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quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

EVANGELHO SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO B

Evangelho Mt 2, 1-12
1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. 7 Então Herodes chamou em segredo os Magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-Lo”.
9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o Menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande.
11 Quando entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe. Ajoelharam-se diante d’Ele, e O adoraram. Depois abriram seus cofres e Lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2, 1-12).
Comentários ao Evangelho da Solenidade da Epifania do Senhor
A docilidade do Espírito Santo ensinada por pagãos
À dureza de coraçõo da maioria do povo eleito, rejeitando o nascimento do Messias, opõe-se o exemplo de docilidade ao chamado de Deus, manifestado por reis pagãos de longínquas nações.
I - O MESSIAS SE MANIFESTA AO POVO ELEITO
Nos primórdios do Cristianismo, no Oriente, a Solenidade da Epifania conhecida entre os gregos por Teofania, manifestação de Deus —, era mais comemorada do que o próprio Natal. Para melhor penetrarmos no significado desta festividade, voltemos os olhos para o nascimento do Menino Jesus. Encontraremos uma Virgem de condição humilde embora descendente da linhagem real de Davi —, considerada como uma pessoa comum. Ela não dá à luz num palácio, mas numa Gruta, e seu Filho não tem por berço senão a manjedoura dos animais. O Verbo Encarnado é posto sobre paihas, envolto em panos e aquecido por um boi e um burro. E quem sãoos primeiros convidados a visitá-Lo? Pastores, homens de classe social muito simples que, encantados, se reúnem em torno do Presépio, comprovando a veracidade da mensagem angélica recebida. Além desta, não consta nenhuma outra homenagem de seus compatriotas…
Qual o motivo de Jesus Se manifestar de maneira tão pobre a seu povo? Não teria sido mais eficaz se Ele surgisse no esplendor da sua majestade e glória? Naquela época, a maioria dos judeus deturpara a ideia do Messias, a quem concebiam como um hábil político capaz de proporcionar a Israel a supremacia sobre todas as nações. E era preciso compreenderem que Nosso Senhor vinha para uma missão muito mais elevada: a de Salvador da humanidade. Por isso deviam entender que seu Reino não era deste mundo (cf. Jo 18, 36)!
Assim, ao povo eleito — com o qual Deus havia estabelecido Aliança, sobre o qual derramara graças e bênçãos sem conta, ao qual enviara profetas, fizera revelações e dera a Lei — Jesus Se apresenta sem exteriorizar sua divindade. No entanto, este povo, apesar de saber perfeitamente, pelas Escrituras, que estava próximo o aparecimento do Messias na cidade de Belém, não quis reconhecer o seu Senhor e Deus, conforme o oráculo de Isaías: “O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento” (1, 3).
Bem diversa, como mostra o Evangelho de hoje, é a manifestação do Redentor — o Rei dos reis e Senhor dos senhores — aos gentios, representados pelos Magos. Nela já se prognostica que a Religião verdadeira, apanágio dos hebreus desde Abraão até o momento extraordinário em que Deus assume a natureza humana envolto nas luzes e nas esteiras magníficas da raça escolhida, se propagaria por todas as nações da Terra. Antes mesmo de os Apóstolos promoverem a conversão dos pagãos, o próprio Menino Jesus toma a iniciativa de atraí-los a Si, como inigualável Apóstolo das gentes, infinitamente superior ao grande São Paulo. E assim o Natal atinge sua plenitude na universalidade da missão de Nosso Senhor, expressa na Epifania.
II - UM DEUS-REI SE MANIFESTA AOS GENTIOS
Estudiosos da astronomia e interessados pelas coisas do céu, em vez de se ocuparem com glórias mundanas, foram os Magos preparados pela Providência para discernir o significado de uma misteriosa estrela que começou a se mover no firmamento. Por uma inspiração do Espírito Santo, sabiam ter chegado a hora de nascer um Rei que seria ao mesmo tempo Deus e, portanto, deveria ser adorado.
Contemplativos do céu… dóceis ao sinal da estrela
Como concluíram que este Menino devia surgir no seio do povo judeu? Talvez se baseassem em algum conhecimento da Revelação escrita e na expectativa messiânica de Israel, largamente difundida no Oriente pagão.2 Decerto tocados pela graça, tiveram uma experiência mística de que algo grandioso adviria, e interpretaram o aparecimento da estrela como um sinal sobrenatural que os pôs em movimento em busca do Rei recém-nascido que haveria de mudar a História. “Vimos” e “viemos”, diz o Evangelho. Ou seja, bastou-lhes ver a estrela para abandonarem tudo com uma docilidade única, prontidão exemplar e total confiança em Deus, e, sem medir esforços, empreenderam uma longa viagem através de desertos e montanhas, enfrentando toda espécie de riscos, inclusive a incerteza quanto à acolhida que teriam no reino de Israel, por mais distinta e numerosa que fosse sua comitiva. Vê-se, pois, não terem agido motivados por prudência humana, mas, sim, pelo impulso do dom de conselho, pelo qual o Espírito Santo faz o homem julgar com retidão sobre como deve agir em qualquer circunstância.3
Da atitude dos Magos podemos extrair um ensinamento útil para nossa vida espiritual: muitas vezes, por um sopro da Providência em nossas almas, somos levados a abraçar uma santa imprudência, que pode dar origem a uma grande realização. Precisamos ser flexíveis à voz do Espírito Santo que nos convida por meio de seus dons.
Um triste contraste
1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
Ao chegarem os Magos à região de Jerusalém, a estrela que os guiava ocultou-se. Eles, porém, não se perturbaram nem desistiram, porque tinham a certeza de que Deus lhes falava no fundo do coração e de que não fora uma impressão passageira que os impelira. Perdido o caminho, à falta de um auxílio sobrenatural sensível, puseram em jogo todos os recursos naturais que estavam ao seu alcance. Sem hesitar, sem permitir que um lampejo de insegurança se apoderasse de seu espírito, entraram na cidade para se informar, provocando um tremendo alvoroço por seu vistoso séquito, sua língua, costumes e luxuosos trajes. Por isso São João Crisóstomo 4 interpreta o desaparecimento da estrela como um fato promovido por Deus para tornar a notícia do nascimento do Messias conhecida na Cidade Santa. Anunciam, então, que haviam ido visitar o Rei dos judeus, alegando terem divisado sua estrela. Com efeito, não era raro na Antiguidade identificar o advento de personagens ilustres com fenômenos celestes. E ficava subentendida sua fé na divindade do Menino, pois disseram: “vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”. Ora, que Rei é este? Ninguém adora um rei da Terra... só se adora a Deus, Rei do Céu e da Terra que governa os astros.
Mas que significava esta estrela para os habitantes de Jerusalém, pouco versados em astronomia? Constatamos nesse quadro um triste contraste: reis pagãos acreditaram na mensagem que lhes fora transmitida por Deus através de uma estrela, e os judeus, com a Revelação e com todas as profecias, não quiseram abrir a alma para o seu Rei, o Messias.
O pânico nos maus  provocado por Deus
3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
A simples aparição dos Magos em Jerusalém, procurando o Rei dos judeus, provocou abalo nessa parcela do Império Romano. Não passavam de três Reis do Oriente... Herodes podia até mandar prendê-los e apossar-se de suas riquezas. Pelo contrário, ele ficou com medo... A História é varada por medos e coragens. Há ocasiões em que o Espírito Santo insufla a coragem numa parte da humanidade, produzindo autênticos surtos de entusiasmo. Não importa o número, a força, o poder, basta estar assistido por uma graça para pôr medo pela presença, pelo olhar ou por uma afirmação, e fazer tremer o adversário. E um medo sobrenatural, também incutido por Deus. Foi o que aconteceu na visita dos Reis Magos. Herodes representava o polo oposto ao de Nosso Senhor. Enquanto Jesus é a Luz que vem a este mundo, Herodes simboliza as trevas; Cristo é a salvação, Herodes, a perdição. Esse rei Péssimo, expoente do mal, se apavora, teme pelo seu trono e como ocorre em determinadas circunstâncias àqueles que abraçam o pecado como lei é sacudido. A razão mais profunda da reação de Herodes e de toda Jerusalém está na onipotência de Deus, que se manifesta quando se diz a verdade e apoia os que, como os Magos, a proclamam com plena segurança. Que dom preciosíssimo o de intimidar os ímpios pela fé! Logo ao nascer o Menino Jesus já divide os campos: é a pedra de escândalo.
As autoridades religiosas atestam sua falta de fé
4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, Perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta:  tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
Convém ressaltar que, ao se dirigir aos sacerdotes e mestres da Lei, Herodes não pergunta onde iria nascer o Rei dos judeus, pois receava empregar esta palavra. Ele diz o “Messias”. Ora, a resposta dos sacerdotes indica terem eles ciência clara de onde este maravilhoso evento se daria: em Belém de Judá.
Esta era uma localidade insignificante em Israel, segundo critérios humanos, mas Nosso Senhor a escolhera por ser o berço de Davi. Perante Deus uma cidade não vale pelo que produz, por sua situação geográfica ou por uma população numerosa, e, sim, por seu nexo com Ele.
As autoridades religiosas, todavia, pouco atentas aos desígnios divinos, estavam ocupadas tão só em agradar a Herodes, numa vil troca de interesses. Nessa situação, compreende-se a cegueira do povo, quando devia discernir o iminente aparecimento do Salvador.
Duas opções: converter-se ou odiar com desejo de matar
Então Herodes chamou em segredo os Magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E, quando O encontrardes avisai-me, para que também eu vá adorá-Lo”.
Herodes ficou ainda com mais medo diante da comunicação do Sinédrio e, político ladino, arquitetou um plano para eliminar o Menino Jesus, sem contundir os régios visitantes. Inquiriu-os para saber a idade aproximada da criança, e os encarregou de “obter informações exatas”. Deste modo, “prometia devoção aquele que já afiava a espada e pintava com cores de humildade a perversidade de seu coração”.5 E o ódio que professam todos quantos, tendo optado por uma vida de pecado, encontram quem lhes advirta a consciência. Para estes, só há duas opções: converter-se ou odiar com desejo de matar.
Os Magos, no entanto, acataram o conselho com toda boa-fé. São RemIgio6 comenta que assim se deve fazer com um pregador ruim: ouvir suas palavras, mas não seguir inteiramente suas orientações. Os Reis aceitaram a notícia certa dada por Herodes e não voltaram para dizer onde estava o Menino.
Deus dá consolações a quem crê
9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o Menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande.
Era tal a convicção dos Magos de que chegariam a encontrar o Menino, que estavam dispostos a procurar onde fosse preciso, perseverança que os levaria até o objetivo. E com o reaparecimento da estrela eles extasiaram-se, sentindo a consolação e a alegria de quem tem retidão de espírito. E o prêmio de Deus aos que nunca desanimam nas boas obras: Ele jamais abandona aqueles que não O abandonam!
Continua no próximo post

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