-->

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11

Continuação dos Comentários ao Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11
Nos milagres, Deus quer nossa cooperação
6 “Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7 Jesus disse aos que estavam servindo: ‘Enchei as talhas de água’. Encheram-nas até a boca”.
Recomendando aos servidores fazer tudo quanto Jesus lhes mandasse, Nossa Senhora os instruíra a não colocar obstáculo algum à vontade de Jesus. E é isso que Ela repete constantemente em nossas almas: “Fazei tudo quanto Ele vos disser”, ou seja, “segui a voz interior da graça, sem opor-lhe qualquer obstáculo”.
Infelizmente, com frequência não sabemos interpretar bem a voz de Deus, e opomos resistência à graça, ao contrário da atitude exemplar daqueles servidores. Sem dúvida, deveria parecer-lhes estranha a ideia de oferecer água num banquete, mas obedeceram com prontidão, sem fazer o menor reparo.
Uma importante lição tira desta passagem o padre D’Hauterive: “Neste episódio, devemos considerar como importa obedecer fielmente a Deus e a quem ocupa seu lugar junto a nós, sem indagar com demasiada curiosidade o motivo pelo qual nos manda uma coisa ou outra”.24 Deus quer nossa cooperação nos milagres, pela fé, pela obediência à voz da graça em nosso interior. É como se Ele dissesse, na acertada expressão do Abbé Jourdain: “Se fizerdes o que podeis, Ele fará o que não podeis”.25
O modo de fazer o milagre
8  “Jesus disse: ‘Agora tirai e levai ao  mestre-sala’. E eles levaram. 
9 O mestre-sala experimentou a água que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água”.
Em seus milagres, visava Jesus, ou saciar a fome da multidão — como quando multiplica os pães e os peixes —, ou atender outras necessidades prementes. Neste caso, entretanto, não era indispensável Ele mudar a água em vinho, porque a falta deste não acarretaria grave dano a ninguém.
Ora, Jesus atende com superabundância o pedido, proporcionando seis talhas cheias, ou seja, cerca de 600 litros do melhor vinho, quantidade muito superior à necessidade do momento. Qual seria a razão desse “excesso”?
Nosso Senhor assim agiu para nos mostrar que o supérfluo, de si, não só não é pecado, mas pode até ser legítimo e recomendável. Essa abundância de vinho, afirma o Cardeal Gomá, “não servirá para abuso dos convidados, porque a simples presença de Jesus os conterá, mas para livrar alguns amigos ou parentes de um grave apuro e os aliviar em sua pobreza, dando-lhes tal quantidade de vinho”.26 Não sem razão, pois, o grande exegeta padre Fillion nos convida a admirar “a munificência régia do presente nupcial de Jesus”.27
De outro lado, cabe prestar atenção em um pormenor importante: o milagre foi feito sem nenhuma fórmula nem gesto externo, exceto a ordem dada por Nosso Senhor aos servidores; tendo eles obedecido, já não havia mais água nas talhas, mas sim vinho. O padre D’Hauterive resume em termos precisos o ocorrido: “Por um ato de sua soberana vontade, essa vontade com a qual dá ordens aos elementos, como Senhor deles, Jesus trocou num instante a substância da água em substância do vinho”.28 Entretanto, na Santa Ceia, ao transubstanciar o pão e o vinho, Ele usa uma fórmula fixa, que a Igreja utiliza até hoje na Liturgia.
Não procedeu da mesma forma em Caná porque aquele ato não deveria ser repetido pela posteridade. E embora o milagre de Caná tenha sido espetacular, foi muito menor do que aquele que se opera em cada Missa, com a Transubstanciação do vinho e do pão em Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor. Mas, na Eucaristia, o milagre não é visível: o sacerdote pronuncia as palavras da Consagração e tanto a hóstia quanto o vinho consagrados continuam com aparência de pão e de vinho, apesar de ter sido mudada a substância. Isso é assim para provar nossa fé.
24 D’HAUTERIVE, P. La suma del predicador. Paris: Luis Vivès, 1888, t.II, p.284.
25 JOURDAIN, op. cit., t.VII, p.368.
26 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.451.
27 FILLION, Louis Claude. Vida de Nuestro Señor Jesucristo. Madrid: Rialp, v.I, p.335.
28 D’HAUTERIVE, op. cit., p.302.

Nenhum comentário: