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domingo, 14 de maio de 2017

Evangelho VI Domingo da Páscoa – Ano A

Comentários ao Evangelho VI Domingo da Páscoa – Ano A
"Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 15 ‘Se Me amais, guardareis os meus mandamentos, e Eu rogarei ao Pai, 16 e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: 17 o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não O vê nem O conhece. Vós O conheceis, porque Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. 18 Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. 19 Pouco tempo ainda, e o mundo não mais Me verá, mas vós Me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis. 20 Naquele dia sabereis que Eu estou no meu Pai e vós em Mim e Eu em vós. 21 Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse Me ama. Ora, quem Me ama, será amado por meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele'" (Jo 14, 15-21).
O amor íntegro deve ser causa do bem total
Praticar o bem exige cumprir os Mandamentos da Lei de Deus, sem admitir nenhuma concessão ao mal. Ora, a condição para observar os preceitos divinos é a caridade. Como alcançar, então, esse amor íntegro e sem mancha que nos conduz ao bem total?
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
I - O Espírito Santo é a alma da Igreja
Maravilhoso é o dom da vida! Tanto nos encantam a inocência e exuberância da criança quanto nos impressiona gravemente a consideração de um corpo humano sem vida. Inerte, encontra-se em estado de violência, de tragédia, dissonante de sua normalidade. Há pouco ainda, notava-se nele como todos os membros e órgãos, tão distintos entre si, entretanto se ordenavam em função da unidade dada pela alma. Ausente esta, o corpo inteiro entra em decomposição.
Fonte de unidade, vida e movimento
Isso que ocorre na natureza humana é imagem de algo muito mais elevado e misterioso: a relação da Igreja com o Espírito Santo. A propósito, esclarece Santo Agostinho: "O que é o nosso espírito, isto é, a nossa alma em relação a nossos membros, assim é o Espírito Santo em relação aos membros de Cristo, ao Corpo de Cristo que é a Igreja".1

Com efeito, o Espírito Santo, com toda a propriedade, é a alma da Igreja no sentido em que não lhe comunica seu ser substantivo divino, mas lhe dá unidade, vida e movimento. Não só isso, mas Ele a santifica, promove seu crescimento e esplendor, fazendo dela "o Templo do Deus Vivo" (II Cor 6, 16).
De modo que esse corpo moral extraordinário que é a Igreja, só tem verdadeira vitalidade sobrenatural por ação do Espírito Santo. É o que afirma o Papa Paulo VI: "O Espírito Santo habita nos crentes, enche e rege toda a Igreja, realiza aquela maravilhosa comunhão dos fiéis e une a todos tão intimamente em Cristo, que é princípio da unidade da Igreja".2
Ação santificadora sobre as almas
Em Jesus Cristo, a união da natureza divina com a humana tem por hipóstase o Verbo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. E nas almas dos justos, a graça santificante, que nos torna participantes da natureza divina, é atribuída por apropriação ao Divino Espírito Santo.3 É, portanto, Ele o promotor da nossa divinização (com "d" minúsculo), da nossa união com Deus. "No cristão" - explica o padre Royo Marín -, "a inabitação equivale à união hipostática na pessoa de Cristo, embora não seja ela, mas sim a graça santificante, que nos constitui formalmente filhos adotivos de Deus. A graça santificante penetra e embebe formalmente nossa alma, divinizando-a. Mas a divina inabitação é como a encarnação do absolutamente divino em nossas almas: do próprio ser de Deus tal como é em Si mesmo, um em essência e trino em pessoas".4
Para aproveitarmos convenientemente as graças da comemoração de Pentecostes, que se aproxima, a Liturgia deste domingo nos convida a considerar a maravilha da ação santificadora do Espírito Santo em nossas almas. Quão necessitado está o mundo, na situação presente, de um sopro especial d'Ele para mudar os corações e renovar completamente a face da Terra! É nesta perspectiva que devemos refletir nas sublimes palavras do Divino Mestre, propostas pela Igreja à nossa enlevada meditação neste dia.
II - O amor, condição para se cumprir a Lei
A passagem do Evangelho considerada hoje integra o grande "Sermão da Ceia" pronunciado por Jesus ao terminar o banquete pascal, após Judas Iscariotes ter-se retirado para consumar sua traição. São João foi o único evangelista a consignar este discurso, talvez o mais belo e mais admirável proferido pelos adoráveis lábios do Redentor.
A humildade manifestada momentos antes por Cristo ao lavar os pés de cada um de seus discípulos - que havia pouco disputavam o primeiro lugar... - gravara em suas almas uma profunda impressão da bondade divina e ao mesmo tempo tornara neles ainda mais intensa a consciência da própria indignidade. Por outro lado, o comovedor anúncio da traição de um dentre eles provavelmente os deixara desconcertados e aterrorizados. Por fim, a instituição da Sagrada Eucaristia, grande Sacramento de amor, estreitara ainda mais os laços que os uniam ao Senhor, incutindo-lhes confiança e abrindo-lhes os horizontes da vida eterna.
"O fato de Jesus ter falado só aos seus Apóstolos, aos quais acabava de instituir sacerdotes e de comunicar seu Corpo e Sangue" - comenta Gomá y Tomás -, "e de ser o último colóquio que com eles teria antes de sua morte [...] confere um relevo extraordinário a este discurso. Nele o Divino Mestre abriu de par em par seu pensamento e seu coração, dando-lhes o que poderíamos chamar a quintessência do Evangelho".5
15 "Se Me amais, guardareis os meus mandamentos..."
Quando contemplamos uma bela imagem de Nossa Senhora, ficamos encantados com a expressão que o artista soube imprimir aos traços fisionômicos, ressaltando esta ou aquela virtude a fim de estimular a piedade dos fiéis. Entretanto, bastaria um risco no rosto para desqualificar a obra inteira.
São Tomás, repetindo o princípio de Dionísio Areopagita nos ensina que o bem procede de uma causa íntegra, enquanto o mal, de qualquer defeito: "Bonum ex integra causa, malum ex quocumque defectu".6 E se desejamos a perfeição numa imagem de Nossa Senhora, devemos querê-la também, por coerência, no bem que praticamos, pois se nele houver qualquer defeito, já estará presente o mal. Precisamos, pois, nos esforçar para praticar os Mandamentos em sua integridade.
Dá significativo testemunho a este respeito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, recordando suas entusiasmadas reações nas aulas de Catecismo sobre os Dez Mandamentos: "Como eles são belos e apaziguam a alma! Lembro-me - há tantos anos! - de quando os aprendi; decorava-os e dizia para mim mesmo: ‘Que coisa bonita! Não mentir, não roubar, honrar pai e mãe, amar a Deus sobre todas as coisas, não tomar em vão seu Santo Nome, etc.' E, encantado, pensava: ‘Se todas as pessoas agissem assim, como o mundo seria belo e diferente do atual!'".7
Se amarmos esses divinos preceitos com o ímpeto e a força que de nós espera o Criador, teremos mais facilidade de observá-los, porque antes de tudo é preciso amar, conforme lê-se no Deuteronômio: "O que te pede o Senhor teu Deus? Apenas que O temas e andes em seus caminhos; que ames e guardes os Mandamentos do Senhor teu Deus, com todo o teu coração e com toda a tua alma, para que sejas feliz" (Dt 10, 12- 13). Precisamos, pois, acolher em nosso coração e amar os seus Mandamentos; ou seja, não basta procurar entendê-los racionalmente. Tendo verdadeiro amor e entusiasmo pelo Supremo Legislador, veremos como é bela a prática da virtude e como é horrenda qualquer ofensa a Ele.
Ora, como ter esse amor e onde encontrar forças para cumprir integralmente tal desejo de Nosso Senhor?
III - Preparação para a descida do Espírito Santo
15b "...e Eu rogarei ao Pai, 16 e Ele vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco:"
O termo Defensor - Paráclito, tradução do original grego Parakletos - significa etimologicamente "chamado a auxiliar", como o vocábulo latino Advocatus. Quando Se refere ao Espírito Santo como Defensor, Nosso Senhor emprega essa palavra no sentido de Advogado. Cabe ao advogado a função de defender em juízo a causa de seus clientes, apresentando todos os argumentos e provas para que estes não sejam condenados.
Ora, dada a contingência humana, todos nós cometemos faltas. Como afirma São João, com exceção apenas de Nossa Senhora e do próprio Jesus Cristo, Homem Deus, quem diz que não tem pecado é um mentiroso (cf. I Jo 1, 8).
Assim, todos somos réus e, com razão, tememos a justiça divina. Como nos apresentaremos diante do Juiz com essas lacunas, sem termos a integridade de que nos fala o versículo anterior? Por essa razão, o Divino Pastor nos promete enviar o Defensor para nos auxiliar na prática da Lei.
De fato, quando agimos bem, devemos ter certeza absoluta de que nossa boa ação não é fruto de nossa pobre natureza decaída, mas sim do indispensável auxílio da graça divina. Santa Teresinha experimentava claramente esta insuficiência ao escrever: "Sentimos que, sem o socorro divino, fazer o bem é tão impossível como trazer de volta o Sol ao nosso hemisfério durante a noite".8 Esse Defensor, afirma ainda Nosso Senhor, permanecerá para sempre conosco. Ou seja, estará agindo sem cessar, protegendo e consolando, embora não na mesma intensidade, e por vezes de modo imperceptível. Cabe-nos, assim, ouvirmos o que Ele nos diz no fundo da alma, seguindo os princípios e os ditames de nossa consciência. Para isso também, temos necessidade de uma graça divina.
Se formos fiéis a essas inspirações, teremos um Advogado contra as acusações apresentadas por nossa consciência e aquelas que o demônio fará a cada um de nós, no Juízo Particular.
Oposição entre o Espírito Santo e o mundo
17a "o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque não O vê nem O conhece".
O que leva o mundo a não ver nem conhecer o Espírito da Verdade?
Quem resolve seguir princípios contrários à Lei de Deus, procura deformar e aquietar a sua consciência, para não ouvir a voz do Espírito Santo que está sempre a indicar-lhe as retas vias da virtude e da santidade à qual todos - sem qualquer exceção - são chamados, conforme a doutrina bem explicitada pelo Concílio Vaticano II: "Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: ‘Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito' (Mt 5, 48) [...] É, pois, claro a todos que os cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade".9
Participar do relacionamento entre as três Pessoas divinas
17b "Vós O conheceis, porque Ele permanece junto de vós e estará dentro de vós. 18 Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós. 19 Pouco tempo ainda, e o mundo não mais Me verá, mas vós Me vereis, porque Eu vivo e vós vivereis. 20 Naquele dia sabereis que Eu estou no meu Pai e vós em Mim e Eu em vós".
A cena é emocionante. Nesse discurso de despedida, Nosso Senhor quer deixar patente que cada um de nós, batizados, faz parte desse relacionamento de familiaridade entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como o Pai está no Filho, a Trindade estará em mim, se eu amar a Deus e cumprir a Lei. O Espírito Santo estará em mim, e serei templo vivo d'Ele.
Como devemos, pois, cuidar desse templo, desse tabernáculo que somos nós mesmos, nunca permitindo que nele entre a desordem do pecado!
Não existe amor sem humildade
21a "Quem acolheu os meus mandamentos e os observa, esse Me ama".
Aqui o Divino Mestre retoma a ideia do início do Evangelho deste domingo: amar a Deus sobre todas as coisas significa praticar os Mandamentos. Nisto consiste a prova do verdadeiro amor.
Ora, podemos dizer que a base fundamental para acolher os Mandamentos da Lei de Deus se chama humildade. O orgulhoso confia em si, julga-se capaz de tudo e, por isso, não verá necessidade de crer num Deus onipotente. Para acolher os Mandamentos, deve-se rejeitar aquilo a que a natureza humana decaída aspira: ser considerada deus. A partir do momento em que a pessoa se inclina ao pecado, começa a ceder em matéria de orgulho ou de sensualidade, e se não receber uma proteção muito especial da graça, ela irá até o último limite do mal. Observa a este propósito o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: "Como os cataclismos, as más paixões têm uma força imensa, mas para destruir. Essa força já tem potencialmente, no primeiro instante de suas grandes explosões, toda a virulência que se patenteará mais tarde nos seus piores excessos".10
O perigo das concessões
De fato, as concessões ao pecado comparam-se a uma pequena bola de neve que se desprende do alto do monte, vai crescendo à medida que desce e acaba provocando uma avalanche. Aparentemente insignificantes no princípio, se não forem combatidas, podem levar a alma ao extremo desta absurda pretensão: "Hei de subir até o céu e meu trono colocar bem acima das estrelas divinas, hei de sentar- me no alto das montanhas pelas bandas do norte, onde os deuses se reúnem! Vou subir acima das nuvens, tornando-me igual ao Altíssimo" (Is 14, 13-14).
O delírio de querer ser Deus está incrustado em todo defeito consentido. Ilustra bem isso a tentação proposta a Eva pelo demônio, incitando- a a comer do fruto proibido: "No dia em que dele comerdes [...] sereis como deuses" (Gn 3, 5). Comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal era a única proibição que havia no Paraíso! Contudo, Adão caiu, e seu pecado produziu, segundo Lacordaire, "efeitos desastrosos, tais como o obscurecimento do espírito, o enfraquecimento da vontade, o predomínio do corpo sobre a alma e dos sentidos sobre a razão, consequências lamentáveis que nos são por demais reveladas pela experiência que fazemos, em nós mesmos, do império do pecado".11
Até hoje a humanidade inteira padece as consequências dessa primeira transgressão a uma ordem de Deus, cometida no Paraíso. E Nosso Senhor Jesus Cristo teve de encarnar-Se e voluntariamente derramar todo o seu sangue para repará-la. Por aí se mede quanto precisamos de vida interior, de oração e de vigilância para cortarmos logo no início tudo quanto possa nos conduzir ao pecado. O contrário desta situação nos é dado pelo maravilhoso convite do versículo seguinte.
Uma ideia equivocada de teofania
21b "Ora, quem Me ama, será amado por meu Pai, e Eu o amarei e Me manifestarei a ele".
Os Apóstolos, ainda por demais influenciados pela falsa concepção messiânica vigente em Israel, esperavam uma manifestação extraordinária de Nosso Senhor para o mundo inteiro, como se deram por vezes no Antigo Testamento. Imaginavam assim uma glorificação terrena de Jesus, o qual seria reconhecido pelo povo como o Messias libertador.
Meros interesses mundanos nesses homens, entretanto, chamados a serem as pilastras, os fundamentos da Santa Igreja Católica Apostólica e Romana!
Ora, uma demonstração inequívoca da divindade de Jesus tornaria a Fé menos meritória. Escutar, em meio a tremores de terra, nuvens de fumaça evolando-se da montanha, toques de trombetas, uma voz proclamando: "Eu sou o Deus de Israel...", levaria a uma aceitação do Messias mais pela evidência do que pela Fé, o que acabaria sendo inútil. Com efeito, já não haviam bastado os incontáveis milagres feitos pelo Divino Mestre diante de multidões? Quantos cegos passaram a ver, quantos paralíticos a andar, quantos leprosos ficaram limpos! Sem contar as multiplicações dos pães e dos peixes. A tudo o povo assistira de coração endurecido. Por acaso, na suprema hora da Paixão, algum desses miraculados por Jesus - e foram muitos! - levantou-se para defender seu grande Benfeitor?
Era necessária uma conversão, uma mudança de mentalidade daquele povo. Quando Nosso Senhor disse que Se manifestaria a quem guardasse sua palavra e O amasse, causou surpresa nos Apóstolos, como nos é revelado pela pergunta feita logo a seguir por Judas Tadeu: "Senhor, como se explica que Te manifestarás a nós e não ao mundo?" (Jo 14, 22). E a voz desse Apóstolo não passava de um eco do pensamento dos demais, conforme ouvimos pouco antes Filipe pedir: "Mostra-nos o Pai" (Jo 14, 8), e Tomé indagar: "Mas, Senhor, não sabemos para onde vais, como é que vamos saber o caminho?" (Jo 14, 5).
A manifestação de Jesus a quem O ama
Preocupados em presenciar algo retumbante, não viam os Apóstolos a grandiosa sublimidade que se passava diante deles. Comenta Royo Marín: "Ao revelar-nos sua vida íntima e os grandes mistérios da graça e da glória, Deus nos faz ver as coisas, por assim dizer, do seu ponto de vista divino, tal como Ele as vê. Faz-nos perceber harmonias de todo sobrenaturais e divinas que nenhuma inteligência humana, nem mesmo angélica, teria jamais conseguido perceber naturalmente".12
Descortinava-se pela fé uma maravilhosa realidade espiritual. "A fé infusa" - comenta Garrigou Lagrange -, "pela qual cremos em tudo quanto Deus nos revelou, porque Ele é a Verdade, é como um sentido espiritual superior que nos permite ouvir uma harmonia divina, inacessível a qualquer outro meio de conhecimento. A fé infusa é como uma percepção superior do ouvido, para a audição de uma sinfonia espiritual que tem Deus por Autor".13
Nosso Senhor nos promete aqui a maior das recompensas, que Ele explicita mais ainda no versículo seguinte: "Se alguém Me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e Nós viremos e faremos nele a nossa morada" (Jo 14, 23).
De fato, que mais se poderia dar ao homem, além de transformá-lo em morada do Pai, do Filho e do Espírito Santo? Mais do que isso, impossível. Diz São Tomás que tudo Deus poderia ter criado de forma mais bela, mais excelente, com exceção de três criaturas: Jesus, em sua humanidade santíssima; Maria, em sua humanidade e santidade perfeitíssima, e a visão beatífica.14 Ora, aqui nos diz Jesus que já nesta Terra começamos a ser morada do Pai, do Filho e do Espírito Santo, tendo portanto uma vida incoativa, semente de glória posta em nossa alma, que se desabrochará por inteiro na eternidade.
Nisso consiste a manifestação de Nosso Senhor a quem amar e guardar sua palavra: será transformado num tabernáculo da Santíssima Trindade! Sem fenômenos extraordinários, no silêncio, no recolhimento, algo indizível se passará entre as Três Pessoas da Santíssima Trindade e a alma. Quantas vezes não sentimos no fundo da alma a presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, por exemplo, quando por amor a Ele resistimos à tentação e evitamos o pecado?
IV - Peçamos a Maria a vinda do seu Divino Esposo
A Liturgia do 6º Domingo da Páscoa, insistindo na necessidade do amor para o cumprimento da Lei, nos convida a estarmos sempre abertos às inspirações do Defensor e, em consequência, seremos mais mansos e bondosos, inteiramente flexíveis e desejosos de fazer bem a todos.
Ainda a Divina Providência, por misericórdia, nos concede uma incomparável Intercessora que jamais Se cansará de ajudar-nos: "Maria é a porta oriental de onde sai o Sol de Justiça, a porta aberta ao pecador pela misericórdia [...] Ela será aberta e não será fechada. O povo se aproximará sem temor. Glorificando a Mãe do Senhor, ele O adorará. Recorrendo a Maria e prestando-Lhe suas homenagens, colherá os frutos do holocausto oferecido por Jesus".15
Peçamos à divina Esposa do Paráclito, Mãe e Senhora nossa, que nos obtenha a graça da vinda o quanto antes deste Espírito regenerador a nossas almas, conforme suplica a Santa Igreja: "Emitte Spiritum tuum et creabuntur, et renovabis faciem terræ" - "Enviai o vosso Espírito e tudo será criado, e renovareis a face da Terra".
Tudo, portanto, está ao nosso alcance para sermos o que devemos ser, e assim recebermos o prêmio imerecido do convívio eterno com a Santíssima Trindade.
1 SANTO AGOSTINHO. Sermão 268, 2: PL 38, 1232, apud CIC 797.
2 PAULO VI. Unitatis redintegratio, n.2.
3 Cf. SAURAS, OP, Emilio. El Cuerpo Místico de Cristo. 2.ed. Madrid: BAC, 1956, p.811-814.
4 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Somos hijos de Dios. Madrid: BAC, 1977, p.48.
5 GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.IV, p.196.
6 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q.18, a.4, ad.3; q.19, a.6, ad.1; q.71, a.5, ad.1; II-II, q.79, a.3, ad.4.
7 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Consagração a Nossa Senhora e a graça divina. In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano VIII. N.89 (Ago., 2005); p.24.
8 SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS. Histoire d'une âme. Bar-le-Duc: St. Paul, 1939, p.183.
9 CONCÍLIO VATICANO II. Lumen gentium, n.40.
10 CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Revolução e Contra--Revolução. 5.ed. São Paulo: Retornarei, 2002, p.44.
11 LACORDAIRE, OP, Henri-Dominique. Conférences de Notre-Dame de Paris. Paris: J. de Gigord, 1921, v.IV, p.312.
12 ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teologia de la Perfección Cristiana. 5.ed. Madrid: BAC, 1968, p.475.
13 GARRIGOU-LAGRANGE, OP, Réginald. Les trois ages de la vie intérieure. Montréal: Lévrier, 1955, v.I, p.67.
14 SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I, 25, a.6, ad.4: "A humanidade de Cristo, pelo fato de estar unida a Deus; a Bem-Aventurança criada, por ser o deleitar-se em Deus; e a Bem-Aventurada Virgem, por ser a Mãe de Deus, têm até certo ponto infinita dignidade, provinda do bem infinito que é Deus. Sob este aspecto, nada pode ser feito melhor do que eles, como nada pode ser melhor do que Deus".
15 JOURDAIN, Zèphy-Clément. Somme des Grandeurs de Marie. 2.ed. Paris: Hippolyte Walzer, 1900, v.I, p.694.


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