Conclusão dos comentários ao Evangelho – Solenidade de São Pedro e São Paulo
Jurisdição plena, suprema e universal
Se lermos os Atos dos
Apóstolos, encontraremos Pedro exercendo esse supremo poder, ao falar em
primeiro lugar nas reuniões dos Apóstolos, ao propor o que se deve fazer,
inaugurando a missão apostólica, encerrando discussões com sua palavra, etc. E
assim se têm perpetuado, ao longo de dois milênios, a jurisdição e o magistério
dos Papas.
Todo sucessor de
Pedro possui verdadeira jurisdição, pois tem o poder de promulgar leis, julgar
e impor penas, de forma direta, em matéria espiritual, e indireta, no campo
temporal, sempre que se apresente como necessária para obter bens espirituais.
Essa jurisdição é plena: não há poder na Igreja que não resida no Papa. É
universal, ou seja, todos os membros da Igreja (fiéis, sacerdotes e bispos) a
ele estão submetidos. É, ademais, suprema: o Papa acima de todos, e ninguém
acima dele. Até mesmo os Concílios Ecumênicos não podem se realizar sem ser por
ele convocados e presididos. Os próprios estatutos conciliares não o obrigam,
tendo ele o poder de mudá-los ou de derrogá-los.
Magistério infalível
Outro tanto se pode afirmar
sobre uma análoga e grande função de Pedro e de seus sucessores: o supremo
Magistério que, como coluna que sustenta a Igreja, não pode equivocarse. O Papa
é infalível ao falar ex cathedra, ou seja, enquanto doutor de todos os
cristãos, ao definir com autoridade apostólica doutrinas sobre Fé e moral, que
devem ser admitidas por toda a Igreja universal. Aí está o motivo pelo qual “as
portas do inferno” não poderão se sobrepor a um edifício construído sobre a
pedra que é Pedro.
“Doce Cristo na Terra”
“Dar-te-ei as chaves do Reino do Céu; tudo o que ligares
na Terra ficará ligado no Céu e tudo o que desligares na Terra será desligado
no Céu”.
Cristo retornaria ao
Pai, deixando nas mãos de Pedro as chaves de Sua Igreja. “Quem tem o uso
legítimo e exclusivo das chaves de uma casa ou de uma cidade, este é o
administrador, o intendente supremo que recebeu os poderes de seu senhor. A
Igreja é o reino dos Céus neste mundo; a Igreja Triunfante será o reino
definitivo e eterno dos Céus, prolongamento desta mesma Igreja da Terra, já
purificada de toda impureza. Pedro terá poder de abrir e fechar a entrada nesta
Igreja temporal e, conseqüentemente, na eterna” 15.
A cabeça desse corpo
místico sempre será Cristo Jesus. Durante a História da humanidade, Ele será o
chefe invisível, mas deixa entre nós um Pedro acessível, o “doce Cristo na
Terra” — segundo expressão usada por Santa Catarina de Sena —, a quem todos
devemos amar como bom pai, obedecer até às suas mais leves insinuações e
conselhos, honrar como a um supremo monarca, rei de reis.
III – Nasce uma obra indestrutível
É de pasmar o
desenrolar desse acontecimento histórico ocorrido na “região de Cesaréia de
Filipe”. Um simples pescador da Betsaida proclama que o filho de um carpinteiro
é realmente Filho de Deus, por natureza. Este, em seguida, anuncia que
edificará uma obra indestrutível e deixará em mãos de seu administrador, com
plenos poderes de jurisdição e magistério, “as chaves do Reino do Céu”. O
ambiente que os cerca é pobre, árido mas com certa grandeza. Ali é plantado “o
grão de mostarda”, do qual nasceriam as igrejas, as catedrais, as cerimônias,
os vitrais, as universidades, os hospitais, os mártires, os confessores, as
virgens, os doutores, os santos, enfim, a Santa Igreja Católica Apostólica e
Romana.
Passaram-se dois
milênios e, depois de tantas e catastróficas procelas, inabalável continua essa
“nau de Pedro”, tendo Cristo, com poder absoluto, em seu centro. Nenhuma outra
instituição resistiu à corrupção produzida pelos desvios morais ou pela
perversão da razão e do egoísmo humano. Só a Igreja soube enfrentar as teorias
caóticas, opondo-lhes a verdade eterna; arrefecer o egoísmo, a violência e a
volúpia, utilizando as armas da caridade, justiça e santidade; pervadir e
reformar os poderes despóticos e materialistas deste mundo, com a solene e
desarmada influência de uma sábia, serena e maternal autoridade. Não podiam
mãos meramente humanas erigir tão portentosa obra, só mesmo a virtude do
próprio Deus seria capaz de conferir santidade e elevar à glória eterna homens
concebidos no pecado.
1 CORRÊA DE OLIVEIRA,
Plinio. A Guerra e o Corpo Místico, em “O Legionário”, de 16/4/1944.
2 AQUINO, São Tomás
de. Catena Aurea.
3 CRISÓSTOMO, São
João. Homilia 54 sobre o Evangelho de São Mateos, § 1.
4 MALDONADO, SJ, P. Juan de. Comentario a los cuatro
Evangelios. Madri: BAC, 1950, v. I, p. 579.
5 Cf. CRISÓSTOMO. Op.
cit. § 1.
6 Cf. CRISÓSTOMO.
Idem ibidem.
7 MALDONADO, Op. cit.
p. 580.
8 CRISÓSTOMO. Op.
Cit. § 3.
9 Ver seu poder de
perdoar os pecados, em Mt 9, 6; sua superioridade sobre o Templo, em Mt 12, 6;
a suspeita sobre sua messianidade, em Mt 12, 23; etc.
10 HILÁRIO DE
POITIERS, Santo, in Evangelium Matthaei Commentarius, c. XVI.
11 Apud AQUINO. Catena Aurea.
12 MALDONADO. Op. cit. p. 584.
13 BUENAVENTURA, San. La perfección evangélica, c. 4
a. 3 concl. in Obras de San Buenaventura. Madri: BAC, 1949, t. 6, p. 309.
14 CIPRIANO, San. De unitate ecclessia, § 4.
15 GOMÁ Y TOMÁS, Dr. D. Isidro. El Evangelio
Explicado. Barcelona: Ediciones Acervo, 1967, v. II, p. 38.
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