma contempla a Deus face a face, ao unir-se novamente ao corpo lhe comunica sua glória, e o corpo se torna espiritual (cf. J Cor 15, 42-44), ou seja, passa a gozar dos privilégios do espírito.3
Não é difícil, pois, entender porque houve entre os Apóstolos um clima de susto, temor e, ao mesmo tempo, surpresa, quando Nosso Senhor penetrou no Cenáculo, a ponto de São Lucas afirmar que eles pensaram estar vendo um fantasma (cf. Lc 24, 37). Mas Jesus vai apaziguá-los.
Para conviver com Jesus é preciso estar em paz
19b ...e, pondo-Se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”.
Em Nosso Senhor tudo tem peso, conta e medida. Não devemos, portanto, compreender tais palavras como sendo uma mera saudação. Qual é o seu significado mais transcendente? Os Apóstolos, enquanto criaturas concebidas no pecado original, tinham más inclinações, tentações e problemas, e é bem provável que não desfrutassem naquele momento da paz de alma própria àqueles cuja consciência está em ordem, livre de escrúpulos ou perturbações. Sem dúvida, o demônio os agitava, especialmente a propósito da entrada de Jesus, incutindo-lhes receio e inquietação sobre sua situação espiritual. Pois, quem pode ter certeza absoluta de que se encontra em estado de graça? Ninguém! E para que aproveitassem ao máximo aquele convívio, o Divino Mestre fez sobre eles uma espécie de exorcismo ao lhes desejar a paz, introduzindo o equilíbrio na alma de cada um e serenando as paixões.

Esta passagem traz um aviso, um conselho e um convite para nós: sempre que procuramos a companhia de Jesus — seja no Santíssimo Sacramento, seja numa cerimônia litúrgica, seja em qualquer circunstância em que elevemos nossa alma até Ele — devemos estar em paz, pois só assim nos beneficiaremos inteiramente de sua presença. Isto é, precisamos aquietar as paixões, eliminar os apegos e as aflições com as coisas concretas e colocarmo-nos em atitude contemplativa. E esta uma das grandes lições da Ressurreição, como aponta São Leão Magno: “Não nos deixemos dominar pelas coisas temporais, que não são senão aparência, e que os bens terrenos não desviem a nossa contemplação dos celestes. Consideremos como ultrapassado o que já quase não existe, e que nosso espírito, preso ao que deve permanecer, fixe seu desejo onde o que se lhe oferece é eterno”.4
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