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sábado, 14 de setembro de 2013

XXV Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Evangelho Lc 16, 1-13

Comentários ao Evangelho 25º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 - Lc 16, 1-13
1 Disse também a seus discípulos: “Um homem rico tinha um feitor, que foi acusado diante dele de ter dissipado os seus bens. 2 Chamou-o e disse-lhe: Que é isto que eu ouço dizer de ti? Dá conta de tua má administração; não mais poderás ser meu feitor.
3 Então o feitor disse consigo: Que farei, visto que o meu senhor me tira a administração? Cavar não posso, de mendigar tenho vergonha. 4 Já sei o que hei de fazer, para que, quando for removido da administração, haja quem me receba em sua casa. 5 E chamando cada um dos devedores do seu senhor, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor?
6 Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Então disse-lhe: Toma o teu recibo, senta-te e escreve depressa cinquenta. 7 Depois disse a outro: Tu quanto deves? Ele respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o feitor: Toma o teu recibo e escreve oitenta. 8 E o senhor louvou o feitor desonesto, por ter procedido sagazmente. Porque os filhos deste mundo são mais hábeis no trato com os seus semelhantes do que os filhos da luz.
9 Portanto, Eu vos digo: Fazei amigos com as riquezas da iniqüidade, para que, quando vierdes a precisar, vos recebam nos tabernáculos eternos. 10 Quem é fiel no pouco também é fiel no muito; e quem é injusto no pouco também é injusto no muito. 11 Se, pois, não fostes fiéis nas riquezas iníquas, quem vos confiará as verdadeiras? 12 E se não fostes fiéis no alheio, quem vos dará o que é vosso? 13 Nenhum servo pode servir a dois senhores, porque, ou odiará um e amará o outro, ou se afeiçoará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 1-13).

O administrador infiel usa de prudência para garantir sua própria subsistência. Essa mesma sagacidade e diligência deveriam ter os filhos da luz para alcançar a santidade.
O homem ante a pobreza
Havia um certo país onde, segundo narra São João Damasceno, os cidadãos anualmente elegiam um novo rei a fim de evitarem os riscos de uma possível tirania. Conhecedores da sede de mando existente em todo homem, não permitiam a estabilidade perene do monarca: no final do ano, ele era destronado e deportado para uma ilha deserta na qual, depois de algum tempo, falecia por falta de recursos e de alimentos. Foi esse o destino de vários reis até que um, durante o exíguo reinado de 360 dias, transportou para a tal ilha tudo quanto pôde em matéria de subsistência para o resto de sua vida.
Soube ele contornar o mais temido dos males, ou seja, a pobreza. E, em parte, compreende-se esse temor em função de alguns instintos de nossa natureza, como, por exemplo, o de conservação e o de sociabilidade. A perspectiva da carência do essencial para nossa vida nos deixa aturdidos. A miséria extrema, sem uma intervenção de Deus, destrói no homem as últimas energias, aferra sua atenção à matéria e o incapacita de elevar as vistas para as considerações espirituais. Tal era, de acordo com a narração de São João Damasceno, a situação dos reis exilados após expirar seu mandato, lutando pela vida numa ilha sem recursos.
Deixemos de lado os casos agudos como o mencionado acima e focalizemos a pobreza comum, aquela consistente em obter estritamente o necessário e, assim mesmo, mediante um árduo esforço. Nessas circunstâncias, embora conhecendo o grande apreço que Deus manifesta pela pobreza, assim como todos os privilégios a ela inerentes — as Escrituras encontram-se pervadidas de menções a esse respeito — as apreensões da criatura humana face às contingências da pobreza, conduzem-na a optar pelas vias da falsa ou verdadeira prudência.
Uma falsa prudência
Esta virtude, quando é falsa, portanto, entendida num sentido pejorativo, busca um fim terra-a-terra, temporal e passageiro. Ela é fruto de uma filosofia pagã para a qual não existe Deus, nem a alma humana e a remuneração futura. Essa impostação de espírito está bem sintetizada na atitude das virgens loucas (cf. Mt 25, 1-13) e repudiada por Deus em inúmeras passagens do Antigo e do Novo Testamento (cf. Pr 4, 19; 25-26; 1Cor 1, 19; Rm 8, 6; 1Tm 3, 2 s; 1Pd 4, 7; etc.).
Não poucas vezes a falsa prudência sabe empregar manhas e artimanhas para obter os bens terrenos, mas não os eternos. Para ela, o fim justifica os meios. Fundamenta-se ela na sabedoria deste mundo e daí surgem equívocos como, por exemplo, o de querer construir edifícios eternos com o que não é senão passageiro. Comenta São Paulo: “Ninguém se engane a si mesmo; se algum dentre vós se tem por sábio segundo este mundo, faça-se insensato para ser sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus, pois está escrito: ‘Eu apanharei os sábios na sua própria astúcia’. E outra vez: ‘O Senhor conhece como são vãos os pensamentos dos sábios’” (1 Cor 3, 18-20).
A virtude da prudência
Diametralmente oposta se encontra a verdadeira virtude da prudência. A ela só se aferra quem se deixa conduzir pela graça de Deus, ao se ver diante da perspectiva de uma vida feita de pobreza. O quadro abaixo nos esclarece bem o quanto consiste esta virtude na reta escolha dos meios convenientes para obter um determinado fim (1).
Quem magistralmente soube transpor para a prática essa bela doutrina da prudência foi Santo Inácio de Loiola, o Fundador da Companhia de Jesus, na primeira meditação de seus Exercícios Espirituais: “O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor, e mediante isso salvar a sua alma”. Saber servir-se das criaturas — inclusive do dinheiro — para alcançar esse fim, é o divino ensinamento ministrado por Jesus na parábola do Administrador infiel, mas prudente, da Liturgia de hoje.
O administrador infiel
1 Disse também a seus discípulos: “Um homem rico tinha um feitor, que foi acusado diante dele de ter dissipado os seus bens.
“Nas três parábolas anteriores — comenta o Pe. Juan de Maldonado —, Cristo ensinara o cuidado que Ele tinha em converter os pecadores e sua benignidade para com os já convertidos; nesta, reportando-se à benignidade de Deus, ensina o empenho e a diligência que devem os pecadores, por sua vez, empregar para converter-se à amizade divina. Por este motivo expôs as três parábolas anteriores aos escribas e fariseus, que Lhe tinham dado a ocasião, e, por outro lado, esta Ele a propõe aos discípulos e a todos os seus ouvintes. É este o sentido da frase: ‘Disse também a seus discípulos’, ou seja, do mesmo modo como antes havia feito aos escribas e fariseus, segundo observa São Jerônimo”
Apesar deste comentário de Maldonado, devemos observar, para melhor clareza de interpretação, que continuarão presentes os fariseus enquanto ouvintes também nesta quarta parábola, conforme podemos constatar nas palavras de Lucas logo ao término da mesma: “Os fariseus, como eram avarentos, ouviam suas palavras e troçavam d’Ele” (Lc 16, 14). Aliás, essa sequência de parábolas — a da ovelha desgarrada, a da dracma perdida, a do filho pródigo e esta do administrador infiel, mas prudente — se inicia pelo escândalo que significou aos olhos dos fariseus e dos doutores da Lei, o fato de verem “todos os cobradores de impostos e pecadores” se aproximarem de Jesus para serem instruídos: “Este acolhe os pecadores e come com eles” (Lc 15, 1-2). Essa foi a razão pela qual Jesus lhes propôs as três parábolas sobre a misericórdia. Portanto, também nesta quarta estão concernidos os escribas e fariseus. Tanto mais que Ele lhes dirá como uma das conclusões: “Fazei amigos com as riquezas da iniquidade...” (v. 9).
Somos administradores de bens alheios e transitórios
Pelo que se pode deduzir dos versículos 6 e 7, relativos às dívidas que o feitor tinha obrigação de bem conduzir e cobrar, as propriedades desse tal “homem rico” deveriam consistir em olivais e trigais. Tudo leva a crer — e a maioria dos comentaristas coincide nesta apreciação — que o fato deste último “dissipar os bens” de seu senhor não se devia só ao relaxamento, mas também a abusos para satisfazer seus prazeres pessoais.
Já de início, neste versículo do Evangelho de hoje, cabe uma aplicação moral a cada um de nós: “Uma idéia errônea que domina os homens, aumenta seus pecados e diminui suas boas obras, consiste em crer que tudo quanto temos para as atenções da vida, nós o devemos possuir como senhores e, em consequência, nós o procuramos como o bem principal. Contudo, é exatamente o contrário, pois não fomos colocados nesta vida como senhores em sua própria casa, mas, isto sim, como hóspedes e forasteiros levados aonde não queremos ir e quando não pensamos: quem agora é rico, em breve será mendigo. Assim, sejas quem fores, deves saber que és apenas dispensador de bens alheios, dos quais te foi dado uso transitório e direito muito breve. Longe, pois, de nossa alma o orgulho da dominação, e abracemos a humildade e a modéstia do arrendatário ou caseiro” (3). Deus, portanto, coloca em minhas mãos os bens do corpo e da alma — os bens materiais e os da graça, vida, talentos, riquezas, etc. — para que eu os administre em função de sua Lei e glória. Que uso faço dos bens recebidos das mãos de Deus?

Súbita prestação de contas

Continua no próximo post

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