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terça-feira, 4 de junho de 2013

EVANGELHO X DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO C - 2013

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 10º DOMINGO DO TEMPO COMUM  ANO C 2013  Lc 7, 11-17
O efeito causado na multidão
16 “Todos ficaram com muito medo e glorificavam a Deus, dizendo: ‘Um grande profeta apareceu entre nós e Deus veio visitar o seu povo’”.
Diante de tamanho prodígio, a estupefação e o medo tomaram conta de todos. Haviam constatado no Mestre a presença de uma virtude absoluta e totalmente sobre-humana, prova irrefutável de que Ele era profeta. Com efeito, era costume o profeta demonstrar, por meio de algum sinal, a autenticidade de sua missão (cf. I Sm 2, 34; II Rs 19, 29; 20, 8-9; Ez 24, 24). Nosso Senhor, nesse caso, não recebeu o título de profeta, mas o de grande Profeta, pois, como vimos, revelou ter poder sobre a vida e a morte. “Essa estupefação respeitosa” — comenta Lagrange — “não é senão o prelúdio dos louvores dados a Deus. As multidões chamam profeta a Jesus, e não filho de Deus, como os demônios (cf. Lc 4, 41), já que estes têm as vistas sobre o mundo invisível, enquanto os homens procuram analogias no passado, em que alguns profetas haviam ressuscitado mortos. Nenhum deles, entretanto, o fizera com uma palavra; por isso consideram Jesus como um grande profeta, o esperado para o tempo da salvação”.16 Ora, a função fundamental do profeta não é a de prever o futuro, mas sim a de ser guia do povo e apontar-lhe o rumo de sua trajetória. Portanto, nesse episódio da vida pública do Homem-Deus, vemo-Lo manifestar-Se enquanto caminho e vida, como mais tarde Ele mesmo afirmará: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6).
Por que sentiram medo?
Foram também dominados pelo medo os que ali estavam ao tomar contato com o sobrenatural e concluir que, de fato, Deus visitara o seu povo. Porque, embora sabendo da existência de Deus pela Revelação, muitos viviam submergidos no ateísmo prático, tendo-O inteiramente ausente de suas cogitações e obras. Eram capazes de falar d’Ele, no entanto moldavam a vida como se n’Ele não acreditassem. Naquele momento, porém, sentindo sua proximidade, é muito provável que a consciência se tenha despertado no interior de cada um, apontando as próprias misérias e censurando as faltas cometidas no passado.
Aqui podemos nos perguntar: e nós, em nossa vida concreta, cremos em Deus? Ou adotamos uma forma de vida materialista, pela qual acreditamos apenas teoricamente e, na prática, vivemos como se Ele não existisse?
Uma projeção fulgurante da figura de Nosso Senhor
17 “E a notícia do fato espalhou-se pela Judeia inteira e por toda a redondeza”.
Naqueles remotos tempos, não havendo os meios de comunicação atuais — rádio, telefone, televisão, internet e nem sequer jornal —, a transmissão das notícias era feita oralmente. As novidades se espalhavam de maneira mais natural e mais autêntica, ao contrário de nossos dias em que, devido à velocidade dos novos inventos, vão perdendo elas, pouco a pouco, a penetração nas mentes, tal o excesso de informação. Dessa forma, o relato desse extraordinário milagre se espalhou por toda a Judeia, e é bem provável que por toda a Palestina, ultrapassando até os limites da região. O nome do grande Taumaturgo da Galileia adquiria, assim, uma fama crescente.
O SIGNIFICADO MÍSTICO DO MILAGRE
O episódio da ressurreição do filho da viúva de Naim encerra um profundo significado místico. Depois da queda do homem, no Paraíso, o pecado transmitiu-se, de pai para filho, a toda a sua posteridade. Manchada pela culpa original, a humanidade jazia como morta, merecedora da eterna condenação, tendo as portas do Céu fechadas diante de si. Para os descendentes de Adão e Eva, a justificação apenas podia ser alcançada por meio da fé (cf. Rm 4, 9; Hb 11, 7); e, todavia, se viessem a cair em alguma falta grave, perdendo a graça por humana fraqueza, só lhes seria possível restaurá-la através de grandes e prolongadas penitências. Ainda assim, nada, nem mesmo a prática da Lei, lhes dava a garantia da reconciliação com Deus e da recuperação da vida sobrenatural. Com efeito, São Paulo, em sua carta aos Gálatas, escreve: “Pela prática da Lei, nenhum homem será justificado” (Gal 2, 16). E o Doutor Angélico nos explica que “o fim da lei antiga era também a justificação dos homens. A qual, certamente, a Lei antiga não podia fazer, mas figurava com alguns atos cerimoniais, e prometia por palavras”.18 Como, pois, ressuscitar alguém espiritualmente, após haver transposto os umbrais da morte do pecado grave? Era isso impossível se não houvesse um Redentor.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, compadeceu-Se dos que permaneciam envoltos nas trevas e na sombra da morte (cf. Lc 1, 79) e tomou a iniciativa de encarnar-Se, sofrer a Paixão e a morte de Cruz, para triunfar na Ressurreição, a fim de ressuscitar o corpo inerte da humanidade pecadora. Ele, o Verbo Eterno, traz a vida da graça, que é infundida nos corações dos fiéis, como Ele mesmo dirá: “Eu vim para que vós tenhais vida e a tenhais em abundância” (Jo 10, 10). Ao assumir a natureza humana e tornar-Se nosso irmão, Jesus coloca os homens em uma condição superior à de nossos primeiros pais, pois no Paraíso, antes do pecado, não tinham eles o Salvador, que nos proporciona caudais de graças atuais, deixa-Se ficar entre nós como alimento e nos lega o precioso dom dos Sacramentos, para manter a vida sobrenatural por Ele instaurada. “O felix culpa, quæ talem ac tantum meruit habere Redemptorem!19 — Ó feliz culpa, que nos fez merecer um tão grande Redentor!”.

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