Comentário ao
Evangelho XXII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 16, 21-27
“Naquele tempo 21 Jesus começou a mostrar a seus
discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos
sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no
terceiro dia.

24 Então Jesus disse aos discípulos: ‘Se alguém quer Me
seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e Me siga. 25 Pois, quem quiser
salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder sua vida por causa de Mim, vai
encontrá-la. 26 De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas
perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o
Filho do Homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá
a cada um de acordo com sua conduta’” (Mt 16, 21-27).
É a dor inevitável em nossa existência? Pode o fiel encontrar a
verdadeira felicidade nesta vida? No que consiste ela?
Mons.
João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – Os antecedentes
Em sua infinita
bondade, aprouve a Deus deixar inscritos no Universo reflexos visíveis de suas
perfeições invisíveis, para através deles os homens chegarem mais facilmente ao
conhecimento de seu Criador. “Narram os céus a glória de Deus, e o firmamento
anuncia a obra de suas mãos”, canta o salmista (Sl 18, 2). Um dos predicados
divinos manifestados de maneira admirável na natureza é, sem dúvida, a
inesgotável dadivosidade.
Com efeito, para
justos e pecadores, para bons e maus, a cada dia nasce radiante o Sol, com
renovada e deslumbrante beleza, proporcionando vida às criaturas. Sem cessar,
brotam em profusão das nascentes as águas cristalinas que dessedentam homens e
animais, alimentam rios e mares onde vive uma multidão incontável de seres; as
chuvas irrigam regularmente toda a terra, as árvores dão seus frutos com
abundância, e assim por diante, tudo obedecendo a uma majestosa sincronia.
O próprio Jesus, para
melhor ensinar aos homens verdades eternas, recorreu a imagens como a dos
lírios do campo e a das aves do céu. Dando-se contínua e inexaurivelmente, a
natureza convida o homem a imitá-la, a contrariar sua má tendência de fechar-se
em si mesmo e preocupar-se apenas com seus interesses.
Impelida pela graça,
essa contemplação da ordem do universo pode levar o ser humano a elevar suas
cogitações à procura dos valores transcendentais e movê-lo a empenhar-se em que
todas as criaturas tributem a Deus a glória devida. Assim, a consideração
admirativa dos reflexos divinos nas realidades materiais seria o primeiro passo
para a alma se dar generosamente, em vista da superior ordenação de toda a
Criação.
Praticando tal
desprendimento — do qual foi exemplo máximo o Verbo encarnado, morrendo por nós
numa cruz — encontrará o homem a quota de felicidade possível nesta Terra.
“Deus ama quem dá com alegria” (II Cor 9, 7), ensina-nos o Apóstolo; e quem se
doa por inteiro em benefício do próximo ou dos princípios estabelecidos pelo
Criador, este experimentará quanto há mais de alegria em dar-se do que em
fechar-se sobre si mesmo.
A isso nos convida o
Evangelho deste 22º Domingo do Tempo Comum, no qual Nosso Senhor anuncia pela
primeira vez, de forma explícita, sua Paixão.
Jesus quer ressaltar o caráter divino da Igreja
O episódio analisado
hoje é imediatamente precedido pelo da profissão de Fé de São Pedro e da sua
subsequente constituição como Pedra fundamental da Igreja, narrado no domingo
anterior.
Encontrava-Se o
Mestre nessa ocasião a caminho de Cesareia, local do primeiro milagre da
multiplicação dos pães, capital da tetrarquia de Filipe, onde, sobre uma
destacada formação rochosa, Herodes o Grande edificara um esplêndido templo de
mármore branco em honra de Augusto. É muito provável, opina o padre Tuya, “que
Jesus tenha utilizado aquela vista do rochedo-templo para expor a nova rocha
sobre a qual edificaria sua Igreja; assim era seu estilo pedagógico”.1
Vendo aproximar-se o
momento da sua Paixão, preocupava-Se em precaver os Apóstolos contra os erros
da Sinagoga (da qual eles ainda se consideravam zelosos membros) ressaltando o
caráter divino da Igreja por Ele fundada: muito mais do que uma mera
continuação da Sinagoga, constituía ela, sobretudo, a realização de todas as
profecias sobre a nova e eterna Aliança selada com o seu Sangue Preciosíssimo.
Chegara, afinal, a
plenitude dos tempos anunciada pelos profetas e sonhada pelos justos, o supremo
momento em que a figura cedia lugar à realidade, o símbolo ao simbolizado.
Virava-se uma página na história do relacionamento de Deus com a humanidade: o
próprio Verbo havia Se encarnado para habitar entre nós! Deus tornara-Se
visível aos homens e ia oferecer em breve sua vida para redimi-los.
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