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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11

Continuação dos Comentários ao Evangelho 2º Domingo do Tempo Comum - Ano C - 2013 Jo 2, 1-11
O melhor vinho foi servido no fim
10 “O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: ‘Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!’”.
O vinho fruto desse milagre foi, sem dúvida, o mais delicioso jamais produzido na História — o vinho dos vinhos — porque feito pelo próprio Deus.
Da circunstância de ter ele sido servido no fim, podemos tirar uma aplicação para nossa vida espiritual. Quando cedemos à sedução do pecado, haurimos em primeiro lugar o “vinho bom”: a fruição dos prazeres e a ilusão de uma felicidade perfeita. Mas logo depois, estando já embriagados pelo vício, a elas sucedem-se tristeza e frustração.29
Pelo contrário, quando encetamos o percurso da santificação, talvez encontremos no começo dificuldades ou provações. Logo se seguirá, porém, o delicioso “vinho” das consolações espirituais. “Inicialmente, o mundo promete bens, alegria, prazeres, mas no fim ele só dá amarguras, aflições, desespero. Deus, ao contrário, faz quem se entrega a Ele sentir o amargor do cálice de Jesus Cristo, penas e trabalhos, mas no final os sofrimentos e as lágrimas cedem lugar a uma alegria inefável, a torrentes de delícias”.30 Eis uma palavra de esperança e de consolo para aqueles que sofrem: está sendo preparado para eles o vinho bom transmudado por Nosso Senhor.
Os milagres de Nosso Senhor demonstram sua Divindade
11 “Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram n’Ele”.
Do teor deste versículo pode-se deduzir que até aquele momento não tinham os discípulos acreditado inteiramente no Mestre. “Haviam já começado a crer n’Ele — afirma o Cardeal de la Luzerne —, pois vincularam-se à Sua pessoa. Mas sua fé ainda era débil, talvez até incerta, e esse milagre a consolidou, tornou-a mais viva e firme”.31 Foi preciso, portanto, esse milagre para que eles vissem em Nosso Senhor, o Messias.
Isso nos convida a dar adesão a Deus já no começo de nossa vida espiritual, não exigindo milagres ou consolações, pois Ele mesmo disse a Tomé: “Bem-aventurados os que creram sem ter visto” (Jo 20, 29).
O melhor vinho da história: o reino de maria
Perante as perplexidades e apreensões que o mundo de hoje possa causar-nos, o Evangelho deste domingo nos convida à esperança. Pois sabemos que, quando a humanidade chegar a um nível de decadência moral onde tudo parecer perdido, a intercessão onipotente de Maria obterá de seu Filho Divino a mutação da água — neste caso, uma água poluída pelo pecado — no melhor vinho.
A miséria espiritual do mundo se transformará, por intercessão da Mãe de Deus, em algo de extraordinário, que não podemos sequer imaginar: o Reino de Maria, isto é, o triunfo do seu Sapiencial e Imaculado Coração, anunciado por Ela em Fátima.
A frase do Evangelho de hoje: “Tu deixaste o melhor vinho para o fim”, bem pode significar: “Deixastes, ó Deus, vossas melhores graças para os tempos vindouros”. As graças mais excelentes, os mais insignes benefícios, os maiores santos, as culturas mais requintadas — tudo quanto pode haver de melhor foi reservado para essa era marial.
De um modo suave, mas rápido e direto — tal como a água foi transmudada em vinho nas bodas de Caná —, Nossa Senhora obterá de Seu Divino Filho a santificação das nossas almas. Para obtermos essa feliz renovação, bastanos seguir o sábio conselho do Abbé Jourdain: “Apresentai-Lhe vossa necessidade, vossa miséria, vossa tibieza e suplicai-Lhe: ‘Virgem Santíssima, falta-me o vinho do amor e da devoção, tenho apenas um pouco de água fria e insípida; pedi a vosso Filho que a converta em vinho’”.32
Nessa venturosa era, Maria será estabelecida Rainha dos Corações, e “coisas maravilhosas acontecerão neste mundo, onde o Espírito Santo, encontrando Sua querida Esposa como que reproduzida nas almas, a elas descerá abundantemente, enchendo-as de Seus dons, particularmente do dom da sabedoria, a fim de operar maravilhas da graça. Quando chegará esse tempo feliz, esse século de Maria, em que inúmeras almas escolhidas, perdendo-se no abismo de seu interior, se tornarão cópias vivas de Maria, para amar e glorificar Jesus Cristo?”.33
Por amoroso desígnio de Seu Divino Filho, o melhor vinho da História virá no fim, e será o “vinho de Maria”!
29 É importante notar que, conforme sublinham os professores da Companhia de Jesus, a palavra “embriagados” não deve ser tomada neste versículo no sentido pejorativo de “bêbados”, mas sim como parte de “uma espécie de provérbio” (LEAL, op. cit., p.852). Por sua vez, o Cardeal Gomá interpreta as palavras do mestre-sala como um “amável gracejo” (Op. cit., p.451). No mesmo sentido se pronunciam o Abbé Dehaut (Op. cit., p.26) e os professores de Salamanca (TUYA, op. cit., p.1002).
30 Epitres et Évangiles avec des explications. Paris: Jean Mariette, 1727, t.I, p.199.
31 LUZERNE, op. cit., p.200.
32 JOURDAIN, op. cit., t.VII, p.369.
33 SÃO LUÍS GRIGNION DE MONTFORT, op. cit., n.217, p. 211.

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