Comentário ao Evangelho – III Domingo do Tempo Comum – Ano B – Mc
1, 14-20
Depois que João Batista foi preso, Jesus foi para a
Galileia, pregando o Evangelho de Deus e dizendo: 15 “O tempo já se completou e
o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho!” 16 E,
passando à beira do Mar da Galileia, Jesus viu Simão e André, seu irmão, que
lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 Jesus lhes disse: “Segui-Me e
Eu farei de vós pescadores de homens”. 18 E eles, deixando imediatamente as
redes, seguiram a Jesus. 19 Caminhando mais um pouco, viu também Tiago e João,
filhos de Zebedeu. Estavam na barca, consertando as redes; 20 e logo os chamou.
Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados, e partiram, seguindo
Jesus (Mc 1, 14-20).
Não se deve dar tempo
ao tempo, mas sim à eternidade
O chamado à conversão
e o anúncio do Reino nos colocam na perspectiva de um “tempo abreviado” que
deve ser vivido em função da eternidade.
Mons. João
Scognamiglio Clá Dias, EP
I – Viver no tempo sob a perspectiva da eternidade
A comunicação de Deus
com o homem — em particular nos episódios mais salientes narrados na Escritura
Sagrada — é o ponto central a partir do qual se desenrola a História. Como
seria desejável assistir a todas as maravilhas da ação divina ao longo dos
séculos, do grande mirante da eternidade, que só abandonaríamos no curto
período entre nosso nascimento e o instante da morte! No entanto, dado que
vivemos dentro do tempo, isto não é possível. Mas também fazemos parte da
História, e tudo o que veio antes de nós, assim como o presente e o futuro, tem
íntima relação conosco. Como, então, nos associarmos aos passos de Deus em
todas as épocas?
A Liturgia permite reviver a História da salvação
Eis a maravilha da
Liturgia! Com efeito, ela nos faz participar não só dos acontecimentos celebrados,
mas, inclusive, das mesmas graças concedidas em cada um deles, conforme afirma
o Papa Pio XII na Encíclica Mediator Dei: “O Ano Litúrgico, que a piedade da
Igreja alimenta e acompanha, não é uma fria e inerte representação de fatos que
pertencem ao passado, ou uma simples e nua evocação da realidade de outros
tempos. É, antes, o próprio Cristo, que vive sempre na sua Igreja e que
prossegue o caminho de imensa misericórdia por Ele iniciado, piedosamente,
nesta vida mortal, quando passou fazendo o bem (cf. At 10, 38) com o fim de pôr
as almas humanas em contato com os seus mistérios e fazê-las viver por eles,
mistérios que estão perenemente presentes e operantes, não de modo incerto e
nebuloso”.1
Há um mês e meio
abriu-se o novo Ciclo Litúrgico com o período do Advento, que revive ao longo
de quatro semanas — dedicadas à penitência e ao pedido de perdão por nossas
faltas — a espera da humanidade pela chegada do Messias. Vinculamo-nos, assim,
aos milênios que se seguiram desde a saída de Adão e Eva do Paraíso até o
nascimento do Redentor. Exultando de alegria pela certeza de que uma mudança se
verificaria e as coisas tomariam outra perspectiva, acolhemos Jesus na noite de
Natal, O visitamos com os pastores e os Reis Magos, fugimos com Ele para o Egito,
e O encontramos no Templo, separado de Nossa Senhora e de São José. Mais tarde
assistimos ao seu Batismo, cuja comemoração encerra as festas e introduz o
Tempo Comum, em que contemplaremos ao longo dos meses o começo da vida pública
de Nosso Senhor, os milagres por Ele realizados, a indignação dos fariseus por
perceberem a difusão de uma doutrina nova dotada de potência (cf. Mc 1, 27),
diferente de tudo quanto ensinavam, bem como a insegurança e a inveja que os
leva a querer matar o Filho de Deus.
Tempo Comum significa
tempo de luta, de esforço no cumprimento do dever, de abnegação, de arrancar as
nossas vaidades, medidas fundamentais para a formação do caráter. Não é por
acaso que neste 3º Domingo ouvimos o Divino Mestre declarar: “O tempo já se
completou e o Reino de Deus está próximo”.
Que tempo é este?
Qual é o tempo que estamos vivendo? Avançam sem interrupção os ponteiros do
relógio, sucedem-se os segundos, os minutos vão se escoando. A nossa vida se
pauta pela expectativa dos instantes posteriores e do dia de amanhã... Que
mensagem nos traz esta Liturgia ao falar da criatura tempo, enquanto nos
convida a entrar no Reino de Deus?
A pregação de Jonas
Na primeira leitura
(Jn 3, 1-5.10) Deus incumbe o profeta Jonas, pela segunda vez, de pregar em
Nínive, missão que, como lemos em capítulos precedentes, ele aceita de má
vontade. Convicto de que seus habitantes não iriam se converter, quiçá ele
tenha pensado que as admoestações ao menos serviriam de elemento para
condená-los, e por isso partiu com ímpeto de destruição, tanto mais que os
ninivitas se contavam então entre os adversários dos judeus. Como era uma cidade
entregue aos vícios e de conceitos religiosos desviados, predizer o seu castigo
acabava sendo um deleite para Jonas. Grande era a extensão de Nínive, a ponto
de serem necessários três dias para ser percorrida, mas o profeta não poupou
esforços em proclamar: “Ainda quarenta dias, e Nínive será destruída” (Jn 3,
4).
Ora, o rei e o povo
levaram a sério sua palavra: “acreditaram em Deus; aceitaram fazer jejum, e
vestiram sacos, desde o superior ao inferior” (Jn 3, 5). Por que agiram assim?
Porque o Senhor lhes mostrou o seu caminho, e a sua verdade os orientou e
conduziu, como reza o Salmo Responsorial (Sl 24, 4a.5a) da Liturgia de hoje.
Desta forma eles adquiriram uma noção clara do rumo a ser seguido, e
corresponderam à graça, atraindo a benevolência do Céu: “Vendo Deus as suas
obras de conversão e que os ninivitas se afastavam do mau caminho,
compadeceu-Se e suspendeu o mal que tinha ameaçado fazer-lhes, e não o fez” (Jn
3, 10). Neste domingo a Igreja deseja que, a exemplo dos ninivitas, também nós
atendamos à voz de Jesus que nos exorta: “Convertei-vos e crede no Evangelho!”.
Continua no próximo post
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