Conclusão dos comentários ao Evangelho – IV Domingo do Tempo Comum – Mc 1, 21-28
Império absoluto de Nosso Senhor sobre todas as coisas
25 “Jesus o
intimou: ‘Cala-te e sai dele!’. 26 Então o espírito mau sacudiu o homem com
violência, deu um grande grito e saiu”.
Entre os judeus,
afirma Maldonado, havia exorcistas “que tinham certa arte secreta para expulsar
demônios por herança de Salomão, segundo nos narra Josefo”.15 São Lucas os
menciona nos Atos dos Apóstolos (19, 13-14) e Jesus diz serem filhos dos
fariseus (Mt 12, 27; Lc 11, 19). Mas eles cumpriam com seu ofício à custa de
enormes esforços, em cerimônias que duravam horas, às vezes dias consecutivos.
Nesta passagem, Nosso
Senhor diz simplesmente: “Cala-te e sai dele!”. E deve ter pronunciado essas
palavras com a maior “Santo Afonso Maria de serenidade e sobranceria, pois
Cristo não Ligório” - Igreja de Santo precisa fazer nenhum esforço para impor
Afonso, Cuenca (Equador) sua vontade. Ele impera de forma absoluta sobre todas
as coisas.
O Divino Mestre
começa por ordenar silêncio ao espírito mau. Ao dizer “cala-te”, nega-lhe o
ministério da palavra, privilégio exclusivo daqueles a quem Deus ama. Logo a
seguir, manda-o sair daquele homem. O demônio vê-se imediatamente obrigado a
obedecer.
Cristo quis,
entretanto, deixar patente diante de todos não ser aquele homem um doente, mas
sim um possesso. A violência com que o espírito mau o sacudiu ao sair e o
grande grito proferido, confirmaram a presença diabólica e o constrangimento
com que ele se retirava daquele corpo.
“Não
discuta com seu inimigo, nem lhe responda uma palavra sequer”
A análise da tática
usada neste episódio pelo “pai da mentira” nos leva, por fim, a tirar uma lição
para nossa vida espiritual: em seu objetivo de nos arrastar pelo caminho da
perdição, os espíritos maus estão sempre à espreita de entrarmos em
confabulação com eles, e servem-se para isso dos mais variados estratagemas.
Sendo anjos, tudo captam por intuição; são sagacíssimos e incomparavelmente
mais inteligentes do que qualquer homem.
Qual deve ser, então,
nossa atitude frente a eles nos momentos de tentação?
O fato de termos
aprendido a argumentar, fazer bons raciocínios, ou haver estudado psicologia de
nada adiantará nesta hora. O único meio válido para quem está sendo assediado
pelo demônio é não dar-lhe atenção, rezar e desviar para outros pontos o
pensamento e a imaginação. E pedir a Nosso Senhor que, como fez no caso deste possesso,
dê ao demônio uma ordem para que ele se afaste de nós.
Aconselha-nos a agir
deste modo o grande moralista Santo Afonso Maria de Ligório: “Tão logo
percebamos que se nos apresenta um pensamento suspeito, devemos rechaçá-lo no
mesmo instante, batendo-lhe, por assim dizer, a porta no nariz, negando-lhe
entrada em nossa mente, sem preocupar-nos em descobrir o que ele significa ou
pretende. É preciso expulsar sem demora essas más sugestões, como um homem
sacode as fagulhas que caem sobre sua roupa”.16
E São Francisco de
Sales, em sua famosa obra Introdução à vida devota, faz a mesma recomendação:
“Não discuta com seu inimigo, nem lhe responda uma palavra sequer. [...] Quando
assaltada pela tentação, a alma devota não deve perder tempo em discussões nem
argumentações”.17
“E a fama de Jesus logo se espalhou por toda parte...”
27 “E todos ficaram muito espantados e perguntavam uns
aos outros: ‘O que é isto? Um ensinamento novo dado com autoridade: Ele manda
até nos espíritos maus, e eles obedecem!’. 28 E a fama de Jesus logo se
espalhou por toda a parte, em toda a região da Galileia”.
A reação dos
circunstantes revela como este episódio facilitou-lhes a compreensão de Quem
tinham diante de si. Ou seja, querendo causar dano ao Divino Salvador, o
demônio acabou prestando-Lhe um serviço.
IV – Deus é sempre mais forte
Assim, quando a
provação nos afligir, ou a tentação nos atormentar, tenhamos a certeza de que o
“supremo e verdadeiro Chefe dos bons”18 está ao nosso lado, disposto a intervir
no momento mais oportuno para sua glória e nosso proveito espiritual.
O Jesus que hoje nos
aguarda na Santa Comunhão é o mesmo que expulsou o demônio em Cafarnaum e fez
toda espécie de milagres na Galileia. Sob o véu das Sagradas Espécies,
oculta-se a figura majestosa do “mais belo dos Filhos dos homens” (Sl 44, 3),
perante cuja onipotência é impossível ao demônio resistir.
1 SANTO INÁCIO
DE LOYOLA. Obras Completas. Madrid: BAC, 1952, p.186. Garrigou-Lagrange afirma
ser essa graça “eficaz por si mesma, porque Deus assim o quer, e não só por ter
previsto que nós a aceitaríamos sem resistência”
2 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. La predestinación
de los santos y la gracia. Buenos Aires: Desclée de Brouwer, 1947, p.280).
3 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la Perfección
Cristiana. 5.ed. Madrid: BAC, 1968, p.314.
4 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Somos hijos de Dios.
Madrid: BAC, 1977, p.63.
5 Cf. ROBERT, André; TRICOT, Alphonse. Initiation Biblique. 2.ed. Paris: Desclée & Cie,
1948, p.721-722.
6 Idem, p.722.
7 SÃO JERÔNIMO. Comentario al Evangelio de Marcos.
Homilía 2. In: ODEN, Thomas C. y HALL, Christopher A. La Biblia comentada por
los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.II,
p.68.
8 Cf. ROYO MARÍN, OP, Antonio. Jesucristo y la vida
cristiana. Madrid: BAC, 1961, p.104-124.
9 Cf. CASTRILLO AGUADO, Tomás. Jesucristo
Salvador. Madrid: BAC, 1957, p.311.
10 SANTO
AGOSTINHO. Enarrationes in Psalmos. Ps.44, c.3.
11 SÃO INÁCIO
DE LOYOLA, op. cit., p.186.
12 TUYA, OP, Manuel de; SALGUERO, OP, José. Introducción
a la Biblia. Madrid:
BAC, 1967, v.II, p.573.
13 SÃO JOÃO
CRISÓSTOMO, apud SÃO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea – Expositio in Marcum. c.1,
l.9.
14 Idem,
ibidem.
15 Cf. MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro
Evangelios. Madrid:
BAC, 1950, v.I, p.464.
16 SANTO
AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Obras Ascéticas. Madrid: BAC, 1952, v.I, p.498.
17 SÃO
FRANCISCO DE SALES. Obras selectas. Madrid: BAC, 1953, v.I, p.235.
18 SANTO
INÁCIO DE LOYOLA, op. cit., p.139.
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