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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Evangelho XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C 2013 - Lc 21, 5-19

  Continuação dos comentários ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013   -   Lc 21, 5-19         
A ruína de Jerusalém e a parusia
Mas eles perguntaram: ‘Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?’”.
Os Apóstolos nada perguntam sobre a causa dessa destruição, mas sim quando ela ocorreria. Como bons israelitas, de espírito previdente, queriam saber com exatidão o que iria suceder. O arrasamento do edifício sagrado, símbolo da grandeza do povo eleito, parecia-lhes impossível antes do fim dos tempos, pois, “para um judeu, a ruína da cidade e do Templo equivale à ruína do mundo”.5 Não podiam eles conceber que algum dia lhes faltaria aquele Lugar Santo, único no mundo. Esta é a razão de juntarem em suas perguntas dois fatos totalmente distintos: a ruína de Jerusalém e a parusia.6
Como observa São Cirilo, os Apóstolos “não perceberam a força de suas palavras e julgavam que Ele falava da consumação dos séculos”.7 Por isso, Nosso Senhor, “sem deixar de responder à pergunta com clareza suficiente para eles conjecturarem os acontecimentos vaticinados”,8 falará em dois sentidos: um, a destruição do Templo material; outro, o fim do mundo. Na realidade, o desaparecimento dessa grandiosa construção significava o fim de um mundo: a época da antiga Lei cedia lugar à era da Graça.
Ver todos os acontecimentos na perspectiva divina
Jesus respondeu: ‘Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’; e ainda: ‘O tempo está próximo.’ Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim’. 10 E Jesus continuou: ‘Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu’”.
Jesus responde aos discípulos com uma linguagem enigmática, sem procurar desfazer o equívoco em que incorriam, nem responder-lhes com exatidão. Prefere deixar num lusco-fusco os aspectos cronológicos da pergunta, com vistas à formação moral e espiritual dos seus ouvintes.
Com efeito, a expectativa do fim do mundo como um evento próximo habituava-os a contemplar os acontecimentos desde a perspectiva divina, e preparava as almas daqueles primeiros cristãos para as perseguições que teriam de enfrentar, prefiguras dos últimos tempos, pelo ódio e crueldade dos perseguidores. Ora, sempre que os pecados da humanidade passam de certo limite, Deus intervém manifestando sua cólera e castigando os caprichos e egoísmos dos homens.
Com a Encarnação, Deus levara seu amor às criaturas a um ponto inexcogitável pelos homens, e mesmo pelos anjos. Uma extrema bondade caracterizou a vida pública de Jesus, marcada por inúmeras curas e milagres. Porém, Ele não seria Deus se não manifestasse também o esplendor da sua justiça, virtude não menor que a misericórdia. Tem Ele, por assim dizer, duas mãos: a da misericórdia e a da justiça. Com a primeira, perdoa e protege; com a segunda, cobra e castiga. De uma dessas mãos divinas, ninguém escapa.
Para contemplar a Deus na perspectiva verdadeira, sem distorções nem unilateralismos, é preciso amar n’Ele esses dois aspectos. Considerar a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade morrendo na Cruz para nos redimir, é poderoso estímulo para a nossa piedade. Mas não podemos também deixar de admirar sua severidade, ainda quando ela possa vir a nos atingir.
Porque, como ensina Santo Afonso Maria de Ligório, “não merece a misericórdia de Deus quem se serve dela para ofendê“Nossa Senhora do Apocalipse” - Casa -Lo. A misericórdia é para quem Rosa Mística, dos Arautos do Evangelho, teme a Deus, e não para o que São Paulo dela se serve com o propósito de não temê-Lo. Aquele que ofende a justiça — diz o Abulense — pode recorrer à misericórdia; mas a quem pode recorrer o que ofende a própria misericórdia?”.9
Sereis presos e perseguidos
12 “Antes, porém, que estas coisas aconteçam, sereis presos e perseguidos; sereis entregues às sinagogas e postos na prisão; sereis levados diante de reis e governadores por causa do meu nome”.
Ao anunciar aos Apóstolos as perseguições e sofrimentos que haveriam de enfrentar, Nosso Senhor tinha em vista também instruir os cristãos de todos os tempos, porque inúmeras vezes ao longo da História a proclamação do nome de Jesus Cristo lhes trará como consequência serem injustamente presos, perseguidos ou conduzidos aos tribunais. E isto chegará ao auge nos últimos tempos, pois quanto maior for a decadência moral da humanidade, inelutavelmente mais ódio haverá contra os justos, cuja mera existência já representa muda censura aos maus.
Bem pondera São Gregório Magno: “A última tribulação será precedida de muitas outras, porque devem vir antes muitos males que possam anunciar o mal sem fim”.10
Testemunhas da fé na hora da provação
13 “Esta será a ocasião em que testemunhareis a vossa fé”.
Errôneo seria pensar que durante as perseguições cabe aos bons ficarem encolhidos e timoratos, incapazes de qualquer ação. Pelo contrário, dão-lhes elas ensejo a testemunharem com coragem a boa doutrina diante daqueles que se desviaram do caminho certo.
Ao afirmar que as portas do inferno não prevalecerão contra a sua Igreja (cf. Mt 16, 18), estabeleceu o Divino Fundador que ela será não apenas invencível, mas sempre triunfante. Assim, por mais que os infernos, não podendo destruí-la, se organizem para sufocá-la, jamais conseguirão impedir sua atuação. E, sejam quais forem as aparências, a Luz de Cristo permanecerá em sua Esposa com todo o seu poder e grandeza, aguardando o momento de manifestar-se de forma intensa, majestosa e irresistível.
Nessas horas de tempestade, suscita a Providência testemunhas da fé que sejam fachos da Luz de Cristo a rasgar a obscuridade da provação. Muitas vezes, inclusive, Deus Se utiliza de instrumentos frágeis, de modo a deixar mais patente sua onipotência: Gedeão, último homem da tribo de Manassés; Judite, piedosa viúva; e os próprios Apóstolos, simples pescadores. E, se percorrermos as grandes aparições da Virgem Maria, desde Guadalupe até Fátima, a quem vemos como receptores da mensagem, senão pessoas de escassa cultura e predicados?
Quanto aos acontecimentos do fim do mundo, serão justamente a firmeza na fé e a força impetratória dos fiéis, perante o ódio insaciável dos sequazes do anticristo, que atrairão a intervenção divina, desencadeando o castigo final.
Conselho divino confirmado pela História
14 “Fazei o firme propósito de não planejar com antecedência a própria defesa; 15 porque Eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater”.
Com esta surpreendente afirmação, parece Nosso Senhor convidar seus discípulos à negligência, ao invés de incentivá-los a se prevenirem perante a perspectiva da perseguição. Ora, esclarece o Cardeal Gomá, Jesus “não lhes manda que não procurem precaver-se nos transes difíceis pelos quais passarão, mas sim que não se aflijam por isso, pois nos momentos de crises mais agudas poderão contar com a inspiração especial de Deus”.11
De fato, na luta de todos os dias, vale o princípio atribuído a Santo Inácio: “Rezai como se tudo dependesse de Deus e trabalhai como se tudo dependesse de vós”.12 Mas nesta passagem do Evangelho refere-Se o Mestre aos momentos de extrema aflição em que tudo parece perdido. Nessas horas, comenta São Gregório, “é como se o Senhor dissesse a seus discípulos: ‘Não vos atemorizeis. Vós ireis ao combate, mas Eu é que combaterei; vós pronunciareis palavras, mas quem falará sou Eu’”.13
E a História comprova com abundância a esplêndida realização dessa profecia de Nosso Senhor, nos julgamentos iníquos promovidos contra os filhos da luz. Santa Joana d’Arc, por exemplo, era uma camponesa sem estudos; suas respostas, entretanto, confundiram o tribunal que a julgava, pela extraordinária profundidade teológica.
Deserção e traição nas próprias fileiras
16 “Sereis entregues até mesmo pelos próprios pais, irmãos, parentes e amigos. E eles matarão alguns de vós. 17 Todos vos odiarão por causa do meu nome”.
Até no seio das próprias famílias haverá divisão, multiplicando o sofrimento daqueles que serão entregues por “pais, irmãos, parentes e amigos”. Pois, como ensina São Gregório, “os mais cruéis tormentos para nós são os causados pelas pessoas mais queridas, porque, além da dor corporal, sentimos o carinho perdido”.14
Já o Cardeal Gomá interpreta este versículo num sentido simbólico, mais abrangente: “Aos vexames que deverão sofrer da parte dos inimigos, se acrescentará um mal mais grave: a deserção e a traição nas próprias fileiras”.15 Com efeito, quantas vezes não foram hereges ou apóstatas os mais acirrados adversários da Igreja?
Deus é o principal Ator da História
18 “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”.
Julgamos, por vezes, serem raríssimas as intervenções de Deus nos acontecimentos terrenos. Como se Ele, após criar o universo, deixasse os fatos correrem por si, procedendo de forma semelhante a alguém que planta uma árvore e se despreocupa totalmente do seu crescimento. Nada mais contrário à realidade. Deus não só age na História, mas, sobretudo, é seu principal Ator. Tudo está em suas santíssimas mãos, nada foge ao seu governo: “Em Deus vivemos, nos movemos, e somos” (At 17, 28).
Às vezes, a ação da Divina Providência nos fatos concretos é visível aos olhos de todos, por ser desígnio seu torná-la patente. Porém, na maior parte das ocasiões, Ela opera de forma oculta ou discreta, deixando por conta do nosso entendimento e da nossa fé discernir o cunho de sua atuação.
O Criador tem tudo contado, pesado e medido. E, ao agir sobre os acontecimentos, tem sempre em vista, junto com a própria glória, a salvação dos que são seus. Por isso, afirma São Paulo: “Tudo quanto acontece, concorre para benefício dos justos” (Rm 8, 28).
Cada um dos nossos atos, gestos ou atitudes serão consignados no Livro da Vida. Nenhum ato de virtude ficará sem recompensa, conforme afirma São Beda: “Não cairá um só fio de cabelo da cabeça dos discípulos do Senhor, porque não somente as grandes ações e as palavras dos santos, mas também o menor de seus pensamentos será dignamente premiado”.16
Continua no próximo post.

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