Continuação dos comentários ao Evangelho – Mt 13, 1-23 – XV Domingo do Tempo Comum –Ano A
Os diferentes terrenos
3 “E disse-lhes muitas coisas em parábolas: ‘O semeador,
saiu para semear. 4 Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do
caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5 Outras sementes caíram em terreno
pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a
terra não era profunda. 6 Mas, quando o Sol apareceu, as plantas ficaram
queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outras sementes caíram no meio
dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8 Outras sementes,
porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta
frutos por semente. 9 Quem tem ouvidos, ouça’”.
Para atrair a atenção
dos presentes, Jesus utiliza uma imagem acessível àquela sociedade dedicada à
agricultura e ao pastoreio: a do lavrador que saiu para semear. Diferente de
hoje, em que as sementes são espalhadas de forma automática por meio de
máquinas em enormes plantações, naquela época tudo era feito à mão: o
agricultor levava um saco de sementes e as lançava pelo terreno.
Na sugestiva
parábola, algumas delas caem pelo caminho, outras em terreno pedregoso, ou
ainda entre espinhos, figurando as diversas maneiras de se receber a pregação
da palavra divina, como adiante o Senhor explicará aos seus mais próximos.
A necessária abertura em relação à palavra semeada
10 “Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: ‘Por
que falas ao povo em parábolas?’. 11 Jesus respondeu: ‘Porque a vós foi dado o
conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não foi dado. 12 Pois
à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que
não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que Eu lhes falo em
parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, não escutam, nem
compreendem. 14 Desse modo, se cumpre neles a profecia de Isaías: Havereis de
ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15 Porque o coração
deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus
olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com
o coração, de modo que se convertam e Eu os cure’”.
A respeito dessa
indagação dos discípulos sobre o modo de o Senhor proceder em suas pregações,
muito esclarecedor é o comentário do Doutor Angélico: “Cristo ensinou algumas
coisas ocultamente, servindo-se de parábolas para falar de mistérios
espirituais, porque os ouvintes ou não eram capazes ou não eram dignos de os
entender. Ainda assim, era melhor para eles ouvir a doutrina espiritual sob o
manto das parábolas do que serem dela inteiramente privados. Mas aos discípulos
o Senhor expunha aberta e claramente a verdade das parábolas a fim de que, por
eles, chegasse aos que fossem capazes”.5
Nosso Senhor faz
referência à má vontade dos ouvintes cujos corações se tornaram insensíveis, e
adverte: quem não corresponde às graças ou o faz de forma incompleta pode até
perder aquilo que tem, por não mais ser digno dos favores do Céu, como seria,
por exemplo, naquele momento a explicação desta parábola. Pelo contrário, quem
é humilde, diligente e fervoroso recebe renovadas graças para aumentar sua
compreensão e com isso poder amar ainda mais. Em consequência, atrairá dons
sobrenaturais cada vez maiores, num processo ascensional da vida espiritual.
Portanto, quem não
exercita sua fé, seu amor a Deus e seu conhecimento das coisas divinas, ou
seja, quem não avança rumo à perfeição, acaba perdendo até aquele pouco que lhe
resta!
E o Divino Mestre faz
referência ao trecho de Isaías do qual se deduz a necessidade de ver, ouvir e
entender “com o coração”. Ou seja, não basta compreender racionalmente: é
preciso, sobretudo, amar.
A bem-aventurança de conviver com Jesus
16 “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem, e vossos
ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o
que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.
Nosso Senhor declara
bem-aventurados os Apóstolos, pelo fato de terem recebido uma graça que aos
patriarcas, aos profetas e aos justos da Antiga Lei não foi concedida: a de ver
e ouvir o Salvador.
Devido a sucessivas
infidelidades à sua vocação, o povo eleito acabou criando ao longo dos séculos
uma série de doutrinas e interpretações completamente equivocadas a respeito do
reino do Messias, segundo as quais a Redenção prometida por Deus se efetuaria
pelo estabelecimento da tão almejada supremacia de Israel sobre os demais povos
da região. Levados por essa visualização errônea, inúmeros judeus tiveram
oportunidade de ver e ouvir Jesus, mas “ouviram com má vontade e fecharam seus
olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com
o coração”.
Aos Apóstolos,
contudo, o próprio Messias concedeu a inestimável ventura de explicar-lhes
amorosamente tudo a respeito do Reino, como no caso da parábola do semeador.
Por essa razão, São Jerônimo congratula-se com eles nestes termos: “Abraão viu
em enigma, em aparências, vós porém tendes vosso Senhor, O interrogais à
vontade, e comeis em sua companhia”.6
O perigo do endurecimento de coração: uma fé fraca
18 “Ouvi, portanto, a parábola do semeador: 19 Todo
aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o
que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho”.
Continua no próximo post
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