COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO XIV
DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - Mt 11, 25-30
Naquele tempo, Jesus pôs-Se a dizer: 25 “Eu Te louvo, ó
Pai, Senhor do Céu e da Terra porque escondeste estas coisas aos sábios e
entendidos e as revelaste aos pequeninos
26 Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.
27 Tudo Me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o
Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o
Filho o quiser revelar.
28 Vinde a Mim todos vós, que estais cansados e fatigados
sob o peso dos vossos fardos, e Eu vos darei descanso. 29 Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de Mim, por que sou manso e humilde de coração, e vós
encontrareis descanso. 30 Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Mt 11,
25-30).
A santa alegria os humildes
Como gozar da paz e
da alegria nesta Terra, tanto quanto possível, e possuí-las plenamente na
eternidade? Entremos na escola de Jesus!
I - JESUS FOI HUMILDE PARA NOS DAR SUA ALEGRIA
A clave da Liturgia
do 14° Domingo do Tempo Comum nos é sugerida logo na abertura da Celebração,
pela Oração do Dia: “O Deus, que pela humilhação do vosso Filho reerguestes o
mundo decaído, enchei vossos filhos e filhas de santa alegria, e dai aos que
libertastes da escravidão do pecado o gozo das alegrias eternas”.1
A partir da saída de
Adão e Eva do Paraíso, a humanidade foi-se precipitando nos abismos do pecado.
Vemos, em seus primórdios, Cairn matar seu irmão Abel (cf. Gn 4, 8) e, mais tarde,
corromperem-se os homens sobre a Terra, a ponto de arrepender-Se Deus de tê-los
criado (cf. Gn 6, 5-7.11-12). Depois, cheios de arrogância, procuraram desafiar
o Todo-Poderoso por meio de seus empreendimentos (cf. Gn 11, 4), e, finalmente,
caíram na idolatria vergonhosa, adorando deuses de metal, pedra e madeira (cf.
Dt 28, 36; Dn 5, 4; Rm 1, 21-25, Gal 4, 8).
Mas Deus, compadecido
de tanta miséria, desce do Céu e assume nossa carne para Se relacionar conosco.
Nosso Senhor Jesus Cristo, Unigênito do Pai, Se humiiha e toma sobre Si as
nossas iniquidades, com vistas a nos redimir e fazer-nos consortes d’Ele na
felicidade eterna, a mesma que Ele goza junto ao Pai e ao Espírito Santo. Ele
deseja, porém, que tal felicidade — cuja plenitude só se dará na
bem-aventurança eterna — já comece a se realizar agora, conforme pede a
mencionada Oração do Dia. Como atingi-la ainda neste mundo, tanto quanto
possível?
Um Rei que Se humilia e Se faz pobre
O conjunto das
leituras de hoje nos oferece alguma pista, constituindo um marco para o
Evangelho. Na primeira (Zc 9,9-10), retirada da profecia de Zacarias, lemos:
‘Assim diz o Senhor: Exulta, cidade de Sião! Rejubila, cidade de Jerusalém. Eis
que vem teu Rei ao teu encontro” (9, 9a). Trata-se, de fato, de um Rei, vin do
para estabelecer um império autêntico, mas impalpável, por que é, sobretudo,
interior: o reino da graça, da participação na vida divina, o qual se difunde
por meio da Igreja visível, fundada por Ele, e nos prepara para a glória perene
no Reino sempiterno.
“Ele é justo, Ele
salva; é humilde e vem montado num jumento, um potro, cria de jumenta” (Zc 9,
9h). Contrariamente aos soberanos da Antiguidade, detentores de imensos poderes
e riquezas, este Monarca aparece pobre. Com acuidade profética Zacarias prevê o
episódio do Domingo de Ramos, em que o Rei dos reis, Criador e Redentor do universo,
o Filho de Deus unido à natureza humana, entraria em Jerusalém montado num
jumentinho, aclamado pela multidão. Ele, que merece infinitos louvores, entretanto
condescende com essa diminuta demonstração de simpatia, porque — dada a
concepção orgulhosa de um Messias temporal, que resolveria todos os problemas políticos
e financeiros da nação — se Ele aceitasse homenagens cheias de grandeza e pompa
lhes faria mal, confirmando-os naquela deformada crença.
Não era chegada a
hora de Se revestir de força e esplendor, como será em sua segunda vinda quando
descer do Céu para julgar os vivos e os mortos, e sim o momento de fazer um convite
à mudança de vida, através do exemplo de desprendimento das coisas materiais.
A Deus pertencem todas as riquezas
Não pensemos,
contudo, segundo certa mentalidade errônea, que nossas manifestações com
respeito a Deus e ao seu culto devam ser marcadas pela nota da pobreza e da
humilhação, que as igrejas tenham que ser despojadas de qualquer adorno, compostas
de taipa, semelhantes a uma cabana, e os tabernáculos para o Santíssimo
Sacramento feitos de argila, mais míseros que uma casinha de joão-de-barro.
Ao contrário, nós
temos a obrigação de dar a Deus aquilo que Lhe pertence, conforme o mandato de
Nosso Senhor: “a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). 0 que cabe, então, a Deus? o
que Lhe precisamos restituir? Todo o ouro da Terra, todas as riquezas, pois Ele
disse: “A prata e o ouro Me pertencem” (Ag 2, 8).
A igreja é a casa de
Deus e, portanto, ela é de todos, tanto do rico quanto do pobre, tanto do
asiático quanto do ocidental, tanto para os de uma raça quanto para os de
outra. Ela é também o luxo do pobre, erguida para dar alegria àqueles que não se
apegam aos bens deste mundo, aos autênticos pobres, isto é, os de espírito (cf.
Mt 5, 3).
Por tais motivos a
Liturgia tem de ser majestosa e as igrejas ricas como o é o Céu Empíreo que
Deus preparou para nós, para o qual não há termos de comparação nem linguagem
humana capaz de exprimir o que nele existe. São Paulo, que foi arrebatado ao
terceiro Céu (cf. II Cor 12, 2), São João Bosco,2 que esteve na antecâmara do
Céu, e tantos outros, não encontraram palavras para descrever as maravilhas ali
contempladas.
A paz da boa consciência
Continua a profecia:
Ele “anunciará a paz às nações” (Zc 9, 10). Sim, esse Rei é justo e retribuirá
a cada um segundo suas obras, mas seu principal intuito é o de salvar e de
conceder a paz. Qual é esta paz? Acaso será a paz dos tratados que os dirigentes
dos países assinam, reunidos em torno de uma mesa? Não! Ele traz a paz
verdadeira, a da boa consciência de quem pratica a virtude e dá as costas ao
pecado. Nós, porém, de índole terrivelmente frágil e inclinada ao mal, como
poderíamos alcançar tal paz? Por meio d’Ele que, sendo a própria Bondade e Misericórdia,
nos abraça com ternura e paciência apesar de nossas misérias, que nos ampara e
regenera, comunicando-nos forças para galgarmos os cimos da perfeição.
É este o aspecto que
o Salmo Responsorial procura ressaltar, ao dizer: “Misericórdia e piedade é o
Senhor, Ele é amor, é paciência, é compaixão. O Senhor é muito bom para com
todos, sua ternura abraça toda criatura. [...] 0 Senhor é amor fiel em sua
palavra, é santidade em toda a obra que Ele faz. Ele sustenta todo aquele que
vacila e levanta todo aquele que tombou” (Sl 144, 8-9.l3cd-14).
A perspectiva final nos dá paz e santa alegria
Na segunda leitura (Rm
8, 9.11-13), São Paulo — como apóstolo da Ressurreição — expõe a nota essencial
dessa paz, colocando-nos diante da perspectiva da nossa ressurreição, pináculo
da felicidade à qual somos convidados: “Vós não viveis segundo a carne, mas
segundo o espírito, se realmente o Espírito de Deus mora em vós. Se alguém não
tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo. E, se o Espírito d’Aquele que
ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então Aquele que ressuscitou
Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio
do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 9.11).
Desde que vivamos na
esperança da ressurreição final e evitemos o pecado para não morrer
eternamente, conquistaremos a paz e a santa alegria, ainda neste vale de
lágrimas. Abandonemo-nos à misericórdia, piedade, amor, paciência, compaixão e
ternura do Senhor, confiantes em que no último dia, se tivermos falecido na
graça de Deus, nossas almas descerão do Céu ao toque da trombeta (cf. Mt 24,
30-31) para se unirem aos corpos, que assumirão o estado glorioso.
No entanto, a clave
descortinada pelas leituras só é apreensível tendo bem claro o ensinamento de
Nosso Senhor expresso no Evangelho.
Continua no próximo post.
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