-->

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

XXIV Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013

Comentário ao Evangelho 24º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Lc 15, 1-32 - Continuação
A PARÁBOLA DO PAI PERFEITO
A semelhança de um bom vinho, cujo cambiante sabor surpreende o paladar a cada degustação, de modo que nunca seus apreciadores podem afirmar que o conhecem completamente, a terceira parábola contada por Nosso Senhor nesta ocasião possui tal riqueza de ensinamento que sempre traz novos aspectos a serem considerados. É o célebre drama do filho pródigo, uma das mais belas páginas das Sagradas Escrituras. Tendo já sido abordada neste ciclo litúrgico, por ocasião da Quaresma,7 hoje ela nos é apresentada uma vez mais, a partir de outra perspectiva.
O pai entrega os bens
11 “E Jesus continuou: ‘Um homem tinha dois filhos. 12 O filho mais novo disse ao pai: ‘Pai, dá-me a parte da herança que me cabe’. E o pai dividiu os bens entre eles’”.
O pai, sem dúvida, foi tomado por um profundo desgosto ao receber o pedido do filho menor. Além de denunciar a intenção do jovem de abandonar a casa paterna — pois só neste caso se fazia a repartição da herança antes da morte do pai 8 —, a solicitação confirmava suas apreensões a respeito daquele filho, em cuja alma já discernira o tumultuar das paixões desordenadas. Com dor, previu os caminhos tortuosos pelos quais o jovem se embrenharia; entretanto, percebendo ser impossível fazê-lo desistir de seus intentos, não tomou nenhuma atitude para impedi-lo e entregou-lhe sua parte da fortuna. É exatamente como Deus age conosco: concede-nos em abundância suas graças e dons, apesar de conhecer, em sua onisciência, o mau uso que poderemos fazer desses bens, quer valorizando-os pouco, quer negligenciando-os ou até mesmo usando-os para pecar.
Paciência: um dos nomes da misericórdia
13 “Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada”.
O filho trocou a inocência do lar pela vida devassa. Expressiva imagem de todos os batizados que, desprezando a condição de filhos de Deus, abandonam o estado de graça ao cometer uma falta grave! Esbanjando o tesouro sobrenatural entregue pelo Pai celeste, preferem o prazer fugaz do pecado à felicidade do convívio com Deus e Maria Santíssima, na eternidade.
Por sua vez, em nenhum momento o pai se esqueceu do jovem e, sem jamais perder as esperanças de reencontrá-lo, continuamente elevava ao Céu aflitas orações por sua conversão. Com igual indulgência Deus reage conosco quando O ofendemos e, em sua bondade, nunca nos desampara, mesmo quando nos afastamos d’Ele com o pecado. Refletindo sobre esta clemência, escreve Santo Afonso de Ligório: “Se tivésseis insultado um homem como insultastes a Deus, ainda que fosse vosso melhor amigo ou ainda vosso próprio pai, não teria ele outra resposta senão vingar-se. Quando ofendias a Deus, poderia ter-vos castigado no mesmo instante; tornastes a ofendê-Lo e, ao invés de castigar-vos, devolveu-vos bem por mal, conservou-vos a vida, rodeou-vos de todos os seus cuidados providenciais, fingiu não ver os pecados, na expectativa de que vos emendásseis e cessásseis de injuriá-Lo”.9 Por conseguinte, enquanto as duas parábolas precedentes ressaltam a iniciativa de Deus na conversão dos homens, esta ilustra outro aspecto da misericórdia d’Ele, o qual se cifra na paciência em esperar que “o pecador caia em si, e possa perdoá-lo e salvá-lo”.10
Na extrema decadência, lembrança da bondade do pai
 14 “Quando tinha gasto tudo o que possuía, houve uma grande fome naquela região, e ele começou a passar necessidade. 15 Então foi pedir trabalho a um homem do lugar, que o mandou para seu campo cuidar dos porcos. 16 O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isto lhe davam”.
O jovem, outrora abastado, tornou-se um indigente faminto, cuja situação desesperadora o fez aceitar o humilde trabalho de guardador de porcos. É um símbolo da completa miséria à qual o pecado mortal reduz a alma, arrancando-lhe todos os méritos e tornando-a merecedora do inferno, realidade tão mais terrível que a do filho pródigo. “Não há catástrofe nem calamidade pública ou privada que possa ser comparada à ruína causada na alma por um só pecado mortal. É como um desmoronamento instantâneo de nossa vida sobrenatural, um verdadeiro suicídio da alma em relação à vida da graça”.11
Não é raro, porém, Deus permitir que o pecador caia neste ínfimo estado para então fazer nascer em sua alma as saudades da inocência perdida.
17 “Então caiu em si e disse: ‘Quantos empregados do meu pai têm pão com fartura, e eu aqui, morrendo de fome. 18 Vou-me embora, vou voltar para meu pai e dizer-lhe: Pai, pequei contra Deus e contra ti; 19 já não mereço ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados’”.


Continua no próximo post

Nenhum comentário: