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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

EVANGELHO SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR – ANO B

Comentários ao Evangelho da Epifania  Mt 2, 1-12
1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém, na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. 7 Então Herodes chamou em segredo os Magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-Lo”.
9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o Menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande.
11 Quando entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe. Ajoelharam-se diante d’Ele, e O adoraram. Depois abriram seus cofres e Lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho” (Mt 2, 1-12).
Comentários ao Evangelho da Solenidade da Epifania do Senhor
A docilidade do Espírito Santo ensinada por pagãos
À dureza de coração da maioria do povo eleito, rejeitando o nascimento do Messias, opõe-se o exemplo de docilidade ao chamado de Deus, manifestado por reis pagãos de longínquas nações.
I - O MESSIAS SE MANIFESTA AO POVO ELEITO
Nos primórdios do Cristianismo, no Oriente, a Solenidade da Epifania conhecida entre os gregos por Teofania, manifestação de Deus —, era mais comemorada do que o próprio Natal. Para melhor penetrarmos no significado desta festividade, voltemos os olhos para o nascimento do Menino Jesus. Encontraremos uma Virgem de condição humilde embora descendente da linhagem real de Davi —, considerada como uma pessoa comum. Ela não dá à luz num palácio, mas numa Gruta, e seu Filho não tem por berço senão a manjedoura dos animais. O Verbo Encarnado é posto sobre palhas, envolto em panos e aquecido por um boi e um burro. E quem são os primeiros convidados a visitá-Lo? Pastores, homens de classe social muito simples que, encantados, se reúnem em torno do Presépio, comprovando a veracidade da mensagem angélica recebida. Além desta, não consta nenhuma outra homenagem de seus compatriotas…
Qual o motivo de Jesus Se manifestar de maneira tão pobre a seu povo? Não teria sido mais eficaz se Ele surgisse no esplendor da sua majestade e glória? Naquela época, a maioria dos judeus deturpara a ideia do Messias, a quem concebiam como um hábil político capaz de proporcionar a Israel a supremacia sobre todas as nações. E era preciso compreenderem que Nosso Senhor vinha para uma missão muito mais elevada: a de Salvador da humanidade. Por isso deviam entender que seu Reino não era deste mundo (cf. Jo 18, 36)!
Assim, ao povo eleito — com o qual Deus havia estabelecido Aliança, sobre o qual derramara graças e bênçãos sem conta, ao qual enviara profetas, fizera revelações e dera a Lei — Jesus Se apresenta sem exteriorizar sua divindade. No entanto, este povo, apesar de saber perfeitamente, pelas Escrituras, que estava próximo o aparecimento do Messias na cidade de Belém, não quis reconhecer o seu Senhor e Deus, conforme o oráculo de Isaías: “O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento” (1, 3).
Bem diversa, como mostra o Evangelho de hoje, é a manifestação do Redentor — o Rei dos reis e Senhor dos senhores — aos gentios, representados pelos Magos. Nela já se prognostica que a Religião verdadeira, apanágio dos hebreus desde Abraão até o momento extraordinário em que Deus assume a natureza humana envolto nas luzes e nas esteiras magníficas da raça escolhida, se propagaria por todas as nações da Terra. Antes mesmo de os Apóstolos promoverem a conversão dos pagãos, o próprio Menino Jesus toma a iniciativa de atraí-los a Si, como inigualável Apóstolo das gentes, infinitamente superior ao grande São Paulo. E assim o Natal atinge sua plenitude na universalidade da missão de Nosso Senhor, expressa na Epifania.
II - UM DEUS-REI SE MANIFESTA AOS GENTIOS
Estudiosos da astronomia e interessados pelas coisas do céu, em vez de se ocuparem com glórias mundanas, foram os Magos preparados pela Providência para discernir o significado de uma misteriosa estrela que começou a se mover no firmamento. Por uma inspiração do Espírito Santo, sabiam ter chegado a hora de nascer um Rei que seria ao mesmo tempo Deus e, portanto, deveria ser adorado.
Contemplativos do céu… dóceis ao sinal da estrela
Como concluíram que este Menino devia surgir no seio do povo judeu? Talvez se baseassem em algum conhecimento da Revelação escrita e na expectativa messiânica de Israel, largamente difundida no Oriente pagão.2 Decerto tocados pela graça, tiveram uma experiência mística de que algo grandioso adviria, e interpretaram o aparecimento da estrela como um sinal sobrenatural que os pôs em movimento em busca do Rei recém-nascido que haveria de mudar a História. “Vimos” e “viemos”, diz o Evangelho. Ou seja, bastou-lhes ver a estrela para abandonarem tudo com uma docilidade única, prontidão exemplar e total confiança em Deus, e, sem medir esforços, empreenderam uma longa viagem através de desertos e montanhas, enfrentando toda espécie de riscos, inclusive a incerteza quanto à acolhida que teriam no reino de Israel, por mais distinta e numerosa que fosse sua comitiva. Vê-se, pois, não terem agido motivados por prudência humana, mas, sim, pelo impulso do dom de conselho, pelo qual o Espírito Santo faz o homem julgar com retidão sobre como deve agir em qualquer circunstância.3
Da atitude dos Magos podemos extrair um ensinamento útil para nossa vida espiritual: muitas vezes, por um sopro da Providência em nossas almas, somos levados a abraçar uma santa imprudência, que pode dar origem a uma grande realização. Precisamos ser flexíveis à voz do Espírito Santo que nos convida por meio de seus dons.
Um triste contraste
1 Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns Magos do Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o Rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo’.
Ao chegarem os Magos à região de Jerusalém, a estrela que os guiava ocultou-se. Eles, porém, não se perturbaram nem desistiram, porque tinham a certeza de que Deus lhes falava no fundo do coração e de que não fora uma impressão passageira que os impelira. Perdido o caminho, à falta de um auxílio sobrenatural sensível, puseram em jogo todos os recursos naturais que estavam ao seu alcance. Sem hesitar, sem permitir que um lampejo de insegurança se apoderasse de seu espírito, entraram na cidade para se informar, provocando um tremendo alvoroço por seu vistoso séquito, sua língua, costumes e luxuosos trajes. Por isso São João Crisóstomo 4 interpreta o desaparecimento da estrela como um fato promovido por Deus para tornar a notícia do nascimento do Messias conhecida na Cidade Santa. Anunciam, então, que haviam ido visitar o Rei dos judeus, alegando terem divisado sua estrela. Com efeito, não era raro na Antiguidade identificar o advento de personagens ilustres com fenômenos celestes. E ficava subentendida sua fé na divindade do Menino, pois disseram: “vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”. Ora, que Rei é este? Ninguém adora um rei da Terra... só se adora a Deus, Rei do Céu e da Terra que governa os astros.
Mas que significava esta estrela para os habitantes de Jerusalém, pouco versados em astronomia? Constatamos nesse quadro um triste contraste: reis pagãos acreditaram na mensagem que lhes fora transmitida por Deus através de uma estrela, e os judeus, com a Revelação e com todas as profecias, não quiseram abrir a alma para o seu Rei, o Messias.
O pânico nos maus  provocado por Deus
3 Ao saber disso, o rei Herodes ficou perturbado, assim como toda a cidade de Jerusalém.
A simples aparição dos Magos em Jerusalém, procurando o Rei dos judeus, provocou abalo nessa parcela do Império Romano. Não passavam de três Reis do Oriente... Herodes podia até mandar prendê-los e apossar-se de suas riquezas. Pelo contrário, ele ficou com medo... A História é varada por medos e coragens. Há ocasiões em que o Espírito Santo insufla a coragem numa parte da humanidade, produzindo autênticos surtos de entusiasmo. Não importa o número, a força, o poder, basta estar assistido por uma graça para pôr medo pela presença, pelo olhar ou por uma afirmação, e fazer tremer o adversário. E um medo sobrenatural, também incutido por Deus. Foi o que aconteceu na visita dos Reis Magos. Herodes representava o polo oposto ao de Nosso Senhor. Enquanto Jesus é a Luz que vem a este mundo, Herodes simboliza as trevas; Cristo é a salvação, Herodes, a perdição. Esse rei Péssimo, expoente do mal, se apavora, teme pelo seu trono e como ocorre em determinadas circunstâncias àqueles que abraçam o pecado como lei é sacudido. A razão mais profunda da reação de Herodes e de toda Jerusalém está na onipotência de Deus, que se manifesta quando se diz a verdade e apoia os que, como os Magos, a proclamam com plena segurança. Que dom preciosíssimo o de intimidar os ímpios pela fé! Logo ao nascer o Menino Jesus já divide os campos: é a pedra de escândalo.
As autoridades religiosas atestam sua falta de fé
4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei, Perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. Eles responderam: “Em Belém na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta:  tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”.
Convém ressaltar que, ao se dirigir aos sacerdotes e mestres da Lei, Herodes não pergunta onde iria nascer o Rei dos judeus, pois receava empregar esta palavra. Ele diz o “Messias”. Ora, a resposta dos sacerdotes indica terem eles ciência clara de onde este maravilhoso evento se daria: em Belém de Judá.
Esta era uma localidade insignificante em Israel, segundo critérios humanos, mas Nosso Senhor a escolhera por ser o berço de Davi. Perante Deus uma cidade não vale pelo que produz, por sua situação geográfica ou por uma população numerosa, e, sim, por seu nexo com Ele.
As autoridades religiosas, todavia, pouco atentas aos desígnios divinos, estavam ocupadas tão só em agradar a Herodes, numa vil troca de interesses. Nessa situação, compreende-se a cegueira do povo, quando devia discernir o iminente aparecimento do Salvador.
Duas opções: converter-se ou odiar com desejo de matar
Então Herodes chamou em segredo os Magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “ide e procurai obter informações exatas sobre o Menino. E, quando O encontrardes avisai-me, para que também eu vá adorá-Lo”.
Herodes ficou ainda com mais medo diante da comunicação do Sinédrio e, político ladino, arquitetou um plano para eliminar o Menino Jesus, sem contundir os régios visitantes. Inquiriu-os para saber a idade aproximada da criança, e os encarregou de “obter informações exatas”. Deste modo, “prometia devoção aquele que já afiava a espada e pintava com cores de humildade a perversidade de seu coração”.5 E o ódio que professam todos quantos, tendo optado por uma vida de pecado, encontram quem lhes advirta a consciência. Para estes, só há duas opções: converter-se ou odiar com desejo de matar.
Os Magos, no entanto, acataram o conselho com toda boa-fé. São RemIgio6 comenta que assim se deve fazer com um pregador ruim: ouvir suas palavras, mas não seguir inteiramente suas orientações. Os Reis aceitaram a notícia certa dada por Herodes e não voltaram para dizer onde estava o Menino.
Deus dá consolações a quem crê
9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o Menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os Magos sentiram uma alegria muito grande.
Era tal a convicção dos Magos de que chegariam a encontrar o Menino, que estavam dispostos a procurar onde fosse preciso, perseverança que os levaria até o objetivo. E com o reaparecimento da estrela eles extasiaram-se, sentindo a consolação e a alegria de quem tem retidão de espírito. E o prêmio de Deus aos que nunca desanimam nas boas obras: Ele jamais abandona aqueles que não O abandonam!
Uma adoração fruto da fé
11 Quando entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe. Ajoelharam-se diante d’Ele, e O adoraram. Depois abriram seus cofres e Lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
Quando os Reis Magos chegaram, a Sagrada Família havia já saído da Gruta e ocupava uma casa em Belém. Ali viram só Nossa Senhora e o Menino Jesus, para se tornar patente que Ela, de fato, é única e foi constituída Medianeira necessária por vontade d’Ele. Sendo Maria Rainha dos Anjos e dos homens, é provável que, por uma inspiração do Espírito Santo, seu Divino Esposo, Ela tenha conhecido os Magos à distância, desde o momento em que começaram a ser tocados pela graça e os acompanhasse pelos caminhos, rezando para que fossem flexíveis e dóceis, e se entregassem à Providência que os chamava. Nossa Senhora, então, sustentou a fidelidade deles, e não seria de estranhar que São José, enquanto Patriarca da Igreja, se unisse a Ela nessa intenção e, inclusive, que ambos conversassem sobre isso.
Bem podemos imaginar que os Reis tenham adorado o Menino nos braços da Santíssima Virgem. Contudo, lemos no Evangelho de São Lucas que os pastores, ao entrar na Gruta, se depararam com Maria, José e o Menino deitado numa manjedoura (cf. Lc 2, 16). Qual o sentido desta diferença? Como se tratava de pessoas muito simples, era mister tomar cuidado para eles não confundirem o Filho com a Mãe e, de repente, A adorarem também. Por isso assumiu Nossa Senhora esta atitude humilde de deixar o Menino reclinado para os pastores Lhe renderem homenagem, seguindo o exemplo de silêncio e oração que Ela lhes dava. Agora, entretanto, não se trata de pastores rudes, mas de pessoas cultas e delicadas. Os Reis não entenderiam que Maria apontasse para um berço, indicando onde estava o recém-nascido, quando seria melhor venerar o Menino nos braços da Mãe.
Por certo, a casa da Sagrada Família não tinha qualquer ar palaciano e, obviamente os Magos encontraram Maria e o Menino sem nenhuma insígnia real. Não obstante, depois da longa viagem, penetraram nesse ambiente modesto e, diz-nos o Evangelista, “ajoelhara 5 diante d’Ele, e O adoraram”. Ou seja, em seu íntimo reconheceram a divindade do Menino! Tiveram, portanto, um movimento de alma íntegro. “Se tivessem partido em busca de um rei terreno e o tivessem encontrado, teriam mais motivos de confusão que de alegria, por terem empreendido tão dura viagem esperando outra coisa. Como, porém, procuravam o Rei do Céu, sentiam-se felizes, embora o que estivessem vendo não apresentasse um rei. [...] Teriam, acaso, adorado um Menino incapaz de compreender a honra da adoração senão tivessem visto n’Ele algo divino? Logo, não adoraram um Menino que nada entendia: adoraram sua divindade, que tudo conhece. Até a qualidade especial dos presentes a Ele oferecidos dá testemunho de que tinham algum vislumbre ou indício da divindade do Menino”.7
Eles, Reis, já talvez avançados em idade, se ajoelhavam para adorar uma criança. No fundo, desejavam ser escravos de Nosso Senhor Jesus Cristo e dar-se a Ele completamente, com todos os seus bens. Esta era a razão de Lhe ofertarem magníficos presentes: ouro por reconhecerem n’Ele a realeza, o Rei dos reis; incenso por sua divindade, é Deus e merece ser incensado; e mirra, pois querem oferecer-Lhe seus sacrifícios e, com isso, serem beneficiados por suas graças. Exorta-nos, a este propósito, Santo Elredo: “como não convém chegar a Cristo ou adorá-Lo com as mãos vazias, preparai-Lhe vossos presentes. Oferecei-Lhe ouro, ou seja, um amor verdadeiro; incenso, uma oração pura; e mirra, a mortificação de vosso corpo. Com estes dons, Deus Se aplacará convosco, para alvorecer sobre VÓS e manifestar-se sua glória em vós. Ele será glorificado em vós e vos fará participar de sua glória”.8
O caminho dos Magos e o de Herodes
12 Avisados em sonho para não voltarem a Herodes retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
O autor da Obra Imperfeita 9 comenta que os Reis trilharam o caminho de Herodes até Jesus, mas não o de Jesus a Herodes, pois quem fez o caminho do mal para o bem não pode voltar à vida anterior. Ademais, em contato com o Menino Jesus e com Nossa Senhora, devem ter sentido uma consolação enorme e, decerto andavam por permanecer junto a Eles para sempre. Perceberam, todavia, não ser esta a vontade de Deus, e retornaram às suas terras para serem lá os arautos do Messias. Nós, igualmente, uma vez descoberta a finalidade para a qual somos criados, temos de fazer apostolado e procurar que todos gozem da mesma felicidade.
Tremendo contraste entre os Magos vindos do Oriente e aqueles que são os principais beneficiados por Nosso Senhor: os de sua pátria! Os primeiros recebem uma graça de discernimento dos espíritos, uma intuição profética por onde veem a santidade de Maria e de José, e a divindade de Jesus Cristo, a ponto de caírem de joelhos, honrando-O como Rei, Deus e Senhor, a despeito das exterioridades. Os outros não O reconhecem e não O aceitam. E Herodes fará de tudo para matá-Lo, como finalmente o conseguirão os príncipes dos sacerdotes, ao rejeitar e crucificar o Messias, que não Se coadunava com sua mentalidade e seus anseios mundanos.
III - TAMBÉM PARA NÓS BRILHA UMA ESTRELA
A história dos Reis Magos é um extraordinário exemplo de correspondência ao chamado de Deus. Viram eles uma estrela rutilante dentro da qual — segundo uma bela tradição — se encontrava um Menino que tinha por trás uma luz mais intensa formando uma Cruz 10 e a seguiram sem hesitação. Esta estrela é um símbolo muito expressivo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Assim como a luz da estrela guiou os Magos, a Igreja é a luz que cintila incessantemente, sem nunca bruxulear nem diminuir seu fulgor, para guiar os povos rumo ao Reino de Deus. E, ao longo dos tempos, todos quantos se converterem é porque de alguma maneira viram esta estrela e resolveram adorar a Jesus Cristo. Ela continua a brilhar e brilhará até o último dia da História, como prometeu Nosso Senhor: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
O Salmo Responsorial da Solenidade da Epifania (cf. Sl 71, 11) traz esta magnífica profecia: “As nações de toda a Terra hão de adorar-Vos, ó Senhor!”. Fica patente, nesta sentença inspirada pelo Paráclito, não apenas que Jesus veio para todos, mas que, em determinado momento, a humanidade inteira deverá adorá-Lo. Para que isso se verifique, é indispensável que haja apóstolos, Os primeiros cristãos eram tão poucos! Contudo — como o grão de mostarda, que se desenvolve até tornar-se uma grande árvore —, se espalharam pelo mundo. Hoje, nossa responsabilidade não é menor que a dos Apóstolos, porque a palavra enunciada no Salmo Responsorial ainda não se cumpriu. Há, quiçá, uma obrigação mais grave no presente, já que muitos abandonaram a verdadeira Religião e deram as costas a Deus.
Neste dia manifestamos nossa fé de que, cedo ou tarde, a Religião Católica será admitida e louvada por todos os povos, pois não é possível Nosso Senhor Jesus Cristo ter Se encarnado, ter redimido os homens e ser por eles ignorado.
Somos fiéis ao brilho desta estrela?
Cabe, aqui, uma aplicação pessoal: luziu diante de nossos olhos esta estrela por ocasião do Batismo, quando infundiu Deus em nossa alma um cortejo de virtudes — as teologais: fé, esperança e caridade; e as cardeais: prudência, justiça, temperança e fortaleza, em torno das quais se agrupam todas as outras — e os dons do Espírito Santo, e passamos a participar da natureza divina. Pertencemos ao Corpo Místico de Cristo e o Céu se abre diante de nós. Tornou-se mais resplandecente esta estrela no dia de nossa Primeira Comunhão, ao recebermos o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo glorioso, para Ele nos assumir e santificar. A todo instante ela nos convida à santidade, a rejeitar nossas más tendências e a estar totalmente prontos para ouvir a voz da graça que diz em nosso interior “Vem, segue-me!”, e nos chama a sermos generosos, de forma a cada um de nós também constituir para os outros uma estrela, atraindo-os para a Igreja.
Se, por miséria ou por provação, perdermos de vista esta luz, precisamos ir a Jerusalém, ou seja, à Santa Igreja, a qual, em seus templos sagrados, se mantém sempre à nossa espera para nos indicar onde está Jesus. Ali haverá um sacerdote, estará exposto o Santíssimo Sacramento ou se encontrará uma imagem piedosa, instrumentos para reacender a estrela existente em nosso coração.
Incumbe-nos, ademais, tomar cuidado com o “Herodes” instalado dentro de nós: nosso orgulho, nosso materialismo, nosso egoísmo. Ele almeja apagar esta estrela, pelo pecado mortal, e colocar-nos nas vias dos prazeres ilícitos; quer levar-nos a matar Jesus Cristo que está em nossa alma como um luzeiro cintilante. Seremos do mundo e do demônio se tivermos uma vida dupla, limitando-nos a frequentar a igreja aos domingos e comportando-nos, depois, como se desconhecêssemos a estrela. Devemos, portanto, estar sempre junto a Nosso Senhor, oferecendo-Lhe o ouro do nosso amor, o incenso da nossa adoração e a mirra das nossas misérias e contingências, pedindo constantemente o auxilio de sua graça.
Compreendamos, nesta Solenidade da Epifania, que os Magos nos dão o exemplo de como alcançar a plena felicidade. Com os olhos fixos em Maria, imploremos: “Minha Mãe, vede como sou fraco, inconstante, miserável, e quanto preciso, ó Mãe, da vossa súplica e da vossa proteção. Acolhei-me, minha Mãe, eu me entrego em vossas mãos para que Vós me entregueis a vosso Filho”. E dirigindo-nos a São José, digamos: “Meu Patriarca, senhor meu, aqui estou, tende pena de mim, ajudai-me a pedir a vossa esposa, Maria Santíssima, para Ela ter sempre os olhos postos em mim”. Roguemos aos Reis Magos que intercedam junto ao Santo Casal e ao Menino Jesus, para nos obter a graça de não procurarmos luzes mentirosas, mas seguirmos a verdadeira estrela, ou seja, a da prática da virtude e do horror ao pecado.
1) Outros comentários acerca desta Solenidade em: CLA DIAS, EP, João Scognamiglio. O Espírito Santo e noSsos maravilhamentos? In: Arautos do Evangelho. São Paulo. N.145 (Jan., 2014); p.10-16; Diante do Rei, os bons reis e o mau. In:Arautos do Evangelho. São Paulo. N.85 (Jan., 2009); p.10-19;
2) Cf. TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, v.V, p.36-37.
3) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-JI, q.52, al; ad 1.
4) SÃO JOÃO CRISÓSTOMO Homilía VII, n.3. In: Obras. Homilías sobre el Evangelio de San Mateo (1-45). 2.ed. Madrid: BAC, 2007, v.1, p.133.
5) AUTOR INCERTO Opus imperfectum in Matthæum. Homilia II, c.2, n.8: MC 56, 641.
6) Cf. SÃO REMÍGIO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea. In Matthæum, cII, v.7-9.
7) AUTOR INCERTO, op. cit., n.1l, 642.
8) SANTO ELREDO DE RIEVAL. Sermón IV En la manifestación dei Señor, n.36. In: Sennones Litórgicos Sennones 1-14. Burgos: Monte Carmelo, 2008, tI, p.96-97.
9) Cf. AUTOR INCERTO, op. cit., n.12, 643.

10) Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.36, a.5, ad 4.

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