-->

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Evangelho XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 6, 1-6

Comentário ao Evangelho – XIV Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc 6, 1-6
“Naquele tempo, 1 Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos O acompanharam. 2 Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga. Muitos que O escutavam ficavam admirados e diziam: ‘De onde recebeu Ele tudo isto? Como conseguiu tanta sabedoria? E esses grandes milagres que são realizados por suas mãos? 3 Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco?’. E ficaram escandalizados por causa d’Ele. 4 Jesus lhes dizia: ‘Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares’. 5 E ali não pôde fazer milagre algum. Apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. 6 E admirou-Se com a falta de fé deles. Jesus percorria os povoados das redondezas, ensinando” (Mc 6, 1-6).
Admirar, essa alegria!
Iludido, busca o homem a felicidade nas sendas do egoísmo, julgando ser tão mais feliz quanto mais pensar em si. Ignora ele que a verdadeira alegria de alma se encontra somente na admiração, no voltar-se enlevado ao que é superior.
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I – O profeta, homem que comove as consciências
Ao nos criar, Deus teve em vista nossa participação em sua felicidade eterna. E para esse fim, em nenhum instante nos abandona, sempre velando sobre cada um como se fosse seu filho único. O cuidado da zelosa mãe em relação à criança, por exemplo, que a todos comove, não passa de um belo, mas pálido símbolo do amor divino.
Assim, criados para uma eternidade bem-aventurada, temos gravada em nossa alma a Lei Natural — que nos ordena fazer o bem e evitar o mal — e estamos à procura constante de Deus, como as plantas, pelo heliotropismo, sempre buscam a luz do Sol. Para nos auxiliar neste “teotropismo”, Deus, através de uma pessoa ou de alguma circunstância, nos estimula a procurá-Lo com mais zelo e amor. Tal papel desempenharam desde a Antiga Lei os profetas.
A voz do profeta, auxílio de Deus para atingirmos nossa finalidade
A noção corrente de profeta limita-se à de alguém com capacidade de prever o futuro. Entretanto, é importantíssimo frisar que, embora com frequência seja este um dos seus traços distintivos, contudo não é o principal e nem constitui a essência da sua missão. O principal múnus profético consiste em ser o guia do povo de Deus, indicando os caminhos para a salvação.
Historicamente, tendo quase toda a classe sacerdotal judaica sido infiel à sua missão, “tornou-se necessária a irrupção, na sociedade israelita, desses colossos da espiritualidade denominados profetas — procedentes, em sua maioria, do elemento secular da nação — para sanear religiosamente Israel. [...] Os valores espiritualistas da Lei adquirem então seu verdadeiro relevo, e foi tal a altura moral da pregação profética que só o ideal evangélico a superou”.1
É o que vemos na primeira leitura deste domingo: Deus envia Ezequiel como profeta para alertar aqueles homens de cerviz dura e coração empedernido que se desviaram do reto caminho: “Filho do homem, Eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de Mim. A esses filhos de cabeça dura e coração de pedra. Quer te escutem, quer não — pois são um bando de rebeldes —, ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 2, 3-5).
Ou seja, Israel rebelara-se contra Deus. E, em vez de castigo, por misericórdia, a esse povo é enviado um profeta, porta-voz que transmite a vontade divina advertindo contra os desvios cometidos e chamando à penitência. Por isso, não poderão os israelitas alegar a atenuante do desconhecimento, da inadvertência, pois “houve entre eles um profeta”.
Diante do profeta, submissão ou revolta
Ensina-nos a doutrina católica que, pelo Batismo, todos participamos do sacerdócio de Cristo e de sua missão profética e régia.2 Assim, enquanto batizados, somos profetas perante a sociedade, pois devemos, pelo exemplo de vida, testemunhar a verdadeira Fé, indicando o caminho para a salvação eterna e, se preciso, alertando contra os erros. Se isto se aplica a todo fiel leigo, a fortiori, o sacerdote que fala do púlpito, lembrando as verdades eternas, exerce a missão profética.
Ora, assim como, muitas vezes, por nossas misérias não somos dóceis à voz da consciência — que atua dentro de nós, como um profeta a nos lembrar o dever — e criamos sofismas para sufocá-la, também pode ser que nos irritemos com quem em relação a nós exerce o papel profético e nos invectiva justamente. Pois salvo uma graça, a tendência em geral do homem ao ser admoestado é a revolta interior.
É o que ocorre quando ao ouvir um sermão ou fazer uma leitura espiritual sentimos o aguilhão da consciência contra algum vício ou defeito e, por apego a este, não queremos dar ouvidos nem assentimento à voz da graça.
Esta triste situação de alma, mais comum do que se pode pensar, encontra sua arquetipia no Evangelho recolhido pela liturgia deste domingo: é o Profeta por excelência, Jesus Cristo, o qual veio anunciar a Boa Nova e indicar o Caminho que é Ele mesmo, “causa de queda e elevação de muitos em Israel” e “um sinal de contradição” para serem “revelados os pensamentos de muitos corações” (Lc 2, 34-35).
II – Reação do espírito humano diante da Superioridade

“Naquele tempo, 1 Jesus foi a Nazaré, sua terra, e seus discípulos O acompanharam. 2 Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga”.
Continua no próximo post

Nenhum comentário: