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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Evangelho 3º Domingo do Advento Ano C Lc 3, 10-18

Comentários ao Evangelho Lc 3, 10-18  3ºDomingo do Advento
Naquele tempo, 10as multidões perguntavam a João: "Que devemos fazer?" 11João respondia: "Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!"
12Foram também para o batismo cobradores de impostos, e perguntaram a João: "Mestre, que devemos fazer?" 13João respondeu: "Não cobreis mais do que foi estabelecido".  14Havia também soldados que perguntavam: "E nós, que devemos fazer?" João respondia: "Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com o vosso salário!"
15O povo estava na expectativa e todos perguntavam no seu íntimo se João não seria o Messias. 16Por isso, João declarou a todos: "Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo. 17Ele virá com a pá na mão: vai limpar sua eira e recolher o trigo no celeiro; mas a palha ele a queimará no fogo que não se apaga". 18E ainda de muitos outros modos, João anunciava ao povo a Boa Nova. Lc 3, 10-18
 
‘Alegrai-vos”, mas... como?
No dia em que a Liturgia Católica oferece ao fiel uma pausa jubilosa em meio à penitencia do período de Advento, o Precursor nos indica o “que devemos fazer” para encontrar a verdadeira alegria, tão ansiada por toda criatura.
UM REMANSO DE ALEGRIA EM MElO  PENITÊNCIA
A Liturgia da Igreja reúne sucessivamente, ao longo do ano, os mais variados sentimentos: a tristeza na Semana Santa; o gáudio transbordante, porém cheio de temperança, na Ressurreição; a esperança durante o período do Tempo Comum; o júbilo festivo nas grandes solenidades. Em certo momento ainda, nos deparamos com uma manifestação — quiçá uma das mais acentuadas dentro da Liturgia — de conforto e felicidade em meio à penitência. Essa é a nota característica de dois domingos únicos no ano: o 4º Domingo da Quaresma, que leva o título de Lætare, e o 3º Domingo do Advento, designado pelo nome de Gaudete. Neste último, sobre o qual refletiremos, a Igreja abre um parêntese na ascese e na preocupação constante de uma conversão — atitudes próprias à época do Advento e preparativas para a vinda de Nosso Senhor — para tratar da alegria, infundindo-nos novo ânimo.
“Alegrai-vos sempre no Senhor!”
Gaudete, primeira palavra da antífona de entrada da Missa do dia, significa “alegrai- vos”, e é extraída da epístola de São Paulo aos filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito: alegrai-vos. [...] 0 Senhor está próximo!” (F14, 4-5). Com efeito, a esperança no nascimento de Jesus deve ser acompanhada de sinceros desejos de mudança de vida. Estas moções interiores precisam, no entanto, de um estímulo, e é justamente o que recebemos neste 3º Domingo de Advento: as flores voltam a ornar os altares, os instrumentos tornam a tocar durante a Celebração Eucarística e os paramentos se tingem de suave róseo para simbolizar a exultação e a ideia de um descanso. Toda a Liturgia, inclusive as leituras e orações, está centrada no gáudio, porque nossa Santa Religião não caminha para a tristeza nem nos conduz para uma vida de eternos sofrimentos, mas, pelo contrário, nos abre a perspectiva de um futuro feito de júbilo e consolação.
Só em vista dessa felicidade tem sentido estarmos dispostos a sofrer, conforme nos explica o mesmo Apóstolo: se não fosse a Ressurreição de Nosso Senhor, vã seria nossa fé (cf. I Cor 15, 14). A Ressurreição de Cristo é a promessa da nossa própria ressurreição e, portanto, do nosso gozo eterno. Qual seria o valor de todo o esforço feito durante a vida, se não houvesse a garantia final de um prêmio, de uma eternidade feliz? Sem este incentivo nós desanimaríamos. Assim sendo, toda a nossa atenção deve-se concentrar num só ponto: em determinado momento estaremos no convívio com Deus!
Tal é o empenho da Liturgia deste domingo: encher-nos de gáudio em vista do futuro. Devemos, então, considerar o Evangelho partindo da perspectiva desse júbilo sobrenatural, fundado no fato de sermos filhos de Deus e de termos a promessa de uma eternidade junto a Ele, se perseverarmos nas vias do bem, até o fim.
Uma Liturgia pervadida pela alegria
A primeira leitura proclama o fim da profecia de Sofonias: “Canta de alegria, cidade de Sião; rejubila, povo de Israel! Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! O Senhor revogou a sentença contra ti, afastou teus inimigos; o rei de Israel é o Senhor, ele está no meio de ti, nunca mais temerás o mal. Naquele dia, se dirá a Jerusalém: ‘Não temas, Sião, não te deixes levar pelo desânimo! O Senhor, teu Deus, está no meio de ti, o valente guerreiro que te salva; ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa” (Sf 3, 14-18a).
Embora seja este um profeta de tragédias e denúncias, esta passagem é um prenúncio de contentamento e consolo, pois quem seriamente considera as maravilhas do futuro, mesmo enfrentando grandes sofrimentos, está sempre cheio de alegria. Por isso, quando um bom católico é atingido por uma doença ou passa por algum desastre, sabe mostrar uma resistência e uma resignação fora do comum, pois conhece Alguém acima dele — Nosso Senhor Jesus Cristo —, que sofreu incomparavelmente mais, a fim de proporcionar-lhe a felicidade extraordinária de viver na eternidade junto d’Ele.
Também a segunda leitura — a mencionada carta de São Paulo — confirma esta exultação, ao dizer: Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos. Que a vossa bondade seja conhecida de todos os homens! O Senhor está próximo!” (Fi 4, 4-5).
O Apóstolo das Gentes escreveu esta epístola quando se encontrava na lúgubre prisão onde fora encarcerado, em Roma (cf. Fi 1, 7.13.17). A História nos mostra quão inumanos eram os cárceres de então. Segundo Holzner, “a Antiguidade Cristã está cheia de protestos acerca dos maus tratos e das péssimas condições de vida a que se submetiam os prisioneiros, bem como do terrível estado em que se encontravam as prisões romanas. [...] Os próprios romanos consideravam a pena de prisão como um terrível sofrimento, cruciatus immensus, e as queixas relativas à elevada mortalidade dos prisioneiros não tinham fim”.1 Entretanto, mesmo nessa situação Paulo exorta: “alegrai-vos”. Seu coração está transbordante de júbilo e, em circunstâncias tão adversas, tal contentamento não pode ser natural, de carácter mundano ou carnal, mas divino, oriundo do alto, penetrando até o fundo do coração e capaz de passar por cima de qualquer sofrimento. Absolutamente nada o fazia estremecer: “Não vos inquieteis com coisa alguma” (Fl 4, 6).
Esse é o dever de todo batizado. Temos, como ninguém, a possibilidade de fazer o bem, pois no Batismo recebemos a infusão de todas as virtudes e dons do Espírito Santo, como um maravilhoso organismo sobrenatural que, movido pela graça atual, nos permite realizar atos meritórios. Por esse motivo devemos ter a compenetração de que quando praticamos uma obra boa, não o fazemos por nossa própria natureza decaída, mas pela ação da graça, tesouro depositado em nós pelo próprio Deus, razão do gáudio sobrenatural que sentimos.
Diante da aproximaçõo do Salvador: alegria.., e conversão!
Por tudo isso, ante a proximidade do nascimento de Nosso Senhor, a Igreja deseja para os fiéis a degustação — um tanto antecipada — das consolações, fervores e toques da graça própria às doçuras da festa do Natal. Neste 3º Domingo, portanto, uma nova etapa se abre no Advento: o 1º Domingo fez uma clara referência à vinda do Salvador; o 2º tornou ainda mais expresso e aberto o mesmo anúncio; e agora se afirma, pela pena de São Paulo, “O Senhor está próximo!”.
Ora, se a razão pela qual nós devemos nos alegrar é o nascimento de Jesus, temos de fundamentar esse contentamento no cumprimento da Lei de Deus, no desejo contínuo de uma transformação interior. O Evangelho desta Liturgia projeta, mais uma vez, a profética figura do Precursor, chamando todos para isso.
1)      HOLZNER, Josef. Paulo de Tarso. São Paulo: Quadrante, 1994, p.558.

Continua no próximo post

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