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sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Evangelho IV Domingo do Advento – Ano A – 2013 – Mt 1, 18-24

Comentário ao Evangelho – 4º Domingo do Advento  - Ano A  – 2013 – Mt 1, 18-24
Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Evangelho -  Mt 1, 18-24
18 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-La, resolveu abandonar Maria em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque Ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados’. 22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 ‘Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, o que significa: Deus está conosco’. 24 Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa” (Mt 1, 18-24).
Dois silêncios que mudaram a História
Duas criaturas puramente humanas intervêm no mais grandioso acontecimento da História: a Encarnação do Verbo. Diante do silêncio de Maria face à realização n’Ela desse sublime Mistério, São José atravessa uma provação terrível e lancinante. E pratica, também em silêncio, um dos maiores atos de virtude jamais realizados sobre a Terra.
Dois silêncios se entrecruzam
Com breves e inspiradas palavras, narra-nos São Mateus o mais grandioso acontecimento da História, a Encarnação do Verbo, e os episódios subsequentes.
À primeira vista, a singela descrição do Evangelista pode-nos causar a impressão de que tudo transcorreu de modo suave e aprazível, não havendo lugar para qualquer sofrimento e menos ainda para a terrível provação que levou São José à extrema decisão de “abandonar Maria em segredo”.
Tanto nesta passagem do Evangelho quanto na de São Lucas que, com igual simplicidade, narra a Anunciação do anjo a Maria (cf. Lc 1, 26-38), deparamo-nos com realidades situadas no mais alto plano da Criação, acessíveis à nossa inteligência somente pela luz da Fé, que nos faz vislumbrar os grandes mistérios da graça e da glória.
Conforme revela o anjo, Maria será Mãe por obra do Espírito Santo, sem concurso humano. Precisamente por esse motivo, dir-se-ia ser São José na Sagrada Família um mero complemento destinado a fazer o papel de pai apenas para efeitos civis e de opinião pública. Sua função seria, então, quiçá dispensável, no plano da Encarnação do Verbo e, portanto, na Redenção do gênero humano.
Sem embargo, uma consideração mais aprofundada do Evangelho proposto para este 4º Domingo do Advento nos revelará atraentes verdades a respeito deste varão incomparável, pai adotivo de Jesus e esposo da Virgem Imaculada.
Após a Encarnação, Maria guarda silêncio
18 “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”.
De acordo com o direito judaico da época, o matrimônio entre israelitas era constituído por dois atos distintos aos quais poderíamos chamar de esponsais e núpcias.
Antes do casamento, os pais dos nubentes redigiam o contrato matrimonial, onde constavam os bens que cada parte entregaria para formar o patrimônio da nova família. Bem estabelecido esse ponto, realizava-se uma cerimônia, diante de testemunhas, na qual o noivo entregava simbolicamente à noiva um objeto de valor. Com esse gesto ficava selado o compromisso, tornando-se os contraentes marido e mulher, pois os esponsais judaicos “constituíam verdadeiro contrato matrimonial”.1
Embora a partir desse momento fosse permitido ao casal morar sob o mesmo teto, era costume esperar até as núpcias, que seriam celebradas algum tempo depois, durante as quais o esposo conduzia solenemente a esposa à sua casa, entre festas e manifestações de júbilo.
Assim, ao afirmar que Maria “estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, o Evangelista situa o momento da Encarnação do Verbo no período posterior à cerimônia do compromisso, mas antes de Maria ir habitar na casa do esposo.
É nesse intervalo que a Mãe de Deus, acompanhada por José, empreende a viagem à casa de sua prima. Ainda não eram visíveis os sinais da gravidez de Maria; e quando Isabel glorificou-Lhe a maternidade divina, proclamando-A bem-aventurada, falou sob inspiração do Espírito Santo.
A solene saudação da prima não perturbou nem surpreendeu a Virgem Maria; mas, exímia na prática da humildade, esforça-Se em elevar a atenção até Deus, proclamando no Magnificat as grandes maravilhas feitas n’Ela pelo Altíssimo. Nada diz da aparição do Arcanjo Gabriel, nem sequer anuncia a maior novidade de todos os tempos: a chegada do Redentor!
Pareceria compreensível que Ela convidasse parentes e amigos para se unirem em orações de preparação e de ação de graças, durante os nove meses de espera do nascimento do Messias. Entretanto, Maria guarda completo silêncio sobre aquele mistério inefável, até com o próprio esposo, pois nenhuma ordem recebera de Deus em sentido contrário. Revela, assim, uma excelsa submissão e docilidade aos desígnios da Providência.
O esposo de Nossa Senhora era justo
19ª “José, seu marido, era justo...”.
São José era justo, frisa o Evangelista. E diante dessa Virgem que lhe fora dada como esposa, cuja virtude deixou surpresos até os anjos,2 tomou uma atitude humilde e admirativa.
Pode-se conjecturar que, à medida que melhor A ia conhecendo, crescia seu enlevo por Ela. Percebia a indignidade de qualquer homem, por mais virtuoso que fosse, para ser esposo daquela Virgem angelicalmente pura, que não padecia da fames peccati, a inclinação para o mal presente em todos os seres humanos.
Certamente, admirava-se de ver como tudo Ela fazia de maneira perfeita: desde um simples movimento de mão ou um rápido olhar, até a forma de pronunciar as palavras com o mais harmonioso dos timbres de voz; o modo incomparavelmente afável de acolher os outros ou o recolhimento com que rezava. A cada dia devia aumentar sua convicção de estar em total desproporção com aquela Virgem Santíssima que a Providência lhe outorgara por esposa.
Ora, alguns meses depois, quando São José foi buscar Nossa Senhora na casa de Santa Isabel, eram visíveis os sinais da gestação do Menino Jesus. Contudo, Ela nada lhe disse... E ele nada perguntou...
Uma coisa era certa: como afirma um famoso mariólogo, “ele bem sabia como era admirável a virtude de Maria, e, apesar da evidência exterior dos fatos, não conseguia acreditar ser Ela culpada”.3
A santidade da Virgem Maria era inquestionável e afastava qualquer suspeita da mente do Santo Patriarca. Todavia, também evidente e inexplicável era a realidade. Compreendeu, então, que se deparava com um mistério e, não diminuindo em nada sua admiração pela Virgem das Virgens, aceitou sem reparos os desígnios divinos que não alcançava a entender. A virtude ímpar de sua Esposa falava mais alto do que aquela situação incompreensível, como canta com inspiradas palavras São João Crisóstomo: “Ó inestimável louvor de Maria! Acreditava São José mais na castidade de sua Esposa do que naquilo que seus olhos viam, mais na graça que na natureza: percebia claramente que Ela era Mãe, e não podia crer que fosse adúltera; julgou ser mais possível uma mulher conceber sem concurso de varão do que Maria poder pecar”.4

Não há dúvida de que São José, diante do mistério da milagrosa Encarnação do Verbo, proclama um verdadeiro “fiat!”. Pois, sem deixar-se levar por uma visualização humana, e confiando inteiramente na virtude da Mãe de Deus, põe-se docilmente nas mãos da Providência: “Faça-se aquilo que Vós quereis, embora eu não chegue a compreendê-lo!”.
Continua no próximo post

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