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segunda-feira, 6 de abril de 2015

EVANGELHO II DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31

COMENTÁRIOS DE MONS. JOÃO CLÁ DIAS AO EVANGELHO DO 2º DOMINGO DA PÁSCOA - ANO B - Jo 20, 19 - 31
19 Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: "A paz esteja convosco".
20 Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
21 Novamente, Jesus disse: "A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio".
22 E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos".
24 Tomé, chamado Dídimo, que era um dos doze, não estava com eles quando Jesus veio. 25 Os outros discípulos contaram-lhe depois: "Vimos o Senhor!"
Mas Tomé disse-lhes: "Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei".
26 Oito dias depois, encontravam-se os discípulos novamente reunidos em casa, e Tomé estava com eles. Estando fechadas as portas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco".
27 Depois disse a Tomé: "Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mais fiel".
28 Tomé respondeu: "Meu Senhor e meu Deus!"
29 Jesus lhe disse: "Acreditaste, porque me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!"
30 Jesus realizou muitos outros sinais diante dos discípulos, que não estão escritos neste livro. 31 Mas estes foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome. (Jo 20, 19 - 31)
Crer,para depois amar
Da incredulidade a um sublime ato de adoração, quando constatou a Ressurreição do Senho as atitudes de São Tomé constituem valiosa instrução nafé para os homens do século XXI.
I – A CRENÇA NA RESSURREIÇÃO, FUNDAMENTO DA FÉ
A ressurreição não era tema fácil de tratar na época de Nosso Senhor, como também não o é ainda hoje. De fato, ele nos toca a fundo, pois, se considerássemos com seriedade o destino eterno, nossa vida seria outra e o mundo não estaria na presente situação de desvario.
Existiam naquele tempo escolas gregas cujos propugnadores, além de não acreditarem na ressurreição, sustentavam a tese de que a alma humana não era espiritual nem imortal. O resultado era o materialismo absoluto. Em Israel, os saduceus — partido constituído por pessoas da classe mais acomodada — haviam se abeberado nestas doutrinas filosóficas, como constatamos na célebre discussão deles com Jesus, a propósito da hipotética mulher casada sucessivamente com sete irmãos. O Salvador os refutou de uma forma belíssima, a ponto de causar admiração até em alguns escribas fariseus, os quais, sim, tinham fé na ressurreição (cf. Lc 20, 27-40).

Os Apóstolos não creram na Ressurreição de Jesus
Os seguidores do Divino Mestre estavam mais próximos da doutrina farisaica, como se depreende da resposta de Santa Marta a Jesus, a respeito de seu irmão Lázaro: “Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia” (Jo 11, 24). Porém, eles não aventavam a possibilidade da Ressurreição imediata de Jesus depois de sua Paixão e Morte.
É nesta perspectiva que devemos analisar o comportamento dos Apóstolos relatado no Evangelho do 2° Domingo da Páscoa. A essas alturas já lhes chegara aos ouvidos a notícia de que Nosso Senhor fora ao encontro das Santas Mulheres (cf. Mt 28, 9-10; Mc 16, 9-11; JO 20, 14-18) e Se deixara ver por São Pedro (cf. Lc 24, 34), bem como por dois discípulos a caminho de Emaús (cf. Lc 24, 13-33; Mc 16, 12-13); eles, todavia, se recusaram a acreditar, até o Divino Redentor Se lhes manifestar abertamente.
Verdadeiro Deus e verdadeiro Homem ressuscitado
19a O anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-Se no meio deles...
Esta aparição se deu no fim do próprio domingo da Ressurreição, primeiro dia da semana para os israelitas. O Apóstolo Virgem — que apresenta uma série de dados peculiares — frisa o fato de estarem as portas “fechadas, por medo dos judeus”. Com efeito, se estes haviam crucificado o Mestre, sem dúvida os d’Ele seriam também perseguidos. Apesar disso, provocava-lhes pânico a ideia de renegá-Lo e fugir, como fizeram os discípulos de Emaús. Assim, postos entre dois temores, o único meio que lhes restava era viverem ocultos no Cenáculo, apoiando-se uns aos outros naquela perigosa contingência. A entrada de Jesus, transpondo as paredes com seu Corpo glorioso, causou um verdadeiro estupor. Estavam todos à mesa (cf. Mc 16, 14), que tinha forma de “U”, e Ele Se colocou no centro, bem à vista de todos.
A palavra do Senhor é eficaz
19b …disse: “A paz esteja convosco”. 20 Depois dessas palavras mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor.
Dir-se-ia ser este um cumprimento usual... Nós, ao saudar alguém com um simples “Boa tarde!”, externamos apenas um desejo que provavelmente não se verificará. A palavra de Jesus, pelo contrário, é criadora, onipotente, transforma, tem força de lei e vitalidade para produzir aquilo que diz. Por isso, a expressão “A paz esteja convosco” não deve ser considerada como algo platônico, distante. Ela, de fato, acabava com a agitação e infundia a paz na alma dos Apóstolos. Que paz? A “tranquilidade da ordem”.1 Todos os movimentos internos do espírito humano se equilibram e se ordenam em função de Cristo Jesus, pois tudo depende d’Ele, tudo concorre para Ele, tudo deflui d’Ele.
Ora, é importante destacar que, enquanto a Santa Maria Madalena bastou ouvir a voz do Mestre chamando-a “Maria” (Jo 20, 16) para reconhecer sua Ressurreição, OS Apóstolos só vão acreditar depois de tocarem nas chagas de Jesus, como se conclui do relato de São Lucas: “Vede minhas mãos e meus pés, sou Eu mesmo; apalpai e vede” (Lc 24, 39). Todos eles foram comprovar e, então, “se alegraram”...
Um poder divino dado aos homens
21 Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai Me enviou, também Eu vos envio”. 22 E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. 23 quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos”.
Quer o Divino Mestre que aqueles que O seguem sejam incumbidos de anunciar o Evangelho, como Ele foi enviado pelo Pai. Os Apóstolos, no entanto, deveras amedrontados e abalados com a dramática situação que atravessavam, tinham necessidade de uma nova infusão de serenidade e confiança, para se tornarem aptos a realizar sua altíssima missão. Assim, embora a primeira oferta de paz fosse, de si, suficiente, Nosso Senhor repetiu: “A paz esteja convosco”.
Incutida a paz, lhes dá uma autoridade extraordinária com este sopro criador. Nele descobrimos um bonito paralelismo com o sopro do Pai ao comunicar a vida humana a Adão, acrescida da participação na natureza divina, com todos os dons do Espírito Santo e as virtudes infusas, e, mais ainda, dos dons preternaturais — de integridade, de imortalidade, de impassibilidade, de domínio sobre os animais e de ciência infusa ou sabedoria insigne —, que elevavam o homem a um grau sublime.
De maneira análoga, ao dizer “Recebei o Espírito Santo”, Jesus insuflou nos discípulos uma nova vida, a vida sacerdotal, transferindo-lhes um poder divino: o de perdoar ou reter os pecados. Quando desceram um paralítico por uma abertura no teto da casa para ser curado pelo Salvador, estando Ele em Cafarnaum, lembremo-nos de suas palavras, antes de lhe devolver a saúde: “Filho, perdoados te são os pecados” (Mc 2, 5). E os fariseus presentes ficaram revoltados porque este direito pertence exclusivamente a Deus. Sendo o ofendido, só a Ele cabe perdoar. “O que Jesus dá a seus Apóstolos é, pois, algo de sobrenatural que deve ser atribuído à ação do Espírito Santo, representado no Antigo Testamento, sobretudo, como vivificador [...1. Com efeito, este poder [...] é o de perdoar os pecados, bem como o de retê-los. Trata-se do poder já dado a Pedro e aos Apóstolos (cf. Mt 16, 19; 18, 18), que aqui é expressamente renovado, com a insuflação do Espírito, a qual o confere em caráter definitivo. Entende-se bem a alusão ao Espírito Santo: perdoar os pecados é dar a vida espiritual” 2

Portanto, ao administrar o Sacramento da Penitência, no momento em que o sacerdote, traçando uma cruz, pronuncia a fórmula “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”, é este mesmo sopro de Jesus Cristo que se prolonga para restituir à alma do penitente a vida divina perdida pelo pecado mortal. Nem a totalidade dos sacrifícios da Antiga Lei, somados e multiplicados por si mesmos, seriam capazes de perdoar tão só uma falta venial. Nem sequer a Nossa Senhora, com todos os seus méritos, seria isso possível! Eis a maravilha da condição sacerdotal!
Continua no próximo post

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