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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Evangelho XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C 2013 - Lc 21, 5-19

Continuação dos comentários ao Evangelho – XXXIII Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013   -   Lc 21, 5-19          
Esperança na vida verdadeira
19 “É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!”.
Todos nós, como os Apóstolos, estamos sujeitos a passar por situações difíceis em razão de nossa fidelidade a Cristo. Como devemos nos comportar diante delas?
Antes de tudo, precisamos crer firmemente na onipotência de Nosso Senhor e ter bem presente seu amor por cada um de nós, conforme nos exorta Santo Agostinho: “Essa é a Fé cristã, católica e apostólica. Confiai em Cristo que diz: ‘não cairá sequer um fio de vossos cabelos’, e, uma vez eliminada a incredulidade, considerai o quanto valeis. Quem de nós pode ser desprezado por nosso Redentor, se nem sequer um fio de cabelo o será? Ou: como duvidaremos de que dará a vida inteira à nossa carne e à nossa alma Aquele que, por amor a nós, recebeu alma e carne na qual morreu, e a recobrou para que desaparecesse o temor de morrer?”.17
Mas também não podemos duvidar de que Jesus Se encarnou para nos fazer partícipes de sua ressurreição: “Se Cristo não ressuscitou, vossa fé é vã” (I Cor 15, 17), proclama São Paulo.
Uma vez compenetrados de estarmos de passagem nesta Terra, a caminho da eternidade, todos os males que possamos sofrer tomam outra dimensão. “Quem sabe que é um peregrino neste mundo, independentemente do local onde se encontre corporalmente; quem sabe que tem uma pátria eterna no Céu; quem tem certeza de que ali se encontra a região da vida feliz, a qual aqui é lícito desejar, mas não é possível ter, e arde nesse desejo tão bom, santo e casto — esse vive aqui pacientemente”.18 É permanecendo firmes na Fé que ganharemos a verdadeira vida; é só na perspectiva da glória eterna que teremos forças para perseverar na hora das provações. E isto não depende tanto do nosso esforço quanto da graça divina, que devemos pedir sem cessar.
Proclamar a beleza triunfante da igreja
Dois significativos episódios históricos, entre tantos outros, podem ilustrar o ensinamento da liturgia deste domingo.
O filósofo iluminista François-Marie Arouet, mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire, foi um dos mais festejados ímpios de todos os tempos. Seu ódio contra a Igreja o levou a afirmar: “Estou cansado de ouvir dizer que bastaram doze homens para implantar o Cristianismo no mundo, e quero provar que basta um para destrui-lo”.19 Mas, o atrevido ateu morreu e a ridícula ameaça caiu no vazio.
Não menos arrogante com a Esposa de Cristo foi Napoleão Bonaparte. Após ser excomungado pelo Papa Pio VII, teve a petulância de perguntar sarcasticamente ao legado papal, Cardeal Caprara, se por causa disso iriam cair as armas das mãos dos seus soldados. Ora, segundo narram testemunhas oculares, entre as quais o Conde de Ségur, foi o que aconteceu durante a campanha da Rússia: “As armas dos soldados pareciam ser de um peso insuportável para seus braços intumescidos; em suas frequentes quedas, escapavam-lhes das mãos, quebravam-se ou perdiam-se na neve”.20
Meses depois, Bonaparte viu-se obrigado a assinar o decreto de sua própria destituição no palácio de Fontainebleau, onde mantivera cativo o Vigário de Cristo, e partiu para o exílio. Pio VII, entretanto, a quem ele chamara despectivamente de “velho”, ainda haveria de reinar por quase uma década, sobrevivendo por dois anos ao prisioneiro da Ilha de Santa Helena.
E, assim, poderíamos multiplicar os exemplos mostrando “ser uma característica da Igreja vencer quando atacada, ser melhor compreendida quando contestada e ganhar terreno quando abandonada”, segundo ensina Santo Hilário de Poitiers.21 Ao que o padre Monsabré acrescenta: “muitas vezes, no curso da Era Cristã, pôde-se ver o Corpo Místico do Filho de Deus a ponto de perecer, muitas vezes pôde-se vê-lo recobrar vida e avançar com passo resoluto rumo aos dias da eternidade”.22
Os períodos de perseguição nos convidam a depositar uma fé inquebrantável em Cristo e em sua Igreja, mas também a amá-Los de um modo todo especial. “Em tempo de grandes prevaricações”, afirma o Cardeal Gomá, “até os bons se tornam tíbios. Contudo, em meio às defecções e tibiezas, perseverarão os fortes, os que guardarem a fé e os bons costumes cristãos. Estes se salvarão: “Quem perseverar até o fim, será salvo” (Mt 24, 13). Sendo constantes, obtereis a salvação”.23
Ao nos situar diante de uma grandiosa perspectiva escatológica, o Evangelho deste domingo nos incita a proclamar a beleza triunfante da Santa Igreja, na confiança plena de que quem permanecer filialmente no seu seio obterá como prêmio o próprio Deus!
1 “Osório, que utilizou fontes hoje perdidas, escreveu: ‘Nero condenou os cristãos a diversas formas de morte, e os perseguiu não só em Roma, mas também em todas as províncias, e procurou suprimir o nome cristão’ [...] Refere Lactâncio que ‘a causa da perseguição foi o ódio de Nero contra os cristãos’”. (WEISS, Juan Bautista. Historia Universal. Barcelona: La Educación, 1927, v.III, p.708-709).
2SANCTUS HIERONYMUS. Epistola CXLI: PL 33, 891.
3Cf. GOMÁ Y TOMAS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.IV, p.109.
4SAN BEDA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
5GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.110.
6 Isto se vê com maior clareza no Evangelho de São Mateus: “Dize-nos, quando será isso? Qual será o sinal de tua vinda e do fim do mundo?” (Mt 24, 3).
7 SAN CIRILO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
8 GOMÁ Y TOMAS, op.cit., p.114.
9 SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO. Preparação para a morte. Cons. XVII, ponto I.
10 SAN GREGORIO MAGNO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
11 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.112.
12 Catecismo da Igreja Católica, n.2834.
13 SAN GREGORIO MAGNO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena Aurea.
14 Idem, ibidem.
15 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.112.
16 SAN BEDA, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO. Catena Aurea.
17 SAN AGUSTÍN, Sermón 214, 12 apud ODEN, Thomas C. e JUST Jr., Arthur A. La Biblia comentada por los Padres de la Iglesia – Nuevo Testamento, San Lucas. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, v.III, p.429.
18 SANCTUS AUGUSTINUS. Sermo 359A. 2.
19 CONDORCET. Vie de Voltaire in Œuvres completes de Voltaire. Paris: Th. Desoer, 1817, t.I, p.55.
20 SÉGUR, Conde de, apud HENRION, Barón. Historia general de la Iglesia. 2.ed. Madrid: Ancos, 1854, t.VIII, p.153.
21 SANTO HILÁRIO DE POITIERS, apud BERINGER, R. Repertorio universal del predicador. La Iglesia y el Papado. Barcelona: Litúrgica Española, 1933, v.XVIII, p.241.
22 MONSABRÉ, OP, Jacques-Marie-Louis. Retraites pascales. I- La tentation. I- Recherche de Jésus-Christ. Paris: Lethielleux, 1877-1888, p.319.
23 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.113.


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