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sábado, 2 de fevereiro de 2013

Evangelho 5º Domingo do Tempo Comum Lc 5 1-11 - Ano C 2013

Comentários ao Evangelho Lc 5 1-11  5º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013
Deus nos protege e ensina
Inegável é a forca de expressividade do reino animal para o homem, sobretudo quando oferece a sua análise circunstâncias que lembram situações e pequenos fatos da vida humana. Tais atrativos da fauna, tão habituais nas regiões campestres, despertam particular atenção quando colocam em evidência um dos seus mais ricos e vigorosos predicados: o instinto materno. Manifesta-se este não só no zelo pela alimentação e proteção dos filhotes, como também no cuidado de prepará-los para lhes permitir sobreviver em meio às vicissitudes da existência.
Não há quem, transitando por alguma rua de terra numa localidade rural, não tenha visto a característica cena: uma galinha cruzando o caminho, seguida por um de seus pintainhos. Enquanto o pequenino tenta, com não pouco esforço, acompanhar a mãe — pois a desproporção entre ambos obriga-o a dar vários passos para percorrer a distância que a galinha transpõe com apenas um —, ela parece ignorar os apuros do filhote, em virtude da velocidade de seu deslocamento. Mas, na verdade, está tão atenta à cria que, se perceber qualquer sinal de ameaça, sua reação para defendê-la será imediata e enérgica, mostrando-se disposta a dar a própria vida, se necessário for, para resguardá-la do perigo.
Ora, o instinto materno — muito mais profundo no gênero humano — é um tênue reflexo dos desvelos d’Aquele que, além de Criador, quis estreitar seu relacionamento com o homem, elevando-o à condição de filho, ao fazê-lo partícipe de sua própria vida divina pela graça, como exclama São João: “Olhai que amor teve o Pai para nos chamar filhos de Deus, e nós o somos!” (I Jo 3, 1).
Como verdadeiro Pai, o Altíssimo não cessa de proteger, amparar e atrair a Si todas as criaturas humanas, velando continuamente por elas. E, excedendo de modo infinito os cuidados empregados pela mãe ao predispor os filhos para bem enfrentar a vida, o Divino Didata conduz os homens — por meio de processos tão diversos quanto o são as almas — à realização da vocação específica que sua Sabedoria outorga a cada um.
Passemos, agora, a considerar o Evangelho deste 5º Domingo do Tempo Comum, a partir dessa perspectiva.
A PESCA MILAGROSA
O encontro de Nosso Senhor com os primeiros discípulos, relatado por São João (cf. Jo 1, 35-42), é pressuposto importante para compreendermos o trecho do Evangelho apresentado pela Liturgia. Ao contrário das escolas rabínicas e gregas da época, nas quais os homens ingressavam movidos por uma escolha pessoal, o próprio Jesus, com autoridade divina, elegeu seus seguidores, como Ele mesmo afirmou: “Não fostes vós que Me escolhestes, mas Eu vos escolhi” (Jo 15, 16). Acompanhando-O durante o ministério preliminar, esse pequeno grupo recebia os ensinamentos de Cristo e presenciava seus milagres, a começar pelo das bodas de Caná; nessa ocasião o Mestre “manifestou a sua glória e os seus discípulos creram n’Ele” (Jo 2, 11).
No entanto, os primeiros seguidores do Messias não foram logo de início constituídos apóstolos. Tal encargo os levaria a estreitar os vínculos de união com o Mestre, fazendo-os participar do próprio poder d’Ele, além de exigir a dedicação integral à vocação, assim como o abandono dos seus e das ocupações alheias ao serviço missionário. Antes de receber esse chamado — para o qual Jesus os preparava de maneira paulatina, com sublime pedagogia —, conciliavam o tempo entre o discipulado e as atividades profissionais, necessárias para a subsistência própria e das respectivas famílias. Para Simão, André e os dois filhos de Zebedeu — Tiago e João —, todos pescadores, isso significava longas jornadas, com muita frequência noturnas, sobre as piscosas águas do lago de Genesaré.
É precisamente após uma dessas noites que se dá o fato descrito na passagem de São Lucas hoje contemplada.
Pregação às margens do lago de Genesaré
Naquele tempo, 1Jesus estava na margem do lago de Genesaré, e a multidão apertava-se a seu redor para ouvir a palavra de Deus.
O quadro geográfico no qual se situa o lago de Genesaré permite considerá-lo como autêntica preciosidade da natureza. Enquanto montanhas sóbrias e de contorno regular o circundam a leste, elevações de perfil tortuoso e desigual formam uma peculiar cordilheira a oeste. Completando a riqueza do panorama, na direção setentrional divisa-se o Monte Hermon, com seu cimo coberto de neve durante boa parte do ano. Contudo, apesar de tal beleza natural, poucas são as referências ao lago no Antigo Testamento,’ pois ele só se tornou célebre após ter sido palco das numerosas passagens da vida do Redentor, descritas nos Evangelhos. A primeira delas, segundo a cronologia, é esta relatada por São Lucas.
Após narrar diversos milagres e pregações de Jesus, na Galileia, logo no início de sua vida pública, o Evangelista registra sua retirada para um lugar afastado; todavia as multidões “foram até onde Ele estava e queriam detê-Lo, para que não as deixasse” (Lc 4, 42). Mais do que pelos prodIgios e ensinamentos, o povo O seguia devido à extraordinária atração exercida por Ele. O desejo de vê-Lo, ouvi-Lo e estar próximo d’Ele fazia com que a aglomeração dos seguidores, reunida agora às margens do lago, se comprimisse ao redor de Nosso Senhor, criando uma situação pouco propícia à pregação.
Continua no próximo post.

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