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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11

Continuação dos Comentários ao Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11
Prefigura do milagre eucarístico
4 “Jesus respondeu-Lhe: ‘Mulher, por que dizes isto a Mim? Minha hora ainda não chegou’”.
Embora a palavra “mulher”, presente nesta resposta de Jesus, soe um tanto dura aos nossos ouvidos, na linguagem do tempo denotava, ao contrário, respeito e solenidade, inclusive grande estima e até um matiz de ternura. E não era raro usá-la para dirigir-se a princesas e rainhas.15
Nosso Senhor havia entendido perfeitamente a insinuação de sua Mãe, e ao usar a palavra “mulher” para se dirigir a Ela quis indicar, como afirma Maldonado, o desejo de “afastar de Si toda suspeita de amor humano, ao fazer o milagre”.16 Os professores da Companhia de Jesus manifestam igual opinião: “Jesus não nega o milagre que Lhe foi pedido, mas nega que vai operá-lo por um motivo meramente humano. Em tudo Ele Se move pela vontade de Seu Pai celestial”.17
Como não poderia deixar de ser, Nosso Senhor também deveria estar penalizado com a situação daquelas famílias. Porém, desejava instruir Seus discípulos e associar Nossa Senhora à Sua obra, mostrando o papel decisivo da mediação de Sua Mãe. Por isso, com certeza alegrou-Se ao ouvir o pedido de Maria e, segundo o renomado exegeta padre Lagrange, respondeu como quem diz: “Deixai por minha conta, tudo irá bem [...] com mais dignidade no tom, mas sem dúvida também com mais afeto na modulação da voz”.18
Ao dizer “minha hora ainda não chegou”, Jesus declara ser ainda cedo para a instituição da Eucaristia.19 Ademais, argumenta São João Crisóstomo, não sendo Ele ainda conhecido como o Messias, não era o momento de manifestar-Se fazendo um milagre.20
A confiança em Nossa Senhora deve ser total
5 “Sua Mãe disse aos que estavam servindo: ‘Fazei o que Ele vos disser’”. 
Conhecia muito bem Nossa Senhora o Sagrado Coração de Jesus, fornalha ardente de caridade, gerado nesse templo sublime que é o Seu claustro materno. “Por conhecer privilegiadamente, como Mãe, o Coração de Seu Filho, sabe que será atendida e recomenda aos serventes fazer tudo quanto Ele lhes mandar. E assim, a pedido de Maria, antecipa-se excepcionalmente a hora dos milagres de Cristo”.21 É a eficácia da Onipotência suplicante.
Isso nos mostra como devemos confiar em Nossa Senhora sem restrições, mesmo quando pareçamos ser merecedores da rejeição de Nosso Senhor. Será Ela quem nos socorrerá quando, também a nós, “faltar o vinho”. Pois é absoluto, por desígnio divino, o poder de impetração da Medianeira de todas as graças. Em Sua insondável bondade, prometeu o Redentor: “Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, vo-lo farei” (Jo 14, 13). Ora, se isso é válido para nós, concebidos no pecado original e com tantas misérias pessoais, como não o será em altíssimo grau para sua incomparável Mãe?
Se na terra Jesus nada Lhe negou, agiria de outro modo estando no Céu?22 Se Ele fez esse estupendo milagre, embora não fosse ainda a hora, podemos ter certeza de que, agora sim, chegou a Sua hora, pois está no Céu como Sacerdote Eterno junto ao Pai para interceder por nós (cf. Hb 4, 14). Lá está para atender nossas solicitações, permanece à mercê dos pedidos de Nossa Senhora. Bem conclui o piedoso Cardeal de la Luzerne: “No píncaro da glória, teria Ela perdido seu poder? O prêmio de suas incomparáveis virtudes seria o de ter menos crédito perante Deus? [...] Aquele que na terra estava submisso às Suas ordens rejeitará, no Céu, Suas preces?”.23
Desse modo, estejamos certos de que, recorrendo a Maria, seremos atendidos em qualquer circunstância.
Continua no próximo post.
15 Cf. JOURDAIN, op. cit., p.59; TUYA, OP, Manuel de. Biblia comentada, II. Madrid : BAC, 1964, p.1006 ; CAROL, OFM, J.B. Mariología. Madrid: BAC, 1964, p.103-104; DEHAUT. L’Evangile expliqué, défendu, médité. Paris: Lethielleux, 1867, p.39-40.
16 MALDONADO, SJ, Juan de. Comentarios a los cuatro Evangelios. III. Evangelio de San Juan. Madrid: BAC, 1954, p.155.
17 LEAL, SJ; PARAMO, SJ; ALONSO, SJ, op. cit., p.847.
18 LAGRANGE, OP, M.J. Évangile selon Saint Jean. Paris: Lecoffre, 1936, p.56.
19 “Que Cristo tenha cogitado em instituir a Eucaristia naquela ocasião é insinuado por Santo Agostinho [...]. E São Máximo de Turim afirma: ‘Ao dizer minha hora ainda não chegou, prometia aquela hora da sua gloriossíssima Paixão e o vinho da nossa Redenção’” (ALASTRUEY, op. cit., p.680).
20 Cf. SAN JUAN CRISÓSTOMO. Homilías sobre el Evangelio de San Juan (1-29). Madrid: Ciudad Nueva, s/d. p.268.
21 TUYA, OP, op. cit., p. 1003.
22 Cf. CLÁ DIAS, EP, João Scognamiglio. Pequeno ofício da Imaculada Conceição comentado. São Paulo: Artpress, 1997, p.283-285.
23 LUZERNE. Explication des Évangiles. Paris: Mequignon Junior, 1847, t.I, p.194.

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