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quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Comentário ao Evangelho Domingo da Sagrada Família Lc 2, 41-52 Ano C


41 “Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa. 42 Quando Ele completou doze anos, subiram para a festa, como de costume. 43
Passados os dias da Páscoa, começaram a viagem de volta, mas o Menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. 44Pensando que Ele estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-Lo entre os parentes e conhecidos. 45 Não O tendo encontrado, voltaram para Jerusalém à sua procura.
46 Três dias depois, O encontraram no Templo. Estava sentado no meio dos mestres, escutando e fazendo perguntas. 47 Todos os que ouviam o Menino estavam maravilhados com sua inteligência e respostas. 48 Ao vê-Lo, seus pais ficaram muito admirados e sua mãe Lhe disse: ‘Meu filho, por que agiste assim conosco? Olha que teu pai e Eu estávamos angustiados, à tua procura’. 49 Jesus respondeu: ‘Por que Me procuráveis? Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai?’. 50 Eles, porém, não compreenderam as palavras que Lhes dissera. 51 Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e era-Lhes obediente. Sua Mãe, porém, conservava no coração todas essas coisas. 52 E Jesus crescia em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e diante dos homens (Lc 2, 41-52).
Comentário ao Evangelho Domingo da Sagrada Família Lc 2, 41-52
Como encontrar Jesus na aridez?
Há momentos de nossa vida espiritual em que também nós “perdemos o Menino Jesus”. Ou seja, com ou sem culpa, a graça sensível pode desaparecer. Para reencontrá-Lo, devemos procura-Lo por meio da oração e dos seus ensinamentos.
O paradoxo da Sagrada Família
Uma bela metáfora oriental, relatada pelo presbítero Hesíquio de Jerusalém (séc. V), narra que a Santíssima Trindade estaria num verdadeiro impasse, por serem as três Pessoas totalmente iguais. E seria preciso haver algum acontecimento pelo qual o Pai pudesse ser louvado enquanto pai, o Filho ser inteiramente filho, e o Espírito Santo dar mais ainda do que já havia dado. Nessa dificuldade, a solução teria surgido no momento em que Nossa Senhora aceitou a encarnação do Verbo em seu virginal corpo, tornando-Se, deste modo, o “complemento da Santíssima Trindade”.1
Para a realização de tão grande mistério, “Deus Pai transmitiu a Maria sua fecundidade, na medida em que a podia receber uma simples criatura, para que Ela pudesse produzir o seu Filho e todos os membros de seu Corpo Místico”, afirma o grande São Luís Grignion de Montfort.2 E o “Espírito Santo, que era estéril em Deus, isto é, não produzia outra pessoa divina, tornou-Se fecundo em Maria. É com Ela, n’Ela e d’Ela que Ele produziu sua obra prima, um Deus feito homem, e que produz todos os dias, até o fim do mundo, os predestinados e os membros do corpo deste Chefe adorável”.3
Assim, o Filho Se teria feito Homem não só para nos redimir, mas também para, com toda propriedade, poder chamar de pai a Primeira Pessoa Divina. Pois faria isto de dentro da natureza humana, inteiramente como filho e devedor, porque, como homem, deveria a Ele sua existência e, portanto, teria obrigação de restituir-Lhe o que dEle recebeu.
Eis o motivo pelo qual, segundo Hesíquio, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade aniquilou-Se a Si mesma, fazendo-Se semelhante aos homens (cf. Fl 2, 7), e operou, de dentro da natureza humana, a nossa Redenção. Qual novo Adão no Paraíso Terrestre, “encontrou sua liberdade em Se ver aprisionado no seio da Virgem Mãe”.4
Quem é mais, manda menos
À primeira vista, a constituição da Sagrada Família é um mistério. Pois nela quem tem mais autoridade é São José, como patriarca e pai, com direito sobre a esposa e sobre o fruto de suas puríssimas entranhas.
A esposa é Mãe de Deus, Mãe da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Sendo Mãe, tem Ela poder sobre um Deus que Se encarnou em Seu seio virginal e Se fez seu filho.
Nosso Senhor Jesus Cristo, como filho, deve obediência a esse pai adotivo, aceitando em tudo a orientação e a formação dada por José; e também à sua Mãe, criatura Sua. Que imenso, insondável e sublime paradoxo!
Assim, na ordem natural, José é o chefe; Maria, a esposa e mãe; e Jesus, a criança. Porém, na ordem sobrenatural, o Menino é o Criador e Redentor; Ela, a Medianeira de todas as graças, Rainha do Céu e da Terra; e José, o Patriarca da Igreja. José, o que de si tem menos poder, exerce a autoridade sobre Nossa Senhora, a qual tem a ciência infusa e a plenitude da graça, e sobre o Menino, que é o Autor da graça.
Deus ama a hierarquia
Por que dispôs Deus essa inversão de papéis?
Assim fez para nos dar uma grande lição: Ele ama a hierarquia e deseja que a sociedade humana seja governada por este princípio, do qual o próprio Verbo Encarnado quis dar exemplo.
Bem podemos imaginar, na pequena Nazaré, a prestatividade, a sacralidade e a calma de Jesus, auxiliando José na carpintaria: serrando madeira, pregando as peças de uma cadeira, quando bastaria um simples ato de vontade Seu, para serem imediatamente produzidos, sem necessidade sequer de matéria-prima, os mais esplêndidos móveis, jamais vistos na História.
Entretanto, afirma São Basílio, “obedecendo desde sua infância a seus pais, Se submeteu Jesus humilde e respeitosamente a todo trabalho braçal”.5 Assim, logo que São José mandasse — e com que veneração! — o Filho fazer um trabalho, Este Se punha a executá-lo!
Pois agindo dessa maneira — honrando o pai que estava na terra e aceitando, por exemplo, fazer um móvel de acordo com as regras da natureza — dava Jesus mais glória a Deus Pai, que O havia enviado. Afirma São Luís Grignion, a propósito de sua obediência a Nossa Senhora: “Jesus Cristo deu mais glória a Deus submetendo-Se a Maria durante trinta anos, do que se tivesse convertido toda a terra pela realização dos mais estupendos milagres”.6
Assim, temos dentro da própria Sagrada Família um impressionante princípio de amor à hierarquia, porque, uma vez que Jesus havia desejado nascer e viver numa família, Ele honrava pai e mãe, mesmo sendo onipotente e o Criador de ambos.
Uma vida de aparência normal
Não devemos supor que na Sagrada Família tudo era absolutamente místico, sobrenatural e pleno de consolações.
Do Menino Jesus não se pode dizer que vivia de fé porque sua alma estava na visão beatífica. Entretanto, quis que seu corpo tivesse o desenvolvimento normal de um ser humano. Assim, por exemplo, não nasceu falando, embora pudesse falar todas as línguas do mundo.
Nossa Senhora e São José levavam também uma vida inteiramente comum na aparência e, como todos os homens, sofreram perplexidades e angústias. Disto nos dá um exemplo o Evangelho deste domingo: “Teu pai e Eu estávamos, angustiados, à tua procura”.
Verdadeiro Deus e verdadeiro homem
A descrição de São Lucas é a mais minuciosa apresentada pelos Evangelhos a respeito dos trinta anos de vida oculta de Nosso Senhor, junto aos pais, o que leva a supor que o episódio lhe tenha sido relatado pela própria Nossa Senhora.
Continua no próximo post

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