CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A - 2014 Jo 1, 29-34
SÃO JOÃO BATISTA E A VIRTUDE DA
RESTITUIÇÃO
Aproximemo-nos
de João nas margens do rio Jordão e analisemos seu prestígio de pregador.
Profeta como igual nunca houve em Israel, fundador e chefe de uma escola, todo
o povo o procura. Entretanto, seu renome está condenado a uma lenta morte,
sua
instituição deverá dissolver-se paulatinamente, sobre a glória de sua obra
far-se-á um grande eclipse, pois um valor mais alto se aproxima. Esse era o
momento do ressentimento, da ambição ferida e talvez até da inveja. Muito pelo
contrário, a reação de João foi de heroica humildade e ilimitada servidão, como
encontramos narrado no Evangelho de hoje.
29 No dia seguinte João viu Jesus, que
vinha ter com ele ...
Assim
como Maria foi à sua prima Santa Isabel, é Jesus quem se dirige a João, e agora
pela segunda vez. O discípulo amado não nos relata o Batismo de Jesus como o
faz Mateus (3, 13-17) e, segundo São João Crisóstomo, Jesus volta a
encontrar-se com o Batista para desfazer o equívoco de que, na primeira vez,
Ele tivesse ido procurá-lo tal qual o faziam todos, ou seja, para confessar
seus pecados ou para obter a purificação dos mesmos pelas águas do Jordão.
... e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, eis O
que tira o pecado mundo”.
Assim como
hoje nossa fé se robustece em méritos ao contemplar uma Hóstia consagrada e
crer na Presença Real de Jesus Eucarístico, também naqueles dias era
indispensável, para benefício de todos, o Redentor apresentar-Se sob os véus de
nossa natureza. Jesus, desde o nascimento até essa ocasião, era um homem comum
e corrente em todas as suas aparências. Tornava-se necessário ir descerrando
pouco a pouco esses véus, a fim de introduzir o povo na verdadeira perspectiva debaixo
da qual fosse possível prestar-Lhe um culto de latria. Excelente meio escolheu
o Salvador: suscitou um varão que havia comovido toda Israel por sua figura
constituída de mistério, profetismo e santidade, saído de dentro de uma
vida feita de ascese e penitência, o Precursor.
Era
chegado o momento de os judeus ouvirem, de lábios dignos da máxima
credibilidade, a proclamação da grandeza do Messias ali presente. A preparação
dos corações estava concluída, o caminho do Senhor já se encontrava
endireitado, a voz ecoara pelo deserto, o Filho de Deus precisava ser conhecido
e, para tal, era indispensável muita clareza na comunicação: “Eis o Cordeiro de
Deus”.
O
conhecimento de Deus é bem diferente do nosso. Vivemos no tempo, e a cronologia
é fundamental em nosso processo intelectivo. Para Deus tudo é presente e, ao
criar, fez Ele depender uns seres de outros. No pináculo da criação, colocou
Cristo como Causa, Modelo, Regente e Guia, e, tendo em vista o pecado e o Redentor,
criou o cordeiro para simbolizar este grandioso aspecto de seu Unigênito Encarnado,
o de vítima expiatória, numa clara referência ao “cordeiro pascal” (Ex 12,
3-6), ou quiçá, ao duplo sacrifício diário oferecido no Templo (Ex 29, 38), ou
como comenta Orígenes: “Porque Ele, tomando sobre si nossas aflições e tirando
os pecados de todo mundo, recebeu a morte como batismo” (5).
O cordeiro
é um animal pacífico e pacificador. Solto no pasto ou posto na baia, ele tranquiliza os corcéis fogosos, evitando-lhes ferimentos inúteis.
A
afirmação de João é feita no presente do indicativo —“Aquele que tira” — para
indicar a perpetuidade do ato redentor.
30 Este é Aquele de quem eu disse: Depois
de mim vem um homem que é superior a mim, porque era antes de mim, ...
É patente
tratar-se aqui de um Homem de corpo e alma. Embora tenha nascido depois do
Batista, este último confessa publicamente não só que Jesus lhe é superior, mas
também que já existia antes dele. E é real, pois, enquanto Verbo de Deus,
Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Ele é eterno. Assim, neste versículo, o Precursor
proclama a Humanidade unida à Divindade, numa só Pessoa. É a revelação do
mistério da Encarnação.
Continua no próximo post
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