CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO - VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA - Mt 28, 1-10 - Ano A
III – ATÉ O FIM DOS TEMPOS!
Após a Celebração da Luz — a
Lucernarium — e a Liturgia da Palavra, a Vigília Pascal prossegue com a
Liturgia Batismal e, por fim, com a Liturgia Eucarística.
Evocar o Batismo nesta
cerimônia é muito apropriado, porque pelos méritos da Ressurreição de Jesus
este Sacramento nos livra de um sepulcro: o do pecado e da morte. Todos
morremos, somos conduzidos ao seio da terra, o corpo entra em decomposição e
passa-se, então, o que descreve Jó: “por detrás de minha pele, que envolverá
isso, na minha própria carne, verei Deus. Eu mesmo O contemplarei, meus olhos O
verão, e não os olhos de outro” (Jó 19, 26-27). Uma vez que somos batizados,
devemos caminhar com paz de alma para os umbrais da eternidade, pois, como
ensina São Paulo, se “morremos com Cristo, cremos que também viveremos com Ele”
(Rm 6, 8). No dia em que Deus nos chamar de volta à vida, se tivermos morrido
em estado de graça o corpo será recomposto e refulgirá com um brilho que jamais
alcançaria sem a Ressurreição de Nosso Senhor. Ele ressurgiu dos mortos, entre
outras razões, para comprar a nossa ressurreição, “pois do mesmo modo que sua
Paixão foi símbolo de nossa antiga vida, sua Ressurreição encerra o mistério da
vida nova”.8
Tal como Jesus apareceu às
Santas Mulheres, também aparece a nós, pois, apesar de ter subido aos Céus há
quase dois mil anos, vem a cada dia estar com os homens. As mulheres tiveram o
privilégio de ver diretamente o Homem-Deus, mas essa constatação lhes diminuiu
o valor sobrenatural da fé, já que esta “é uma certeza a respeito do que não se
vê” (Hb 11, 1). Para que pudéssemos adquirir mais mérito na prática dessa
virtude, Ele Se faz presente entre nós sob a aparência de pão e de vinho. Após
as palavras da Consagração, olhamos e, num primeiro relance, diríamos que nada
aconteceu, mas a fé nos assegura que se passou algo inefável: as espécies se
transubstanciaram em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus
Cristo. O mesmo Redentor que Se manifestou às mulheres no dia da Ressurreição
encontra-Se também no altar, e é Ele que comungamos. Embora elas tenham
abraçado e osculado seus pés, não lhes foi dada a graça de recebê-Lo em seu
interior naquele momento.
Para avaliarmos melhor a
grandeza dessa realidade, lembremo-nos de que a Eucaristia é o Sacramento por
excelência, que contém o próprio Autor de todos os outros. Conforme ressalta o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, “nossa alma não pode deixar de transbordar de
reconhecimento, de enlevo e de gratidão por aquilo que Nosso Senhor operou na
Santa Ceia. Somente uma inteligência divina poderia excogitar a Sagrada
Eucaristia e imaginar esse Sacramento Santíssimo como um meio de Jesus
permanecer presente neste mundo, depois de sua gloriosa Ascensão. Mais ainda:
de estabelecer um convívio íntimo e inexcedível, todos os dias, com todos os
homens que O queiram receber nos seus corações. Sim, só mesmo Deus poderia
realizar esse mistério tão maravilhoso, essa obra de misericórdia prodigiosa
para com suas humanas criaturas”.9
Saibamos gozar de tão imenso
benefício nesta vida, para nos tornarmos partícipes da Ressurreição triunfante
de Cristo, segundo sua promessa: “Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem
comer deste pão viverá eternamente” (Jo 6, 51).
1 SÃO JERÔNIMO. In die Dominica Paschæ.
In: Obras Completas. Obras Homiléticas. 2.ed. Madrid: BAC, 2012, v.I, p.989.
2 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCXIX. In
Vigiliis Paschæ I. In: Obras. 2.ed. Madrid: BAC, 2005, v.XXIV, p.307.
3 VIGÍLIA PASCAL. Oração depois da
primeira leitura. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2a. edição típica para
o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé
Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.279.
4 DUQUESNE. L’Évangile médité. Paris:
Victor Lecoffre, 1904, v.IV, p.386.
5 SÃO JERÔNIMO. Comentario a Mateo. L.IV
(22,41-28,20), c.28, n.63. In: Obras Completas. Comentario a
Mateo y otros escritos. Madrid: BAC, 2002, v.II, p.415; 417.
6 Cf. SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía LXXXIX,
n.2. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (46-90). 2.ed.
Madrid: BAC, 2007, v.II, p.714-715.
7 Cf. FERNÁNDEZ
TRUYOLS, SJ, Andrés. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1954,
p.710-711; TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, v.V,
1964, p.602; GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Pasión y Muerte.
Resurrección y vida gloriosa de Jesús. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930,
v.IV, p.446; LAGRANGE, OP, Marie-Joseph. Évangile selon Saint Matthieu. 4.ed. Paris: J. Gabalda, 1927, p.541.
8 SANTO AGOSTINHO. Sermo CCXXIX E, n.3. In:
Obras, op. cit., p.402.
10 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Nos passos
da Paixão. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano VI. N.61 (Abr., 2003); p.2.
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