CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
O Divino Mestre fala aos dirigentes de Israel
Naquele tempo, Jesus disse aos sumos sacerdotes e aos
anciãos do povo: 33a “Escutai esta outra parábola: Certo proprietário plantou
uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um lagar para esmagar as uvas, e
construiu uma torre de guarda”.
Nesta parábola Jesus
Se dirige às altas autoridades de Israel: os sumos sacerdotes e anciãos do
povo, nata da sociedade daquele tempo e responsáveis por guiá-la. Todos eram
homens letrados, profundos conhecedores da Escritura e, sem dúvida, ao iniciar
o Mestre a narração, eles tinham presente a profecia e o Salmo que contemplamos
hoje, e muitos outros textos sagrados, nos quais Israel é comparado a uma vinha
(cf. Jr 2, 21; Ez 15, 1-6; 19, 10-14; Os 10, 1; Ct 2, 15; etc.).
Segundo a descrição
de Nosso Senhor — harmônica com as referidas passagens do Antigo Testamento —,
podemos imaginar o protagonista desta parábola como um
varão de grande capacidade de trabalho e muitas posses, que despendeu cuidados extremos
para cultivar sua vinha com a maior perfeição. Colocou-a “em fértil encosta”
(Is 5, 1) iluminada pelo Sol, onde há arejamento e a água escorre, deixando a
terra drenada, o que favorece a produção da uva. Isto significa que Deus deu ao
povo eleito uma natureza privilegiada e condições propícias para receber o que
há de mais valioso: a vida sobrenatural. Limpou convenientemente o terreno e cercou-o
(cf. Is 5, 2a), ou seja, removeu da alma dos israelitas certas misérias que
prejudicavam o desenvolvimento da graça e protegeu-os para impedir que outros
lhes fizessem qualquer mal. Plantou ainda “videiras escolhidas” (Is 5, 2b),
quis cumulá-los de dons extraordinários, tendo em vista que no seio desta nação
estava sendo preparada a ascendência d’Aquele que seria o seu Filho Unigênito
Encarnado e de sua Mãe, Maria Santíssima. Como diz São João Crisóstomo, “Ele
nada omitiu no que dizia respeito à solicitude por eles”.2
Os arrendatórios da Vinha: novo e principal aspecto da parabola
33b Depois, arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o
estrangeiro”.
Naquele tempo, na
Palestina, não era raro o aluguel de terrenos de plantio. Os arrendatários
dividiam o lucro com o dono, pagando o que lhe correspondia conforme o
contrato. Não nos esqueçamos de que o esforço para preparar a vinha tinha sido
do segundo, o qual havia comprado a terra e montado toda a infraestrutura
necessária para dela se tirar proveito.
O presente versículo
nos oferece a peculiaridade desta parábola, considerando os demais textos do
Antigo Testamento que tratam da vinha, pois não se centra na relação desta com o
proprietário, e sim entre ele e os agricultores contratados. A vinha é Israel,
o dono é Deus. Ele encarrega alguns de cultivá-la, e parte para longe, “para
deixar os vinhateiros trabalharem aoseu livre-arbítrio”.3 Eis a realidade
pungente e clara: Deus não parece habitar junto aos seus escolhidos nem convive
com eles de forma visível, mas põe à sua frente homens notáveis chamados a
governá-los, autoridades religiosas incumbidas de guiá-los no caminho da
salvação. E “assim como o colono, ainda quando cumpre o seu dever, não agradará
ao seu amo se não lhe entregar as rendas da vinha, assim também o sacerdote não
agrada tanto ao Senhor por sua santidade, como ensinando ao povo de Deus a
prática da virtude”.4 Deste modo, pelo contexto da parábola, o Divino Mestre
evidencia a classe à qual era destinada.
Resumo da histórica infidelidade dos dirigentes do povo
34 “Quando chegou o tempo da colheita, o proprietário
mandou seus empregados aos vinhateiros para receber seus frutos. 35 Os
vinhateiros, porém, agarraram os empregados, espancaram a um, mataram a outro,
e ao terceiro apedrejaram. 36 O proprietário mandou de novo outros empregados,
em maior número do que os primeiros. Mas eles os trataram da mesma forma”.
Os empregados,
mandados pelo senhor da vinha para receber os frutos, simbolizam os profetas
enviados por Deus ao longo de toda a história de Israel para cobrar os lucros
dos que deveriam reger a nação, de acordo com as determinações d’Ele. Não
obstante, esses emissários foram perseguidos e mortos — como o próprio Jesus denunciou
(cf. Mt 23, 30-31.37; Lc 11, 47-51) —, porque sua pregação contrariava as más
inclinações reinantes e, sobretudo, os interesses dos dirigentes da sociedade.
Sua presença tornava-se um estorvo que era preciso eliminar. São Jerônimo
resume esta reprovável atitude: “golpearam-nos como a Jeremias (Jr 37, 15),
mataram-nos como a Isaías (Hb 11, 37), lapidaram-nos como a Nabot (I Rs 21, 15)
e a Zacarias, a quem mataram entre o Templo e o altar (TI Cr 24, 21)”. É a
fúria do pecador contra aqueles que vêm lembrá-lo de que a propriedade do povo
eleito pertence a Deus; fúria contra os que representam a Lei e o direito;
fúria contra os que exigem o cumprimento da vontade do Senhor. “Por que esse
terreno não é nosso?”, queixam-se. E, no fundo, uma inconformidade com a autoridade
de Deus.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST.
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