CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DO 25º DOMINGO DO TEMPO COMUM - ANO A - Mt 20, 1-16a
A figura da vinha
Ao contrário do que
geralmente se supõe, a região na qual hoje se incluem a Palestina e Israel era,
no tempo de Nosso Senhor, extremamente fértil. O panorama muitas vezes árido e
desolador de nossos dias é resultante de dois mil anos de lutas e arrasamentos.
Mas ali de fato era um país onde, além de “correr o leite e o mel” e produzir
ótimo azeite, cultivavam-se excelentes vinhas, conforme no-lo atestam as
Sagradas Escrituras (Nm 13, 24), certamente sinal de bênção de Deus.
No trabalho da vinha,
utilizavam-se dois períodos do ano: o começo da primavera e
o outono. O primeiro para deixá-la pronta para o florescimento e o outro para a
colheita. Para ambas as ocasiões se necessitava um bom número de trabalhadores
extras, pois poucos eram permanentes. Por isso vemos, na parábola em questão, o
pai de família ir à procura dos operários, contratando uns por necessidade e
outros pelo puro desejo de lhes oferecer um meio de ganhar algo.
As horas de trabalho
eram divididas em quatro partes de sol a sol, ou seja, de três em três horas,
das seis da manhã às seis da tarde. Entretanto, na parábola dos vinhateiros, os
últimos trabalharam tão-só das 17 às 18h, constituindo um quinto grupo. O
salário, como é óbvio, era o contratado.
A explicação
Uma boa explanação
sobre essa parábola, dada com a clareza, concisão e objetividade próprias ao
estilo francês, é de autoria do conhecido exegeta L. Cl. Fillion, na Vie de N.
S. Jésus-Christ. Segundo ele, de modo geral os comentaristas dos Evangelhos são
concordes em que, nas parábolas, há circunstâncias cuja função é apenas de
ornamento. No presente caso, muitos comentadores tropeçam na análise, ao forçar
uma interpretação de cada detalhe.
Tendo isto em vista,
Fillion procura apontar a idéia dominante na parábola: “Parece ser que Deus,
figurado no proprietário rico, cumpre fielmente suas promessas para os que O
servem, e que a todos dá, sem exceção, em qualquer ponto da vida em que tenham
começado seu trabalho, uma justa recompensa de todas as suas fadigas.”
Contudo, esse homem
reparte seus dons na proporção que lhe apraz. Para vários exegetas, aqui reside
a principal dificuldade da parábola: à primeira vista, pareceria uma injustiça
o senhor da vinha pagar o mesmo salário tanto para os que trabalharam mais,
como para os que menos o fizeram.
Fillion ressalta que,
na narrativa, ninguém foi esquecido na hora da distribuição, de modo que não há
motivo para queixas. São Tomás é do mesmo parecer: “Naquilo que é dado
gratuitamente, uma pessoa pode dar mais ou menos, conforme lhe agradar (desde
que não prive ninguém do que lhe é devido), sem de modo algum infringir a
justiça” (Summa, 1 q. 23 a. 5). Voltando a Fillion, completa ele seu raciocínio
com uma sentença da maior importância, sobre a qual voltaremos adiante: “Cada
um deve se satisfazer com o recebido e demonstrar reconhecimento, sem olhar com
vista invejosa os que ganharam mais”.
O chamado de Deus
Ao terminar o
comentário, o autor francês aponta outra relevante lição da parábola: “Não são
todos que começam a trabalhar em sua salvação e santificação na mesma época de
sua vida. Alguns o fazem na primeira hora, a infância; outros, na juventude; outros
ainda, na idade madura; e alguns iniciam quando já se manifestam os sinais
precursores da morte. Felizes os operários da primeira hora, que só tenham
vivido para Deus! Felizes também aqueles que, tendo ouvido em qualquer época da
vida o chamado da graça, correspondem a ele e acorrem para junto de seu
Salvador, a fim de trabalhar com Ele e para Ele!”
Conforme dizíamos no
princípio deste artigo, Jesus preparava com suas pregações, nesta fase, o
chamado a seus seguidores futuros. Deus, tal como consta nesta parábola, chama
todos à perfeição, apesar de o fazer em horas e circunstâncias diversas da
vida. Ninguém deve desanimar, se tiver deixado para muito tarde o preocupar-se
com sua salvação, pois para todos a misericórdia de Deus reserva um prêmio. Mas
também é necessário atender logo à convocação de Jesus, de modo decidido.
Nenhum dos chamados ao trabalho, nesta parábola, chegou a propor um horário
mais tardio, mas imediatamente se pôs a trabalhar. Nenhum também recusou. Assim
devemos proceder nós: não devemos retardar o nosso “sim” ao chamado do Mestre.
Continua no próximo post
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