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quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Evangelho XXI domingo do Tempo Comum – Jo 6,60-69 – Ano B

Conclusão dos comentários ao Evangelho 21º domingo do Tempo Comum – Jo 6,60-69 – Ano B
Antídoto contra o pecado e fortaleza para a luta
Além disso, a Eucaristia é um grande antídoto contra o pecado, pois, segundo São Tomás de Aquino, além de nos conferir a graça, ela — que contém o Autor da graça, Cristo Jesus — aumenta em nós a caridade; diminui a concupiscência; por conseguinte, aumenta a devoção, perdoa os pecados veniais; etc. (13).
Esse Sacramento produz seus frutos, na alma que o recebe, “ex opere operato” (14). Entretanto, seus efeitos podem ser excelentes em maior ou menor grau, dependendo das disposições com as quais é recebido. Se a preparação interior for ótima, melhor será seu aproveitamento.
O rompimento e renúncia explícita a tudo quanto possa inclinar-nos ao pecado constitui condição essencial para obtermos a plenitude das graças conferidas pela Comunhão Eucarística.
Por outro lado, não devo me perturbar por causa de minhas debilidades e imperfeições, pois elas não me impedem de me aproximar da Sagrada Mesa, mas, pelo contrário, o Pão Vivo me dará fortaleza para a luta. Quer se trate de um vaidoso, um arrogante, um preguiçoso ou um tíbio, na Eucaristia ele encontrará a inspiração e a energia para trilhar o bom caminho.
Aliás, em nossa vida espiritual não são poucos os combates que devemos enfrentar contra o demônio, o mundo e a carne: “Requer-se a fortaleza do espírito para resistir a semelhantes dificuldades, do mesmo modo como o homem supera e repele, pela fortaleza corporal, os obstáculos materiais” (15).
Ora, onde buscar esse fortalecimento senão na Eucaristia? O salutaris Hostia (...) Bella premunt hostilia. Da robur, fer auxilium — canta tão belamente o imortal hino eucarístico: “Ó Hóstia Salvadora (...) Os inimigos premem-nos com hostilidades. Dai-nos resistência, trazei-nos ajuda!”
 63b As palavras que vos falei são espírito e vida.
“Ou seja — comenta São João Crisóstomo — elas são totalmente espirituais, nada têm de carnal, nem estão sujeitas aos efeitos naturais, e são isentas de qualquer necessidade terrena e de todas as leis desta terra.” (16)
IV – Crer para Ser vivificado
64Mas entre vós há alguns que não creem”. Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo.

Um dos melhores comentários a este versículo é feito por Santo Agostinho. Afirma ele que Jesus não se referiu à falta de entendimento, por querer denunciar diretamente a causa, ou seja, a ausência de fé nesses “alguns”. Com muita lucidez demonstra que não pode ser vivificado quem resiste à fé. E, como consequência, torna-se obtuso de entendimento:
“Quem não adere, resiste; quem resiste, não crê. E como pode ser vivificado quem resiste? (...) Creiam e seus olhos serão abertos; abram-se os olhos e serão iluminados” (17).
Sobre quem esse “alguns de vós” se referia, diz Maldonado: “A mim, no entanto, me agrada mais a opinião de Crisóstomo, que estende a todos os discípulos e ouvintes o alcance da queixa de Cristo, mas excetua deste número os apóstolos, apoiando-se no sentido geral da polêmica, que obriga a considerar Cristo em confronto com os que se tinham ofendido com suas palavras” (18).
Segundo alguns autores, ao afirmar João que Jesus “sabia desde o princípio”, quis referir-se ao conhecimento eterno d’Ele como Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Outros, porém, interpretam de forma diferente e julgam ter João indicado pela palavra “princípio” o momento que precedeu às murmurações entre os ouvintes.
65E acrescentou: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”.
Quem, com precisão e síntese, comenta estes dois versículos é Frei Manuel de Tuya, OP: “Mas esses ensinamentos de Cristo não encontraram em ‘muitos’ de seus discípulos a atitude de fé e submissão requeridas. E as palavras que eles qualificaram de ‘duras’ lhes endureceram a vida. E não ‘creram’ n’Ele. Abandonaram Cristo ‘desde então’ — seja no sentido causal (Jo 19, 12), seja no temporal (Jo 19, 27), embora ambos os sentidos aqui se unam, porque, sendo ‘então’ ou ‘desde então’, foi precisamente ‘por causa disto’. Num instante romperam com Ele, retrocederam, e já ‘não O seguiam’” (19).
Jesus põe à prova os Apóstolos
67Então, Jesus disse aos doze: “Vós também vos quereis ir embora?”
Há um determinado momento da caminhada para o Reino em que se torna necessário, de nossa parte, uma adesão consciente e explícita.
Jesus, com uma delicadeza divina, coloca ante seus Apóstolos o problema. Compreendia Ele o quanto agrada ao homem o apoio de suas amizades, mas discernia, de outro lado, a firme decisão previamente tomada por eles de O seguirem, o que Lhe permitia fazer essa pergunta para lhes tornar explícita a adesão à sua Pessoa.
A resposta de Pedro
68Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna.
Uma vez mais, São Pedro toma a palavra para, interpretando o desejo de todos, responder ao Divino Mestre. Tertuliano afirmará mais tarde: “Anima humana naturaliter christiana”. De fato, consciente ou inconscientemente, quando procuramos obter bens que nos trarão felicidade, é a Cristo que nós buscamos. Ninguém, como Ele, tem palavras de vida eterna. A esse propósito comenta Santo Agostinho que, de forma implícita, Pedro pede a Jesus para lhes conceder outro Ele mesmo, no caso de mandá-los embora.
Belo exemplo para nós, segundo São João Crisóstomo, ao vermos nossos irmãos abandonarem a Fé. Ainda que restemos poucos ou fiquemos até mesmo sozinhos, devemos permanecer na plena fidelidade, pois quem ou o que nos dará felicidade fora de Cristo?
69Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.
Santo Agostinho ressalta que Pedro, primeiramente, manifesta sua crença (“acredita”), para, em seguida, dizer que, por causa dela, entende (“sabe”). Segundo o Bispo de Hipona, se fosse ao contrário, não conheceria e nem acreditaria (20).
Essa declaração de Pedro é uma síntese de nossa Fé: “Jesus Cristo é o Filho de Deus vivo” e, evidentemente, aceitando-se o que Ele ensina, chega-se à plenitude dessa virtude.
V – A virtude da obediência
Sendo Deus o Senhor de toda a Criação, os seres inteligentes — anjos e homens — têm a obrigação de reconhecer, amar e servir esse senhorio. Os inanimados assim procedem fisicamente, e os irracionais, de forma instintiva. Ele é Senhor de todas as nossas faculdades e, sobretudo, de nosso entendimento e vontade. Daí ter afirmado São João da Cruz que no entardecer desta vida seremos julgados segundo o amor, pois estamos obrigados a querer o que Deus deseja que queiramos (21).
Ora, na ordem do universo está incluída a vontade do homem a qual, livremente, deve estar em harmonia com a de Deus através da virtude da obediência (22). Esta última não é uma virtude superior às teologais: Fé, Esperança e Caridade. Entretanto, é um meio veloz para unirmo-nos a Deus e sermos agradabilíssimos a Ele. Através dela fazemos uma entrega em suas adoráveis mãos com mais valor do que se fizéssemos qualquer sacrifício (23): “Aquele que diz conhecê-Lo e não guarda os seus mandamentos, é mentiroso (...) Mas quem guarda sua palavra, neste o amor de Deus é verdadeiramente perfeito. Nem sofrer o martírio, nem distribuir aos pobres todos os bens, têm mérito algum, se não se ordenam ao cumprimento da vontade divina” (24).
Aí está bem focalizado o convite à prática da obediência que nos é feito na Liturgia deste 21º Domingo do Tempo Comum: na primeira Leitura, com as palavras de Josué: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24, 15), obtendo do povo a resposta: “Nós também serviremos ao Senhor, porque Ele é nosso Deus” (24,18); também na epístola de Paulo: “Submetei-vos uns aos outros, no temor de Cristo (...) Cristo também é a cabeça da Igreja, seu Corpo (...) como a Igreja se submete a Cristo (...) como Cristo também amou a Igreja e Se entregou por ela” (Ef 5, 21-25); e, sobretudo, no Evangelho, a propósito da fé, causando-nos perplexidade aquela apostasia de “muitos discípulos”, que se recusaram a crer e, em consequência, a obedecer.
Excelente ocasião de um exame de consciência para quem vive em nossa época, que deve se perguntar: qual o grau de fé e de submissão a Deus, à Igreja e ao Evangelho, do homem dos tempos presentes?
1)       Suma Teológica III, q. 75, a. 1.
2)       Idem, a. 4.
3)       Id. ibid.
4)       Cfr. Suma Teológica III, q. 76, a. 4.
5)       Id., a. 1.
6)      Apud São Tomás de Aquino, Catena Áurea.
7)       Evangelho de São João comentado por Santo Agostinho, Gráfica de Coimbra, Coimbra, 1954, pp. 266267.
8)       Suma Teológica III, q. 73 a.3 ad 2.
9)      CIC, n. 2.837.
10)   Serm. 58, en la oct. del Corp., in Obras del Beato Avila, BAC, Madrid, t. 2, p. 921.
11)      Id. p. 922.
12)   “O cristão é um outro Cristo”.
13)    Cfr. Suma Teológica, III, q. 79, art. 1 a 6. 1
14)    “Operando por si mesmo”.
15)   Suma Teológica, II-II, q. 123.
16)   S. João Crisóstomo, apud S. Tomás de Aquino, Catena Aurea.
17)   Cfr. Evangelho de São João comentado por Santo Agostinho, Coimbra, Gráfica de Coimbra, 1954, vol. II, p. 269.
18)   ) Op. cit. p. 449.
19)    Bíblia Comentada, BAC, Madrid, 1964, v. II, pp. 1.116-1.117.
20)  Cfr. op. cit. p. 272.
21)   Cfr. Suma Teológica II-II, q. 104 a.4 ad 3.
22)   Id. a. 1 e 4.
23)   Id. a. 3 ad 1.
24)   Id.. a. 3.


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