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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Evangelho III Domingo da Páscoa – Lc 24, 13-35 – Ano A

CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO 3º DOMINGO DA PÁSCOA - Lc 24, 13-35 - ANO A
Os seus olhos, porém, estavam como que fechados, de modo que não O reconheceram.
São Lucas nos fornece a hipótese de estarem os olhos dos dois discípulos impedidos de reconhecer o Salvador devido a uma virtude sobrenatural semelhante àquela que havia agido sobre Santa Maria Madalena no Sepulcro (2).
Entretanto, São Marcos afirma que Jesus “apareceu sob outra forma” (Mc 16, 12), ou seja, com fisionomia e talvez até roupas diferentes das que costumava usar. Estas duas versões parecem ser contraditórias à primeira vista e se prestaram durante muito tempo a duas interpretações diferentes.
Hoje, porém, os exegetas são unânimes em atribuir a um efeito do corpo glorioso de Jesus o fato de — tanto nesses dois casos quanto no da aparição aos Apóstolos junto ao Mar de Tiberíades (3) — Ele não ter sido reconhecido.
E por quê? Detenhamo-nos um pouco sobre este particular para melhor entender o que realmente se passou.
“A glória do corpo não é mais do que uma conseqüência e redundância da glória da alma”, diz-nos o grande teólogo Pe. Antonio Royo Marin, OP (4). Em Jesus, esta lei ficou misteriosamente suspensa até o momento da Ressurreição, pois queria Ele ter padecente seu corpo, a fim de poder sofrer.
Desde sua criação, a alma do Salvador sempre esteve na visão beatífica e, portanto, também seu Corpo Sagrado deveria encontrar-se no estado de glória. Ele criou a lei e impediu que se Lhe fosse aplicada. Ora, ao ressurgir dentre os mortos, Ele assumiu seu Corpo glorioso.
É essencial ao homem, a fim de gozar a bem-aventurança eterna, que tanto a alma quanto o corpo sejam glorificados. E assim como nesse novo e último estágio a alma se torna ainda mais semelhante a Deus, o corpo adquire as características da alma.
Ele será impassível, ou seja, não terá a menor enfermidade, dor ou incômodo, nem sequer do mais abrasador dos fogos, ou do mais rigoroso frio, ou até mesmo em meio à impetuosidade das águas; será, portanto, imortal (5). Gozará de sutileza, obedecendo sem resistência aos mínimos anseios da alma, sem sentir o próprio peso nem sofrer a ação da gravidade. Terá agilidade, deslocando-se com a velocidade da imaginação. Por fim, o dom que mais especialmente nos interessa para compreender este versículo, a claridade, devida aos efeitos resplandecentes da suprema felicidade da alma sobre o corpo: “Os justos brilharão como o sol no reino de seu Pai” (Mt 13, 43).
Ora, como a alma exercerá um domínio absoluto sobre o corpo, suspenderá segundo seu desejo a manifestação deste ao exterior de modo que possa ser visto ou não, tocado ou não, segundo ela determine (6).
Eis aí as razões pelas quais os dois discípulos não reconheceram Jesus ao longo de todo o percurso. “Alguns autores pensam que uma ação sobrenatural era que lhes impedia reconhecer Cristo. Mas a frase do Evangelho [“seus olhos, porém, estavam como que fechados”], não exige que tenha se dado uma ação desse gênero. Aconteceu simplesmente que Cristo ressuscitado apareceu-lhes em corpo glorioso, sob uma forma não mais comum e corrente” (7). Ou então, segundo o comentário de Teófilo: “Apesar de ser o mesmo corpo que havia padecido, já não era visível para todos, senão unicamente para aqueles que Ele quisesse que o vissem; e para que não duvidassem que doravante já não viveria entre a gente, porque seu modo de vida depois da ressurreição já não era humano, mas mais bem divino, uma pré-figura da futura ressurreição, na qual viveremos como anjos e filhos de Deus” (8).
Ele disse-lhes: “Que palavras são essas que trocais entre vós pelo caminho?” Eles pararam cheios de tristeza.
Pode-se falar em senso psicológico humano ao analisar o relacionamento de Jesus, mas como entender a fundo um Varão que só possui personalidade divina? Seu discernimento dos espíritos é absoluto e, enquanto Pessoa, Ele conheceu desde toda a eternidade não só aqueles dois discípulos, como também o recôndito de suas almas e até mesmo o conteúdo da conversa de ambos; por isso, Ele pergunta apenas para dar início ao diálogo e, assim, ter oportunidade de mais diretamente animá-los.
Quantas vezes em nossa vida, não terá Jesus se aproximado de nós para nos reanimar!...
Um deles, chamado Cléofas, respondeu: “Serás tu o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que ali se passou nestes dias?”
Era de fato incompreensível que um judeu vindo de outras províncias não se inteirasse, ao passar por Jerusalém, dos últimos grandes acontecimentos ali sucedidos. A ressurreição de Lázaro, a expulsão dos vendilhões do Templo, um número incontável de milagres, as arrebatadoras pregações de Jesus e sobretudo sua prisão, condenação e crucifixão, o escurecimento do céu, o tremor da terra, o véu do Templo cindido, o passeio dos justos que haviam saído de seus túmulos — esses eram fatos suficientes para convulsionar a opinião pública. Não havia outro tema para se considerar senão esse, daí a perplexidade manifestada por Cléofas.
Ele disse-lhes: “Que foi?” Responderam: “Sobre Jesus Nazareno, que foi um profeta, poderoso em obras e em palavras diante de Deus e de todo o povo”;
Segundo alguns autores, esta resposta tem sua origem na falta de fé dos dois discípulos, como também no medo de serem presos. Não poderia o forasteiro se escandalizar ouvindo a proclamação da divindade de Jesus?
e de que maneira os príncipes dos sacerdotes e os nossos chefes O entregaram para ser condenado à morte, e O crucificaram.

Eles narram os fatos com o coração nos lábios e, apesar de extremamente chocados com as atitudes das autoridades religiosas e civis, em nenhum momento manifestam desrespeito ou revolta contra as mesmas. Era um dos resultados obtidos pela ação apostólica de Jesus. O possessivo: “os nossos”, na voz desses discípulos, demonstra claramente a disposição de submissão e até de veneração face aos detentores do poder. Eles não se separam, e menos ainda injuriam. Essa sempre foi a nota distintiva do verdadeiro Cristianismo.
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