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terça-feira, 8 de julho de 2014

Comentário ao Evangelho – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Continuação dos comentários ao Evangelho – Mt 13, 1-23 – XV Domingo do Tempo Comum –Ano A
Os diferentes terrenos
3 “E disse-lhes muitas coisas em parábolas: ‘O semeador, saiu para semear. 4 Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5 Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. 6 Mas, quando o Sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8 Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. 9 Quem tem ouvidos, ouça’”.
Para atrair a atenção dos presentes, Jesus utiliza uma imagem acessível àquela sociedade dedicada à agricultura e ao pastoreio: a do lavrador que saiu para semear. Diferente de hoje, em que as sementes são espalhadas de forma automática por meio de máquinas em enormes plantações, naquela época tudo era feito à mão: o agricultor levava um saco de sementes e as lançava pelo terreno.
Na sugestiva parábola, algumas delas caem pelo caminho, outras em terreno pedregoso, ou ainda entre espinhos, figurando as diversas maneiras de se receber a pregação da palavra divina, como adiante o Senhor explicará aos seus mais próximos.
A necessária abertura em relação à palavra semeada
10 “Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: ‘Por que falas ao povo em parábolas?’. 11 Jesus respondeu: ‘Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não foi dado. 12 Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que Eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, não escutam, nem compreendem. 14 Desse modo, se cumpre neles a profecia de Isaías: Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15 Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e Eu os cure’”.
A respeito dessa indagação dos discípulos sobre o modo de o Senhor proceder em suas pregações, muito esclarecedor é o comentário do Doutor Angélico: “Cristo ensinou algumas coisas ocultamente, servindo-se de parábolas para falar de mistérios espirituais, porque os ouvintes ou não eram capazes ou não eram dignos de os entender. Ainda assim, era melhor para eles ouvir a doutrina espiritual sob o manto das parábolas do que serem dela inteiramente privados. Mas aos discípulos o Senhor expunha aberta e claramente a verdade das parábolas a fim de que, por eles, chegasse aos que fossem capazes”.5
Nosso Senhor faz referência à má vontade dos ouvintes cujos corações se tornaram insensíveis, e adverte: quem não corresponde às graças ou o faz de forma incompleta pode até perder aquilo que tem, por não mais ser digno dos favores do Céu, como seria, por exemplo, naquele momento a explicação desta parábola. Pelo contrário, quem é humilde, diligente e fervoroso recebe renovadas graças para aumentar sua compreensão e com isso poder amar ainda mais. Em consequência, atrairá dons sobrenaturais cada vez maiores, num processo ascensional da vida espiritual.
Portanto, quem não exercita sua fé, seu amor a Deus e seu conhecimento das coisas divinas, ou seja, quem não avança rumo à perfeição, acaba perdendo até aquele pouco que lhe resta!
E o Divino Mestre faz referência ao trecho de Isaías do qual se deduz a necessidade de ver, ouvir e entender “com o coração”. Ou seja, não basta compreender racionalmente: é preciso, sobretudo, amar.
A bem-aventurança de conviver com Jesus
16 “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem, e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.
Nosso Senhor declara bem-aventurados os Apóstolos, pelo fato de terem recebido uma graça que aos patriarcas, aos profetas e aos justos da Antiga Lei não foi concedida: a de ver e ouvir o Salvador.
Devido a sucessivas infidelidades à sua vocação, o povo eleito acabou criando ao longo dos séculos uma série de doutrinas e interpretações completamente equivocadas a respeito do reino do Messias, segundo as quais a Redenção prometida por Deus se efetuaria pelo estabelecimento da tão almejada supremacia de Israel sobre os demais povos da região. Levados por essa visualização errônea, inúmeros judeus tiveram oportunidade de ver e ouvir Jesus, mas “ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração”.
Aos Apóstolos, contudo, o próprio Messias concedeu a inestimável ventura de explicar-lhes amorosamente tudo a respeito do Reino, como no caso da parábola do semeador. Por essa razão, São Jerônimo congratula-se com eles nestes termos: “Abraão viu em enigma, em aparências, vós porém tendes vosso Senhor, O interrogais à vontade, e comeis em sua companhia”.6
O perigo do endurecimento de coração: uma fé fraca

18 “Ouvi, portanto, a parábola do semeador: 19 Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho”.
Continua no próximo post

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