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domingo, 25 de maio de 2014

SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO SENHOR - Ano A - Mt 28, 16- 20

Confusão entre a primeira e a segunda vinda do Messias
2ob “Eis que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo”.
Jesus em breve partiria para junto do Pai. Antes, porém, faz a promessa de permanecer com os homens até a consumação dos tempos. São João Crisóstomo ressalta que Ele aqui Se refere a todos os membros da Igreja, pois “não disse que estaria somente com eles, mas também com todos os que creriam depois deles. [...] 0 Senhor fala com seus fiéis como a um só Corpo”.5
Além disso, comenta ainda o Santo que Ele chama a atenção dos discípulos para “o fim do mundo, a firn de atraí-los mais e para que não olhem apenas para as dificuldades presentes, senão também para os bens vindouros, que não têm termo”.6
Os Apóstolos, evidentemente, não podiam acompanhá-Lo na Ascensão, pois, quem tem forças para subir ao Céu, “senão aquele que desceu do Céu” (Jo 3, 13)? Entretanto, quando Ele desapareceu envolto em uma nuvem, aproximaram-se dois Anjos vestidos de branco e perguntaram: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o Céu? Esse Jesus que vos foi levado para o Céu virá do mesmo modo como o vistes partir para o Céu” (At 1, 11).
As palavras dos mensageiros celestes são muito expressivas, pois vinham confirmar as promessas de Jesus, abrindo a compreensão dos Onze para começarem a entender que a glória e o aparato desejado para o Messias, e para a instauração do Reino de Deus na Terra, não correspondiam aos planos divinos naquela circunstância, e estavam reservados para o seu regresso. Na realidade, eles confundiam a segunda vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo com a primeira, julgando que esta deveria ser pomposa, tonitruante, cheia de magnificência, brilho e esplendor. Não obstante, Ele nasce numa Gruta, abraça a pobreza a ponto de não ter onde repousar a cabeça (cf. Mt 8, 20), e até os milagres que opera têm um caráter muito sereno, sem grandes ribombos, pois Ele não queria chamar demasiada atenção e até proibia, às vezes, que se fizesse propaganda deles (cf. Mt 12, 15-16; Mc 1, 43-44). Só na segunda vinda — em que “virá do mesmo modo como o vistes partir para o Céu” — Se manifestará com imponência e majestade.
Com efeito, então o Rei dos reis descerá seguido pelo cortejo dos exércitos celestes, montados em cavalos brancos e vestidos de linho de brancura resplandecente (cf. Ap 19, 14). 0 Doutor Angélico defende a tese de que, antes de chegar à Terra, a meia altura, o Salvador será recebido por uma plêiade de cojuízes que irão a seu encontro, como costumam fazer as autoridades de um lugar quando acolhem outra de maior dignidade. São eles varões perfeitos, escolhidos para julgar a humanidade junto com Ele, pois “neles estão contidos os decretos da divina justiça”.7 Só depois, em meio a uma apoteose, será dado início ao Juízo Final, que separará o trigo do joio (cf. Mt 13, 30), os da direita dos da esquerda (cf. Mt 25, 33), e se concluirá com a subida dos bons para o Céu, na companhia do Filho de Deus, enquanto os maus serão precipitados nas trevas.
III - A ASCENSÃO DO SENHOR, PENHOR DA NOSSA
Aquele que hoje Se eleva aos Céus é o mesmo que foi humilhado, açoitado, coroado de espinhos, crucificado entre dois ladrões e depositado num sepulcro. Seu Corpo estava chagado da cabeça aos pés, tal como a respeito d’Ele profetizara o salmista: “sou um verme, não sou homem, [...] poderia contar todos os meus ossos” (Sl 21, 7.18); mas, antes de sua carne começar a sofrer a corrupção (cf. Sl 15, 10), ressuscitou-Se a Si próprio com seu poder divino,8 passou quarenta dias na Terra e voltou para o Pai.
São Tomás se pergunta que força O teria feito subir, e explica que, sendo Ele a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, nesse instante exerceu sua onipotência, pelo que a causa primeira foi sua virtude divina. Baseando-se também em Santo Agostinho, acrescenta que, no momento da Ressurreição, a glória da Alma de Cristo redundou na glorificação do Corpo, com seus atributos próprios, dentre os quais a agilidade, que confere a capacidade de se movimentar segundo o pensamento e o desejo, de maneira que onde está o espírito, lá esteja também o corpo. Ora, não convinha que Ele permanecesse na Terra, uma vez que ela é um local de decomposição, e era preciso que seu Corpo imortal estivesse no lugar apropriado, isto é, o Céu Empíreo. Assim, conclui o Santo Doutor, a segunda causa de sua Ascensão, foi “pelo poder da Alma glorificada que movia o Corpo como queria”.9
Uma promessa feita a toda a humanidade
Nosso Senhor Jesus Cristo alçou-Se por seu próprio poder, e teve a delicadeza de deslocar-Se lentamente, ascendendo não à velocidade do pensamento, mas conforme a admiração dos que presenciavam o milagre. Foi-Se distanciando com calma, sorrindo e abençoando, até Se tornar um ponto cada vez menor e desaparecer. A vista da exaltação do Mestre, todos os circunstantes transbordaram de alegria e “voltaram para Jerusalém com grande júbilo” (Lc 24, 52).
Também para nós a Ascensão é motivo de gozo, de esperança e de fé. Por quê? Usemos de um exemplo para facilitar a compreensão deste mistério e sua implicação na espiritualidade dos fiéis. Seria impossível, e até monstruoso, imaginar que no dia de Páscoa só a Cabeça do Redentor voltasse à vida, enquanto seu Corpo sagrado jazesse chagado no túmulo. Ressuscitando a Cabeça, também todo o Corpo tinha de o fazer! Pois bem, a Igreja é o Corpo Místico de Cristo; e Ele, ressuscitando como Cabeça da Igreja, dá aos batizados o penhor da ressurreição, pois “cada um, de sua parte, é um dos seus membros” (I Cor 12, 27). O mesmo se pode dizer da Ascensão: subindo aos Céus em Corpo e Alma, o Redentor concede a garantia de nos conduzir à eternidade da mesma forma, pois “Ele é nossa Cabeça, mister se faz que os membros vão para onde ela se dirigiu”.’0 A este respeito comenta São João Crisóstomo: “Observe-se que o Senhor nos faz ver suas promessas. Havia prometido ressuscitar os corpos; ressuscitou-Se a Si mesmo dos mortos e confirmou seus discípulos nesta fé, durante quarenta dias. Prometeu que seremos arrebatados ao Céu, e também o provou por meio das obras”.11

Quando o Filho de Deus assumiu nossa carne, quis Ele viver entre nós para dar o exemplo da plenitude e da perfeição em todas as virtudes, atos e gestos que devemos praticar, inclusive na nossa futura partida para o Céu, como esperamos. A Ascensão do Senhor é, pois, para nós, um ponto de imitação. Como será, então, a nossa?
Continua no próximo post

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