-->

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Evangelho II Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11


Continuação dos Comentário ao Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11

Jesus e Maria são convidados a um casamento

1 “Houve um casamento em Caná da Galileia. A Mãe de Jesus estava presente. 2 Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento”. 
Caná distava dez quilômetros de Nazaré e era uma cidade mais importante do que esta. A Mãe de Jesus certamente tinha relações de amizade com a família de um dos nubentes. Ou, conforme opina o Abbé Jourdain, “pode-se crer que Maria estava unida por laços de parentesco próximo às famílias do jovem casal e, tendo sido convidada a este título, julgou-Se no dever de comparecer”.4
Nosso Senhor acompanhou-A, levando consigo os seus primeiros discípulos: João, Tiago, Pedro, André, Filipe e Natanael. O objetivo da presença de Jesus e de sua Mãe é assim explicado pelo Abbé Jourdain: “Jesus Cristo dignouSe ir às Bodas de Caná, seja para honrar o matrimônio, como ensinam unanimemente os Santos Padres, seja para elevá-lo à dignidade de Sacramento e mostrar à Igreja e ao mundo que, sem a presença do Filho de Deus e de Sua Mãe Santíssima, não há núpcias santas e agradáveis a Deus.”5 A este respeito, porém, já tivemos oportunidade de discorrer em anterior artigo, por isso analisaremos agora especialmente o papel de Nossa Senhora.6
Oportuno é ressaltar no comentário deste versículo uma característica do espírito católico: a consideração de que a vida humana, conduzida dentro da observância da Lei de Deus, deve ser agradável, ter seus confortos e seus gáudios. Comparecendo à festa, Nosso Senhor e Nossa Senhora demonstraram que “as legítimas expansões da vida doméstica são santas” e quanto “o espírito cristão não é arredio nem antissocial”.7 A temperante alegria da boa comida e da boa bebida, o casto prazer da mesa e outros deleites lícitos como, por exemplo, a música ou um ambiente decorado com bom gosto e requinte, estão muito de acordo com o espírito da Igreja, pois propiciam o progresso no amor a Deus.
Naquela celebração matrimonial santificada pela Sua presença, não é concebível terem Nosso Senhor e Nossa Senhora passado despercebidos. Na fisionomia, no porte, no modo de ser, sobretudo no olhar de ambos, deveria transparecer a incomensurável superioridade d’Eles sobre os demais. Inevitavelmente, uma auréola sobrenatural deveria cercá-Los, atraindo uma discreta curiosidade dos comensais. Nosso Senhor, afirma o padre Ambroise Gardeil, OP —, “pela paz que espargia, mais que por seus milagres e suas afirmações, provava que era o Filho de Deus”.8
Sempre desejosa de fazer bem aos outros
 3“Como o vinho veio a faltar, a Mãe de  Jesus Lhe disse: ‘Eles não têm mais vinho’”. 
De acordo com o costume judaico, as mulheres não se sentavam à mesa nos banquetes, mas ficavam separadas dos homens preparando os alimentos. Cabia às damas de mais idade supervisionar o trabalho das mais jovens, tomar as necessárias providências e orientar o serviço que era feito à mesa.9 Entre elas deveria figurar Nossa Senhora, pois, percebe-se pelo teor deste versículo estar Ela ajudando os anfitriões para o bom êxito da festa.
Como sempre, despreocupada de Si, Maria Santíssima prestava atenção em tudo, desejosa de fazer o bem aos outros. Percebeu, então, talvez sem ninguém Lhe ter comunicado, a situação embaraçosa: acabara o vinho. Que vergonha para os anfitriões! Quão grande seria a decepção quando isto viesse a saber-se! Isto, porém, não aconteceu, pois, como diz São Bernardino de Siena, “o Coração de Maria não poderia ver uma necessidade, uma aflição” e, mesmo sem ser rogada, “Ela intervém, pedindo um milagre para tirar de embaraços esses humildes esposos”.10
Nossa Senhora tudo interpretava com sabedoria e por certo considerou que a Providência permitira a falta de vinho para dar a Jesus ocasião de manifestar Sua Divindade. “Ele ainda não operou prodígio algum, mas Ela não duvida de Seu poder sobrenatural, e Sua comunicação implica numa súplica de que faça o possível, mesmo um milagre” — comenta Beringer.11
Pois, como salientam os professores Jesuítas, “em sua intuição de Mãe e de Virgem iluminada, percebeu ter chegado a hora de Jesus revelar o segredo messiânico, oculto por tantos anos. A despedida anterior, o batismo, a pregação de João e os discípulos que seguiam Jesus, todos esses episódios Lhe dizem ter começado uma fase nova: a Vida Pública”.12
De outro lado, Nosso Senhor já teria revelado à Sua Mãe o grande mistério da Eucaristia, talvez para consolá-La por toda a Paixão pela qual deveria Ele passar, e pelo abandono em que ficaria Ela na terra durante cerca de quinze anos.13 Estaria Maria ansiosa, portanto, pelo momento de poder comungar. E tendo faltado o vinho, bem poderia Ela pensar que essa era uma boa ocasião para antecipar a instituição da Eucaristia.14

Continua no próximo post


4JOURDAIN, Zéphyr-Clément. Somme des grandeurs de Marie. Paris: Walzer, 1900, t.II, p.461.
5Idem, ibidem.
6Revista Arautos do Evangelho, nº 22 (Outubro de 2003).
7GOMÁ Y TOMÁS, Isidro. El Evangelio explicado. Barcelona: Casulleras, 1930, v.I, p.454.
8GARDEIL,OP, Ambroise. El Espírito Santo en la vida cristiana. Madrid: Rialp, 1998, p.167.
9Cf. DIDON, OP, Henri. Jesus Christo. Porto: Chardron, 1895, v.I, p.187; TUYA, OP, Manuel de. Biblia Comentada. Madrid: BAC, 1964, p.999-1000.
10Apud SAN BERNARDINO DE SIENA. Explication des Évangiles. Hong-Kong: Imprimerie de la Société des Missions Étrangères, 1920, t.I, p.272.
11BERINGER, R. Repertorio universal del predicador. Barcelona: Litúrgica española, 1933, v.I, p.198.
12Cf. LEAL, SJ, Juan; PARAMO, SJ, Severiano del; ALONSO, SJ, José. La Sagrada Escritura. Texto y comentario por los Profesores de la Compañía de Jesús. Nuevo Testamento I, Evangelios. Madrid: BAC, 1961, p.846.
13“Não há duvida de que Maria conheceu o propósito de Cristo de instituir a Eucaristia muito antes que fosse instituído tão augusto sacramento”. (ALASTRUEY, Gregorio. Tratado de la Virgen Santísima. Madrid: BAC, 1956, p.678-679).
14 Cf. ALASTRUEY, op. cit., p.680-681. 

Nenhum comentário: