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domingo, 31 de maio de 2015

EVANGELHO DA SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO (CORPUS CHRISTI) - ANO B

COMENTÁRIOS AO EVANGELHO DA SOLENIDADE DO SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO (CORPUS CHRISTI)
12 No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal, os discípulos disseram a Jesus: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?”
13 Jesus enviou então dois dos seus discípulos e lhes disse: “ide à cidade, Um homem carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o  e dizei ao dono da casa em que ele entrar: ‘O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?’  Então ele vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Aí fareis os preparativos para nós!”
16 Os discípulos saíram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus havia dito, e prepararam a Páscoa. 22 Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o e entregou-lhes. dizendo: “Tomai, isto é o meu Corpo”. 23 Em seguida, tomou o cálice, deu graças entregou-lhes e todos beberam dele. 24 Jesus lhes disse: ‘Isto é o meu Sangue, o Sangue da Aliança, que é derramado em favor de muitos.
25 Em verdade vos digo, não beberei mais do fruto da videira, até o dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus”. 26 Depois de terem cantado o hino, foram para o Monte das Oliveiras (Mc 14, 12-16.22-26).
A justa medida do fervor eucarístico
Considerar a magnitude da generosidade divina manifestada na Eucaristia ajuda a medir qual deve ser nosso ardor por este inigualável Sacramento.
I - O HOMEM-DEUS DÁ-SE EM ALIMENTO AOS HOMENS
A luz da fé e imprescindível para contemplar, ainda que por poucos instantes, a elevação e beleza do mistério da Encarnação do Verbo, pois o entendimento humano, abandonado à sua mera capacidade, não chega a alcançá-lo. Se não fosse o auxílio da graça, jamais seria possível admitir que Deus quis Se manifestar ao mundo desta forma, promovendo a união da natureza divina com a humana na Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Jesus é verdadeiramente Homem, com inteligência, vontade e sensibilidade — além de ter assumido um corpo padecente, cuja origem foi miraculosa, mas que se desenvolveu de modo normal, conforme as leis da natureza — e, ao mesmo tempo, Ele é plenamente Deus. Deus reclinado numa manjedoura; Deus a discutir no Templo com os doutores da Lei; Deus que mora com seus pais em Nazaré; Deus que abraça a vida pública; Deus que é crucificado... Quantos atos de adoração e gratidão deveríamos fazer cada vez que consideramos este mistério, e com quanto fervor conviria pedir a Nosso Senhor o aumento de nossa fé n’Ele!
Ora, se tal é nossa admiração ante a grandeza do Verbo que “Se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14), não menos ardorosa deve ser a nossa atitude perante a Sagrada Eucaristia, o mistério que resume todas as maravilhas realizadas por Deus para a nossa salvação.1 Como bem observa o padre Monsabré, “a Encarnação é a obra-prima de Deus. Mas esta mesma obra-prima, pessoal e viva, Jesus Cristo, Filho de Deus Encarnado, não se contenta em proclamar, à maneira das obras-primas humanas, a glória do sublime Artista que a criou. Soberanamente inteligente, bom e poderoso, Ele também quis produzir uma obra capital entre todas aquelas que seu Pai celeste O mandou executar. Esta obra é a Eucaristia”.2
Assim, na Encarnação, o Filho eterno de Deus Se vela na carne; na Eucaristia, Jesus oculta não só sua Pessoa Divina, mas sua humanidade, sob as espécies de pão e vinho. Na Encarnação, Ele passou a viver e a agir como nós, do interior da santidade menada, substancial e infinita de Deus. Na Eucaristia, Ele quer, com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade, habitar em nosso interior. Na Encarnação, a comunicação e a união foram somente com uma natureza singular, a humanidade santíssima de Cristo; na Eucaristia, Jesus Se une a todo aquele que O recebe, conforme Ele mesmo disse: “Quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue permanece em Mim e Eu nele” (Jo 6, 56). Tal união entre Deus e o homem é a mais íntima que se possa imaginar, inferior apenas à união hipostática. E algo tão grandioso que causa assombro!
O Evangelho de hoje, trazendo à nossa consideração o relato da instituição deste Sacramento, “entre todos o mais importante e o que remata os demais”,3 convida a meditar sobre sua inesgotável riqueza e a crescer na devoção a ele. O próprio Salvador ansiava por este momento, como o manifestou aos discípulos, no início da Santa Ceia: “Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de sofrer” (Lc 22, 15).
II - O MISTÉRIO DA FÉ POR EXCELÊNCIA
Encontrava-Se o Divino Mestre a caminho de Jerusalém quando, pela terceira vez, anunciou aos discípulos sua Paixão (cf. Mt 20, 17-19; Mc 10, 32-34; Lc 18, 31-34). Mais tarde, já depois do Domingo de Ramos, Ele lhes revelou a data exata deste acontecimento: “Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa, e o Filho do Homem será traído para ser crucificado” (Mt 26, 2).
Entrementes, os sumos sacerdotes e os anciãos do povo, reunidos na casa de Caifás, conspiravam contra Jesus e deliberavam sobre os meios de O prender com astúcia e O matar. Mas, como temiam provocar tumulto na multidão, decidiram agir só após o término da festa (cf. Mt 26, 4-5). Foi então que Judas Iscariotes foi ter com eles, oferecendo-lhes sua pérfida contribuição para o crime. Prometeram-lhe trinta moedas de prata, “e desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar Jesus” (Mt 26, 16).
A Ceia que inaugurou a verdadeira Páscoa
12 No primeiro dia dos Ázimos, quando se imolava o cordeiro pascal os discípulos disseram a Jesus: “Onde queres que façamos os preparativos para comeres a Páscoa?’
As comemorações da Páscoa, principal festividade judaica se estendiam ao longo de uma semana, sendo o primeiro dia reservado à ceia solene em que se comia o cordeiro pascal, seguindo as indicações dadas por Deus aos israelitas na época da saída do Egito (cf. Ex 12, 1-14). Como o pão fermentado era proibido durante este período consumiam-se pães sem levedura, e daí a solenidade ser designada também como festa dos Ázimos.
Ora, Nosso Senhor Jesus Cristo é o verdadeiro Cordeiro Pascal, “o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo” (I Pd 1 1, 19). Portanto, a cerimônia que os Apóstolos se empenhavam em preparar seria o início da realização de tudo o que a Páscoa israelita prefigurava, pois na Santa Ceia daquela noite Ele consagraria “o princípio de seu sacrifício, ou seja, de sua Paixão, entregando-se a seus discípulos nos mistérios de Corpo e Sangue”.4
Um suave convite a Judas
13a Jesus enviou então dois dos seus discípulos e lhes disse: “ide à cidade”.
Sendo Judas Iscariotes o responsável pela logística do Colégio Apostólico, cabia-lhe tomar as providências para a celebração. Porém, a narração de outro Evangelista indica terem sido Pedro e João os discípulos que Nosso Senhor encarregou deste trabalho (cf. Lc 22, 8). Com divina delicadeza e bondade, o Mestre deixava transparecer a Judas que tinha conhecimento do crime por ele tramado com os sinedritas. Se houvesse no traidor um resquício de amor a Deus e de bom senso, o proceder de Jesus lhe teria aguilhoado a consciência, levando-o a dar-se conta da imensa gravidade daquele pecado e a desistir de seu intento. Entretanto, nada disso ocorreu, pois seu coração estava completamente endurecido no mal.
Podemos fazer aqui uma aplicação à nossa vida espiritual. As vezes, pessoas com quem convivemos — seja um superior, um colega ou até um inferior — nos dão a entender que percebem em nós um defeito mal combatido ou nos alertam para uma situação má na qual nos encontramos. Em face desses convites, teremos fechado nossa alma, imitando a perversidade de Judas?
O Divino Mestre quis evitar perturbações durante a Ceia
13b “Um homem carregando um jarro de água virá ao vosso encontro. Segui-o 14 e dizei ao dono da casa em que ele entrar: ‘O Mestre manda dizer: onde está a sala em que vou comer a Páscoa com os meus discípulos?’ ‘ Então ele vos mostrará, no andar de cima, uma grande sala, arrumada com almofadas. Aí fareis os preparativos para nós!”
O recinto escolhido pelo Redentor, como cenário do ato de suma importância que iria realizar, era uma ampla sala decorada com distinção e categoria (cf. Le 22, 12). Belos tapetes, tecidos, cortinas e requintada mobília compunham agradavelmente o ambiente. De acordo com o costume do tempo, nos banquetes as mesas eram dispostas em forma de “U” e os comensais não comiam sentados como hoje, mas reclinados em divãs distribuídos no lado externo da mesa. O lado interno ficava livre a fim de permitir o serviço, O lugar de honra — que na ocasião deveria ser ocupado por Nosso Senhor — ficava ao centro.

Judas, ávido por se informar a respeito das circunstâncias e do local da ceia pois julgava ser este um momento oportuno para entregar Nosso Senhor —, decerto ouvia atento estas indicações. Mas Jesus desejava celebrar a Páscoa sem nenhuma interrupção; “não queria ser perturbado por seus inimigos antes que chegasse ‘sua hora’ e, sobretudo, antes da doação e do amoroso legado da Sagrada Eucaristia que queria deixar à sua Igreja”.5 Por isso instruiu os dois Apóstolos de modo a tornar impossível ao traidor descobrir com antecedência onde seria a refeição, demonstrando-lhe ainda, indiretamente e de maneira majestosa, que estava a par de tudo. Ante esta nova lição, Judas mais uma vez recalcitra e sua maldade recrudesce.
Continua no próximo post

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