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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

EVANGELHO II DOMINGO DA QUARESMA – ANO B – Mc 9, 2-10

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO II DOMINGO DA QUARESMA – ANO B – Mc 9, 2-10
II - UMA DEFICIENTE VISUALIZAÇÃO DO SALVADOR
Transfiguração do Senhor se deu numa ocasião de fundamental importância. Narra o Evangelho de São Mateus que este mistério ocorreu seis dias depois da confissão de Pedro (cf. Mt 17, 1), a qual tornara patente aos Apóstolos que Nosso Senhor era Deus e Homem verdadeiro (cf. Mt 16, 16). Em consequência da união entre a natureza divina e a natureza humana realizada na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus é inteiramente Homem — e, enquanto tal, sentia fome, sede e os efeitos de outras contingências —, mas tudo n’Ele é adorável, por ser Deus. Num aparente paradoxo em relação ao reconhecimento de sua divindade, Cristo predissera em termos claríssimos a futura Paixão (cf. Mt 16, 21), anúncio que os Doze não haviam assimilado, pois eles ainda alimentavam toda espécie de ilusões a respeito da conquista do poder temporal em Israel. Devem ter comentado largamente, ao longo desses dias, uma suposta vitória de alcance extraordinário, cuja máxima expressão seria o triunfo político, social e financeiro. Sucessos com que os homens de todas as épocas sonham e pelos quais, não raras vezes, se deixam inebriar, embora constituam apenas o resto a ser concedido desde que procuremos o principal, segundo o ensinamento de Nosso Senhor: “Buscai antes o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Lc 12, 31). Os discípulos, contudo, não tinham aprendido esta lição, apesar de toda a doutrina então recebida do Divino Mestre, e continuavam na expectativa de um reino terreno em que tudo seria maravilhoso, pois, afinal, o que não esperar de um Deus feito Homem, com domínio sobre a natureza? Jesus era Aquele que tinha solução para tudo e, portanto, a felicidade eterna ia se estabelecer sobre a face da Terra! Por isso a tendência dos Apóstolos, contrariamente ao que Nosso Senhor lhes comunicara, era julgar que a fase do sofrimento estava encerrada... Ilusão! Porque é só pela cruz que se chega à luz: “Per crucem ad lucem!”.
Escolhidos para sustentar a fé dos outros
Naquele tempo, 2 Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-Se diante deles.
Jesus escolheu três Apóstolos especialmente amados parapresenciar a Transfiguração, a fim de que, mais tarde, fossem  estes as testemunhas da sua divindade. Quando O contemplassem orando e suando Sangue no Horto das Oliveiras, e depois enfrentando os terríveis lances de sua Paixão e Morte, era preciso terem na lembrança esta experiência mística, para não perderem a fé. Com tal sustentação, nem sequer uma realidade tão dramática quanto a do Getsêmani poderia toldar a certeza plena adquirida no Tabor — onde Ele lhes mostrara sua verdadeira figura —, mediante a qual compreenderiam quem, de fato, estava sofrendo: o próprio Deus. Assim, Nosso Senhor desejava garantir aos Apóstolos que todos os acontecimentos futuros fossem para a sua glória.
Gloriosa manifestação
3 Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a Terra poderia alvejar.
Deste versículo se depreende que, já naquele tempo, havia pessoas especializadas em lavar as roupas primorosamente. Mas o Evangelista declara que em nenhuma parte da Terra — o que, de modo profético, abrange toda a História — alguém seria capaz de tornar quaisquer vestes tão brancas quanto as d’Ele. A transformação da aparência das roupas é sinal patente de que Nosso Senhor, como diz São Tomás,3 manifestou em seu exterior a glória de sua Alma, fazendo refulgir por alguns instantes a claridade, característica dos corpos gloriosos. Dado que a alma é a forma do corpo, a glória daquela redunda também na glória deste. Ora, se em virtude da união hipostática a Alma de Nosso Senhor foi criada na visão beatífica, o normal seria que seu Corpo gozasse de igual perfeição. No entanto, Cristo suspendeu para Si esta lei, por Ele mesmo estabelecida, assumindo um corpo padecente com vistas a operar a Redenção. Apesar disso, encontramos ao longo de sua vida uma série de circunstâncias em que Ele teve, de maneira miraculosa, determinadas propriedades do corpo glorioso: a sutileza, ao nascer, passando do claustro interior de Nossa Senhora para os braços d’Ela, sem feri-La nem causar-Lhe dano algum; a impassibilidade, quando quiseram apedrejá-Lo e matá-Lo em Nazaré, e Ele escapou ileso (cf. Lc 4, 29-30); a agilidade, caminhando sobre as águas (cf. Mt 14, 25); e a claridade, como vimos, na cena da Transfiguração, em que a brancura das vestes, dava “uma bela ideia da glória que nos está prometida. Quanto brilho tem ela, uma vez que ofusca até o próprio Sol! E quanto ela é abundante, pois tendo preenchido todo o Corpo, atravessa até as vestes! “.
Os representantes da profecia e da Lei prestam homenagem a Jesus
4 Apareceram-lhes Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.

Segundo a Lei de Moisés, duas testemunhas eram suficientes para haver certeza judicial (cf. Dt 17, 6; 19, 15). Assim, neste fato extraordinário, Nosso Senhor fez-Se acompanhar por Elias e Moisés. Ao primeiro, enquanto símbolo e expoente máximo do filão de profetas do Antigo Testamento, cabia testemunhar que Ele era Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade Encarnada. Já a presença de Moisés dava a entender que a legislação por ele promulgada tinha sido, na verdade, inspirada pelo Verbo. O Redentor não vinha, portanto, contra a Lei nem contra os profetas, mas era a realização de todos oráculos e o complemento final e aperfeiçoado da Antiga Lei.
Continua no próximo post

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