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domingo, 6 de julho de 2014

Comentário ao Evangelho – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A

A palavra de Jesus é viva e eficaz
A todo propósito, Deus lança abundantemente em nossas almas a semente de sua palavra. Compete a nós fazê-la frutificar para a maior glória do Criador.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP

Comentário ao Evangelho – Mt 13, 1-23 – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A
“Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se às margens do mar da Galileia. 2 Uma grande multidão reuniu-se em volta d’Ele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-Se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia.
3 E disse-lhes muitas coisas em parábolas: ‘O semeador, saiu para semear. 4 Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram. 5 Outras sementes caíram em terreno pedregoso, onde não havia muita terra. As sementes logo brotaram, porque a terra não era profunda. 6 Mas, quando o Sol apareceu, as plantas ficaram queimadas e secaram, porque não tinham raiz. 7 Outras sementes caíram no meio dos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram as plantas. 8 Outras sementes, porém, caíram em terra boa, e produziram à base de cem, de sessenta e de trinta frutos por semente. 9 Quem tem ouvidos, ouça’.
10 Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: ‘Por que falas ao povo em parábolas?’. 11 Jesus respondeu: ‘Porque a vós foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos Céus, mas a eles não foi dado. 12 Pois à pessoa que tem, será dado ainda mais, e terá em abundância; mas à pessoa que não tem, será tirado até o pouco que tem. 13 É por isso que Eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, não escutam, nem compreendem. 14 Desse modo, se cumpre neles a profecia de Isaías: ‘Havereis de ouvir, sem nada entender. Havereis de olhar, sem nada ver. 15 Porque o coração deste povo se tornou insensível. Eles ouviram com má vontade e fecharam seus olhos, para não ver com os olhos, nem ouvir com os ouvidos, nem compreender com o coração, de modo que se convertam e Eu os cure’. 16 Felizes sois vós, porque vossos olhos veem, e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram.
18 Ouvi, portanto, a parábola do semeador: 19 Todo aquele que ouve a palavra do Reino e não a compreende, vem o Maligno e rouba o que foi semeado em seu coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. 20 A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a palavra e logo a recebe com alegria; 21 mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da palavra, ele desiste logo. 22 A semente que caiu no meio dos espinhos é aquele que ouve a palavra, mas as preocupações do mundo e a ilusão da riqueza sufocam a palavra, e ele não dá fruto. 23 A semente que caiu em terra boa é aquele que ouve a palavra e a compreende. Esse produz fruto. Um dá cem, outro sessenta e outro trinta’” (Mt 13, 1-23).
I – O poder da palavra
Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo o Homem-Deus, em sua vida terrena realizou todas as ações com perfeição suprema e absoluta. Assim foi, por exemplo, a fundação de sua Igreja expandindo-se esta logo nos primeiros anos de evangelização com uma vitalidade acima de toda expectativa, apesar de todos os obstáculos.
O homem de hoje acostumado com as modernas técnicas de comunicação, muitas vezes se surpreende ao verificar que o Divino Mestre nada deixou escrito em seus 33 anos de vida terrena. Pregou incontáveis vezes, operou inumeráveis e espetaculares milagres, até ressurreições, mas de nenhum escrito de Jesus dão notícia os Evangelhos, com exceção das palavras grafadas sobre a areia no episódio da mulher adúltera (cf. Jo 8, 3-11).
Qual será a razão sapiencial desse proceder divino?
Na realidade, se Ele nada deixou gravado em tábuas ou pergaminhos que pudessem ser conservados pelos séculos, comunicou-Se, no entanto, de modo maravilhoso com os homens pela palavra falada. Por meio dela reuniu os seus primeiros discípulos, e do mesmo modo também deveriam estes iniciar a evangelização do mundo. Nesse sentido, chama a atenção o fato dos Apóstolos, para atestar a veracidade do que pregavam, apresentarem apenas a sua palavra e o seu testemunho. E isso bastava! Incontáveis pessoas se convertiam, mudavam de vida e muitas suportaram depois o martírio.
Apenas mais tarde seriam escritos os Evangelhos, as Epístolas, os Atos dos Apóstolos e depois, ao longo dos séculos, todo o acervo doutrinário elaborado paulatinamente pelos Padres, Doutores da Igreja e Papas.
A palavra humana é um dom precioso de Deus
A força da palavra de Deus nos é evocada pela liturgia de hoje na parábola do semeador, imagem do apóstolo: como aquele espalha a semente, deve este ser o arauto da Palavra, cuja vitalidade é figurada pela semente que germina.
Ela é, sob diversos aspectos, como uma arma de dois gumes, segundo afirma São Paulo e comenta São Tomás: “Compara-se a palavra de Deus à espada de dois gumes porque ela os tem afiados tanto para operar como para conhecer. Ou diz-se de dois gumes relativamente à operação, porque ela os tem para promover o bem e destruir o mal”.1
A palavra humana é, pois, um precioso dom de Deus que deve estar sempre a serviço de Cristo Jesus, a Palavra por excelência que nos abre as portas do infinito e nos mostra a vida de Deus.
A palavra de Deus é eficaz
Obedecendo a uma divina pedagogia, Deus foi Se comunicando gradualmente aos homens, desde nossos primeiros pais, preparando-nos para acolher a Revelação sobrenatural que faria na Pessoa e na missão do Verbo encarnado.2 “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” (Hb 1, 1-2). Ele é “a Palavra única, perfeita e insuperável do Pai. N’Ele o Pai disse tudo, e não haverá outra palavra senão esta”.3
Na Primeira Leitura da liturgia deste domingo, Isaías nos adverte que a Divina Providência nada promove sem eficácia total: “Assim como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam mais, mas vêm irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente, para o plantio e para a alimentação, assim a palavra que sair de minha boca: não voltará para Mim vazia; antes, realizará tudo que for de minha vontade e produzirá os efeitos que pretendi, ao enviá-la” (Is 55, 10-11).
Ou seja, quando Deus decide realizar algo, seu objetivo é sempre atingido, cedo ou tarde, por mais que os homens rejeitem sua palavra, e apesar das aparências em contrário.
Os pressupostos acima nos possibilitam uma melhor compreensão dos ensinamentos apresentados por Nosso Senhor no Evangelho deste 15º Domingo do Tempo Comum.
II – Uma Parábola cheia de Significados
1 “Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-Se às margens do mar da Galileia. 2 Uma grande multidão reuniu-se em volta d’Ele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-Se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia”.

Cada pequeno detalhe deste trecho é denso de significado e de superior beleza. O Mestre sai de sua casa em Cafarnaum — como gostaríamos de conhecer essa casa! — e vai para a praia.4 O mar da Galileia deveria estar sereno, sem o rumorejar das ondas, possibilitando que a voz de Cristo fosse ouvida com facilidade pela multidão disposta ao longo daquele anfiteatro natural. Tudo de uma grandiosa simplicidade, de tal forma que se essa barca tivesse sido preservada, mereceria sem duvida ser venerada em uma catedral-relicário. Maravilhoso é o cenário preparado para esse solene momento: é Deus Quem vai falar!
Continua no próximo post

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