CONCLUSÃO DOS COMENTÁRIOS AO EVANGELHO III DOMINGO DO ADVENTO (DOMINGO GAUDETE) – ANO B – Jo I, 6-8. I 9-28
Declaração do Precursor e chamado à conversão
23 João declarou: “Eu sou a voz que grita no deserto:
‘Aplainai o caminho do Senhor’” — conforme disse o profeta Isaías.
Se as primeiras
palavras do Precursor os deixaram desorientados, estas, sem dúvida,
intensificaram a perturbação. Eles já temiam pelo fato de a figura de João
Batista ter-se projetado em Israel, provocando grande comoção na opinião
pública. As multidões iam ouvir a pregação de São João e receber o batismo, e
depois se emendavam. Era a graça do Espírito Santo movendo as almas. Ademais,
os fariseus conheciam a Escritura e sabiam o significado do oráculo de Isaías
(cf. Is 40, 3) — “eu sou a voz que grita no deserto” —, o qual indicava com
clareza que antes do aparecimento do Messias alguém se levantaria no deserto
para pregar. Ao referi-lo, São João como que dizia, sem que ninguém ousasse
contradizê-lo: “Eu sou aquele previsto por Isaías!”. E este Precursor também
lhes falava em conversão: “Aplanai o caminho do Senhor”, ou seja, “mudai de
mentalida de para recebê-Lo”.
Para os maus, era apenas o começo da aflição...
24 Ora, os que tinham sido enviados pertenciam aos
fariseus 25 perguntaram: “Por que então andas batizando, se não és o Messias,
nem Elias, nem o Profeta?” 26 João respondeu: “Eu batizo com água: mas no meio
de vós está Aquele que vós não
conheceis, 27e que vem depois de mim. Eu não mereço desamarrar a correia de
suas sandIias”. 28 Isso aconteceu em Betânia, além do Jordão, onde João estava
batizando.
Sempre preocupados com
os rituais exteriores, os fariseus indagaram a respeito do batismo de João,
cientes de que um banho purificador fora predito por vários profetas (cf. Is 1,
16; Ez 36, 25; Zc 13, 1). Que o Messias, Elias ou o Profeta “instituíssem ritos
novos, nada tinha de particular; como enviados de Deus, podiam agir conforme
suas ordens”.8 Mas se São João não o era, por que batizava? E, novamente, a
resposta do Precursor causou perplexidade nos membros da comitiva, pois não a
esperavam! E o Espírito Santo que fala pelos lábios e pela voz de São João
Batista, para fazer bem aos fariseus. Eles pensavam que São João daria uma
explicação justificando, com princípios, o batismo por ele administrado. Porém,
para surpresa de todos, ele como que menospreza o próprio batismo, dizendo: Que
mal há em batizar com água?
Então, São João
Batista se declara Precursor de alguém maior e anuncia que o Messias está entre
eles, porque já O tinha batizado, O curioso é que poderiam ter perguntado quem
era esse outro, mas não o fazem. Os fariseus têm medo, porque se Ele lhes fosse
mostrado, deveriam mudar de vida. Com um Precursor tão exigente, como seria
Aquele de quem não merecia sequer desamarrar a correia das sandálias?
O resultado foi uma
grande insegurança. Esse “no meio de vós” os incomodava enormemente, porque
significava que entre eles se encontrava alguém que era maior do que o que vinha
convulsionando o país. Israel era percorrido e penetrado por um espírito novo,
que deixava a todos na expectativa. As pessoas se convertiam, choravam seus
pecados, batiam no peito e... se esqueciam dos fariseus, dos saduceus e dos
escribas. Numa palavra, esse homem atrapalhava, porque pregava uma conversão.
Entretanto, acima dele está Aquele outro que é um Senhor incomum, de quem São
João Batista dizia que não tinha altura para ser escravo. Estava “no meio deles”,
e eles não O conheciam... E ficaram perturbados, enquanto crescia seu ponto de
interrogação, por perceberem que o imenso transtorno causado em sua cômoda
situação pelo Precursor não passava de um mero tremor, perto do terremoto que
ele vinha anunciando...
III - NÃO NOS DEIXEMOS ENGANAR PELA APARENTE ALEGRIA DO PECADO!
De modo bem diferente
à incondicional alegria que a vinda do Redentor deveria trazer, eis a
correlação entre júbilo e tristeza, euforia e provação, evocada pelo Evangelho
deste 39 Domingo do Advento. Enquanto os bons são assistidos pela alegria da
esperança, como aconteceu a São João Batista e aos que se converteram ante a perspectiva
do aparecimento do Messias, há na alma dos maus tristeza e insatisfação. Cabe
ao bom saber interpretar a frustração de quem vive no pecado e não pensar que
ele está sendo bem-sucedido. Quando, na segunda leitura (I Tes 5, 16-24), São
Paulo exorta “Estai sempre alegres!” (I Tes 5, 16), deseja mostrar que quem se
une a Deus, pratica a virtude e trilha o bom caminho, não pode de forma alguma
deixar-se tomar pela má tristeza.
O Domingo da Alegria
nos revela uma divisão claríssima que caracteriza a humanidade: os bons estão
sempre alegres e os maus, por mais que procurem aparentar alegria, vivem na
tristeza. Aqueles que estão ligados a Deus têm o contentamento, a segurança e a
felicidade de que carece quem se apega às coisas materiais e Lhe dá as costas.
Ambos vivem juntos, mas no momento em que o homem que pôs sua esperança no
mundo e no pecado vê a alegria verdadeira manifestada pelo bom, ou se converte
ou quer matá-lo, tal como fizeram a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Peçamos, nesta
Liturgia, a graça de viver na alegria da virtude, como sinal de nossa inteira
adesão ao Salvador que em breve chegará!
1) TERCEIRO
DOMINGO DO ADVENTO. Oração do Dia. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 2a.
edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos
aprovados pela Sé Apostólica. 9.ed. São Paulo: Paulus, 2004, p.l3l.
2) Cf. SAO
TOMAS DE AQUINO. Suma Teológica. I-II, q.7O, a.3.
3) SÃO TOMÁS DE
AQUINO. Super loannem. CI, lect.4.
4) Cf. TUYA,
OP, Manuel de. Biblia Comentada. Evangelios. Madrid: BAC, 1964, vV, p.972-973.
5) RICCIOTII,
Giuseppe. Vita di Gesù Cristo. 14.ed. Città dei Vaticano: T Poliglotta Vaticana,
1941, p.307-308.
6) SÃO TOMÁS DE
AQUINO. Super Ioannem. CI, lect.12.
7) SÃO JOÃO
CRISÓSTOMO. Homilía XVI, n.2. In: Homilías
sobre el Evangelio de San Juan (1-29). 2.ed. Madrid: Ciudad Nueva, 2001, v.1, p.205.
8) TUYA, op. cit., p.977.
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