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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Evangelho XXVIII Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 22, 1-14

Comentário ao Evangelho – 28º Domingo do Tempo Comum – Ano A – Mt 22, 1-14
Implacabilidade da própria consciência do pecador
12b “Mas o homem nada respondeu”.
“O homem nada respondeu”, porque o Juízo de Deus é justíssimo e irrecorrível. Pergunta, a esse propósito, Santo Afonso Maria de Ligório: “Que responderá o pecador em presença de Jesus Cristo? Ou melhor, que poderá responder ao ver-se culpado de tantos crimes? Calar-se-á confuso, como se calava o homem referido no Evangelho de São Mateus, encontrado sem o traje de bodas: ‘Ele não abriu os lábios’. Seus próprios pecados taparam-lhe a boca [...] Concluamos, portanto, com toda razão, que a alma ré de pecado, ao sair da vida e antes de ouvir a sentença, condena-se ela mesma ao inferno”.16
Com efeito, ensina-nos a Doutrina Católica que na hora do Juízo particular a própria consciência acusa a pessoa: “É pela recusa da graça nesta vida que cada um já se julga a si mesmo, recebe de acordo com suas obras e pode até condenar-se para a eternidade ao recusar o Espírito de amor”.17
A sentença de Deus é uma confirmação do julgamento feito pela própria consciência. Em suas pregações a respeito do dia do Juízo, Santo Antonio Maria Claret comenta: “Postar-se-ão diante do réu pecador todos os seus pecados, provando-lhe e convencendo-o que são de fato dele, e confundindo-o com esse conhecimento. [...] Cada um dos pecados cometidos se mostrará ali como numa tela, com toda a sua gravidade, não de maneira confusa, mas com toda a clareza [...]. Oh! consciência, consciência! Quem não treme ante tua espantosa acusação?”.18
13 Então o rei disse aos que serviam: ‘Amarrai os pés e as mãos desse homem e jogai-o fora, na escuridão! Ali haverá choro e ranger de dentes’”.
Transparecem mais ainda, neste trecho do Evangelho, a majestosa grandeza e a implacável justiça divina. O homem que estava sem veste nupcial é jogado nas trevas exteriores, as quais figuram, segundo expressão de São Gregório Magno, a “noite eterna da condenação”.19
Na hora em que o rei entrar no banquete — ou seja, na hora do Juízo —, quem estiver em estado de pecado mortal será lançado no fogo do inferno, de mãos e pés amarrados; e ali haverá choro e ranger de dentes por toda a eternidade.
Nem todos aceitam o convite
14 “Porque muitos são chamados, e poucos são escolhidos”.
Todos são chamados a fazer parte do banquete espiritual e receber o Rei eterno com a veste própria da festa nupcial. Pois “Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (I Tim 2, 4), ensina o Apóstolo. Entretanto, poucos são os escolhidos.
Nosso Senhor morreu na Cruz para abrir a todos os homens as portas do Reino dos Céus. Mas, infelizmente, nem todos aceitam o convite.
III – Esperança no Reino de Maria
O chamado feito por Jesus nesta rica parábola continua ecoando hoje nas encruzilhadas dos caminhos, para os bons e para os maus, conclamando a uma atitude de retidão e vigilância. Porém, jamais poderemos estar com a alma inteiramente pronta na expectativa da grande festa que vai se dar sem praticarmos a virtude teologal da Esperança, tão importante quanto as da caridade e da fé.
Nascemos para a eternidade e devemos ter os olhos postos nesse último objetivo que é o Céu. Mas, o homem vive no tempo. Deus, então, para alimentar nossa Esperança nesta vida nos coloca diante de perspectivas mais ou menos próximas, que remetem depois para a eternidade.
De fato, hoje a Providência quer que vivamos em função da esperança do banquete para o qual Deus vem atraindo insistentemente a humanidade: o triunfo do Imaculado Coração de Maria predito em Fátima.
Como será possível transformar nossa atual quadra histórica, tão afastada de Deus, no esplendor do Reino de Maria em que, segundo o grande São Luís Maria Grignion de Montfort, “as almas respirarão Maria como o corpo respira o ar?”.20 Sem dúvida, pela oração e pela penitência, tão reiteradas vezes pedidas por Nossa Senhora, há de se operar uma verdadeira mudança dos corações.
Todavia, não devemos imaginar que tal renovação possa se efetuar num ato instantâneo, mas sim processivamente, por onde, quer as almas inocentes, quer aquelas que recebem, por especial graça, a restauração da inocência perdida, vão aos poucos constituindo uma nova era.
Assim como por ocasião da festa do casamento do Filho de Deus com a humanidade, em relação ao banquete do Reino de Maria não podemos alegar as ocupações que nos prendem ao mundo. E muito menos agredir a quem no-lo anuncia, neste caso, a própria Santíssima Virgem, que em Fátima nos chamou a seguir seus caminhos. Temos de aceitar essa solicitação que, mais do que um simples convite, é uma imposição, porque vem de Alguém infinitamente superior a qualquer rei da Antiguidade, o próprio Deus.
Estejamos sempre atentos à Palavra de Deus que nos convida ao banquete, e prestemos ouvidos à voz da consciência a nos advertir interiormente, a fim de não mancharmos a bela veste nupcial da vida da graça, para podermos entrar no festim eterno da visão beatífica onde, juntamente com Maria Santíssima, o próprio Deus será a nossa recompensa demasiadamente grande (cf. Gn 15,1).
1 BENTO XVI. Jesus de Nazaré – Do batismo no Jordão à Transfiguração. São Paulo: Planeta, 2007, p.58.
2 LÉON-DUFOUR, SJ, Xavier. Vocabulario de Teología Bíblica. Barcelona: Herder, 1965, p.570. Ver, no mesmo sentido: SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, III, q.42, a.3, resp.
3 SÃO GREGÓRIO MAGNO, Homiliarum in Evangelia. 38, c.3.
4 FILLION, Louis-Claude. La Sainte Bible commentée. Paris: Letouzey et Ané, 1912, t.VII, p.143-144.
5 GOMA Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Rafael Casulleras, 1930, v.IV, p.47.
6 Cf. SANTO AGOSTINHO. De Civitate Dei, l.XIV, c.28.
7 SÃO REMÍGIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea – Expositio in Matthaeum. c.22, l.1.
8 ORBE, SJ, Antonio. Parábolas Evangélicas en San Ireneo. Madrid: BAC, 1972, v.II, p.282.
9 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.48.
10 SANTO HILÁRIO. Commentarius in Matthaeum, 22, c.7
11 SÃO JERÔNIMO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea, ibidem.
12 Idem, ibidem.
13 SÃO GREGÓRIO MAGNO, op. cit., 38, c.9.
14 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios – San Mateo. Madrid: BAC, 1960, v.I, p.765766.
15 SÃO GREGÓRIO MAGNO, op. cit., 38, c.7.
16 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Obras Ascéticas. Madrid: BAC, 1954, v.II, p.648-649.
17 CIC 679. S
18 ANTO ANTÔNIO MARIA CLARET. Sermones de Misión. Barcelona: Librería Religiosa, 1864, v.II, p.47.
19 SÃO GREGÓRIO MAGNO, op. cit., 38, c.13.

SÃO LUÍS GRIGNION DE MONTFORT. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, n.217.

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