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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Evangelho – VI Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014 – Mt 5, 17-37

Continuação dos comentários ao Evangelho  6º Domingo do Tempo Comum – Ano A – 2014


Cristo é a plenitude da Lei
17 “Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento”.
De tal forma Jesus abstraia de algumas normas farisaicas, que muitos poderiam imaginar ter vindo Ele revogar a Lei mosaica, substituindo-a por outra.
Os Doutores da Lei, por exemplo, proibiam o contato com os pecadores e publicanos, enquanto o Divino Mestre ia jantar em casa deles. Rompia também os preceitos farisaicos do sábado, permitia que seus discípulos omitissem as abluções rituais antes da refeição e afirmava não estar a impureza nos alimentos, mas sim no coração. Tudo isso poderia dar a impressão de ser Ele um laxista disposto a abolir as antigas práticas, excessivamente rigorosas.
O Decálogo é um reflexo do Criador
Sem ignorar essa objeção dos seus ouvintes, começa Jesus por mostrar-lhes não ser a Boa Nova “uma doutrina de facilidades e uma religião a preços promocionais, menos ainda uma anarquia ou um rompimento revolucionário com o passado de Israel”.9 Pelo contrário, Ele vai edificar o Evangelho “sobre os antigos fundamentos, e da Lei divina nada passará, a menos que se diga que um botão de rosa acaba quando a flor desabrocha, ou que um esboço traçado a lápis é suprimido quando a pintura definitiva vem completá-lo, fixá-lo para sempre”.10
Em que consiste, então, o “pleno cumprimento” anunciado pelo Messias?
A antiga Lei era, segundo São Tomás, a “da sombra”, pois apenas “figurava com alguns atos cerimoniais e prometia por palavras” a justificação dos homens.11 A nova, entretanto, é a “da verdade”, porque realiza em Cristo tudo quanto a Lei antiga prometia e figurava. Ou seja, a Lei nova realiza a antiga enquanto supre o que faltara a esta.12
Nosso Senhor não é só o Autor da Lei, mas também a Lei viva. Assim como dizemos que “o Verbo de Deus Se fez carne”, podemos afirmar que “a Lei de Deus Se fez carne e habitou entre nós”. No Divino Mestre se encontram os Dez Mandamentos no estado de divindade, pois, por exemplo, o que fez Ele na sua vida terrena senão praticar a todo o momento o Primeiro Mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus sobre todas as coisas”?
Nessa perspectiva, fácil é vermos no Decálogo um reflexo do Criador, compreendermos a beleza que existe nos seus preceitos e acatá-los com amor, de modo a criar em nossa alma a aspiração de cumpri-los com integridade, como meio de nos aproximarmos de Deus.

Decálogo e moral de situação
18 “ Em verdade, Eu vos digo; antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra”.
Os adeptos da chamada “moral de situação” defendem a mutabilidade dos princípios éticos em função do contexto no qual são eles aplicados. Assim, segundo essa filosofia, se os costumes evoluem ao longo dos tempos, o mesmo deve ocorrer com as normas morais. Ou então, mesmo admitindo serem elas universais e perenes, deve-se evitar sua aplicação de forma absoluta nas situações concretas, reduzindo seu valor ao de meras orientações a serem ponderadas em função das circunstâncias do momento.13
Ora, a Lei sintetizada nos preceitos do Decálogo é absoluta e permanente, conforme ensina o Catecismo da Igreja Católica: “Visto que exprimem os deveres fundamentais do homem para com Deus e para com o próximo, os Dez Mandamentos revelam, em seu conteúdo primordial, obrigações graves. São essencialmente imutáveis, e sua obrigação vale sempre e em toda parte. Ninguém pode dispensar-se deles”.14

Portanto, aquilo que era pecado quando Adão e Eva saíram do Paraíso, sê-lo-á também até o último dia, quando for morto o Anticristo e vier o fim do mundo.
O pecado de escândalo
19 “Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino dos Céus”.
Ora, pior que desobedecer aos preceitos da Lei divina é criar ou propagar uma doutrina que convide a transgredi-los. Quem assim procede perde, sem dúvida, a graça de Deus e, caso não se emendar, “será considerado mínimo no momento do Juízo; ou seja, será reprovado, será o último. E o último cairá inexoravelmente no inferno”.15
A “justiça” dos fariseus
20 “Porque Eu vos digo: Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”.
Os escribas e fariseus conheciam perfeitamente a Lei e sabiam pesar cada ato em função dela. Apresentavam-se como a “lei viva”, mas era justamente isto o que não se podia afirmar deles.
Como já foi dito acima, sua justiça fundava-se nas exterioridades. “Quanto ao repouso sabático, haviam eles multiplicado as interdições, entrando nos mais ínfimos detalhes. Sobre a questão das impurezas, deram livre curso à imaginação e acrescentaram à legislação mosaica as mais minuciosas prescrições”.16

Jesus nos adverte aqui ser indispensável, para entrar no Reino dos Céus, praticar uma virtude “maior” que a dos fariseus e mestres da Lei. Ou seja, não se prender às exterioridades, nem fazer enganosas racionalizações, mas cumprir de fato em sua integridade, amorosamente, os Dez Mandamentos.

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