CONTINUAÇÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO – 27º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO A
Jesus profetiza o deicídio
“Finalmente, o proprietário enviou-lhes o seu filho,
pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. 38 Os vinhateiros, porém, ao verem
o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro, Vinde, vamos matá-lo e tomar
posse da sua herança!’ 39 Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da vinha
e o mataram”.
Por fim, num extremo de
amor, Deus não manda mais um profeta, mas seu Filho querido para convidar os
israelitas a serem fiéis à Aliança. No entanto, eles O matam. A parábola neste trecho
não poderia ser mais explícita: encontrando-Se próximo à Paixão, não por acaso
quis o Divino Mestre deixar bem clara a verdade e fazer uma profecia sobre Si
mesmo. Era a ocasião de manifestar que o Senhor dera ao seu povo toda espécie
de dons, regalias e proteção, e amparou-o de inúmeras formas. Porém, em
determinado momento, vendo que não cuidava da vinha e se utilizava de todos os
benefícios para o próprio interesse, e até contra Ele, confia ao seu Filho a
missão de convertê-lo. Contudo, o delírio de tomar posse da herança do dono, a
cobiça dos bens alheios, o desejo de apropriação e o ódio à superioridade levam
os vinhateiros — os chefes da nação — a atentarem contra a vida de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
40 “Pois bem, quando o dono da vinha voltar, o que fará
com esses vinhateiros?” 41 Os sumos sacerdotes e os anciãos do povo responderam:
‘Com certeza mandará matar de modo violento esses perversos e arrendará a vinha
a outros vinhateiros, que lhe entregarão os frutos no tempo certo”.
Os presentes,
acostumados ao hábito oriental de considerar a interpretação das parábolas como
sinal de inteligência e cultura, estavam preocupados em decifrar com acerto as
palavras do Divino Mestre, que vislumbravam dizer-lhes respeito. Por isso, sem
pensar muito, deram uma rápida solução. Não compreenderam que “o Senhor lhes
pergunta não porque ignore o que vão responder, mas para que se condenem com
sua própria resposta”.6 O veredicto dos sumos sacerdotes e dos anciãos do povo
era na verdade uma acusação, como tornam patente as posteriores palavras de
Nosso Senhor. Como comenta São João Crisóstomo, “eles pronunciaram uma sentença
contra si mesmos [...1. E, justamente, se [Jesus] lhes propôs uma parábola, foi
porque queria que eles pronunciassem sua sentença. Foi o que aconteceu a Davi,
quando ele próprio sentenciou na parábola do profeta Natã”.7
O Pai exaltará o Filho assassinado
42 Então Jesus lhes disse: “Vós nunca lestes nas
Escrituras: ‘A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isto
foi feito pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos?’ 43 Por isso, Eu vos
digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá
frutos”.
Na construção das
casas do tempo havia pedras postas nos ângulos para fixar e manter as demais,
conferindo firmeza ao edifício. Para este fim eram usadas as de maiores
dimensões, pois tinham a função de sustentar a construção, e, por suas características
peculiares, às vezes não eram adequadas nas anteriores etapas da obra. Isto
ocorria, sobretudo, no caso das pedras que rematavam as cúpulas. Ao usar esta
figura como símbolo de Si mesmo, o Redentor mostra que o Filho, a quem eles recusaram
e haveriam de matar, Deus O põe no mais alto patamar. E, aplicando a parábola
diretamente a seus interlocutores, os adverte de que, por não terem dado os
frutos que deveriam, serão desprezados, postos de lado e privados de seus
privilégios, que serão transferidos a outros povos.
A parábola é
lindíssima e tão clara — ao contrário de outras, à primeira vista misteriosas
para o público — que nem sequer os Apóstolos ou aqueles a quem era dirigida
pediram a Jesus sua explicação. Tais destinatários, ademais, receavam que Ele
manifestasse de maneira ainda mais categórica a grave acusação que sobre eles
pesava.
Deus castiga os indivíduos e os povos
A conclusão de Jesus
deixa patente como o Senhor não só castiga em plano individual aqueles que,
dando-Lhe as costas, abraçam as vias da perdição, mas chamará a juízo também as
nações. Assim sendo, a parábola contém uma lição para o nosso tempo, pois
parece evidente que Ele pode punir a humanidade. Hoje comprovamos que o relativismo,
o materialismo, o egoísmo, a falta de virtude e de amor a Deus tomaram conta do
mundo, o qual está pervadido por um espírito oposto ao d’Ele e se tornou como a
vinha escolhida que não deu as uvas desejadas. É possível que essa videira receba
a recompensa descrita na primeira leitura e no Evangelho.
Por tal motivo convém
escutar, na segunda leitura (Fl 4, 6-9), a exortação de São Paulo na Epístola
aos Filipenses: “ocupai-vos com tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo,
puro, amável, honroso, tudo o que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor”
(4, 8). E a pureza de alma que falta a este mundo, onde se cometem pecados
ovantes contra a castidade, são adotadas modas cada vez mais impudicas,
presencia-se a dissolução familiar e o desaparecimento da virgindade. Tudo isso
vai atraindo a indignação de Deus e, se não houver um surto de conversão que
sustente o braço da cólera divina, ignoramos o que sobrevirá sobre nossa geração.
Uma vez que Ele não tolera o pecado, quando intervirá? Não sabemos, mas devemos
nos compenetrar pessoalmente da importância de praticar a virtude, seja
em família ou na vida consagrada, com espírito de oração, fé e piedade, pedindo
que o Senhor Se compadeça de nós e conceda graças especialíssimas para haver
uma mudança no rumo dos acontecimentos. Só assim “a paz de Deus” (Fl 4, 7)
estará conosco, e não a sua ira.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST.
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