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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Evangelho 3º Domingo da Quaresma Lc 13, 1-9 Ano C - 2013

Continuação dos comentários ao Evangelho 3º Domingo da Quaresma Lc 13, 1-9  Ano C -  2013


A parábola da figueira

Visando melhor vincar nas almas dos seus ouvintes a necessidade de uma pronta penitência, Jesus continua Seus ensinamentos recorrendo a uma parábola de fácil compreensão, por ser a figueira muito comum na Palestina daquela época. Costumava-se plantá-la pelo meio das vinhas, e tanto as uvas quanto os figos secos constituíam parte importante da alimentação dos povos que lá habitavam.

Imagem dos que não procuram fazer boas obras

6“E contou-lhes também esta parábola: ‘Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou’. Então disse ao vinhateiro: Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’”.

A figueira costuma dar frutos logo no primeiro ano ou, no mais tardar, no segundo. Ora, aquela estava há três anos sem nada produzir. Não havia, portanto, necessidade de esperar mais tempo para cortá-la, porque uma planta estéril, além de ocupar espaço no pomar, desgasta inutilmente o solo.

De fato, a árvore da parábola simboliza as pessoas que não se esforçam em fazer boas obras, mas pretendem viver apenas se beneficiando das graças de Deus, sem procurar fazer frutificar esses dons. Afirma São Gregório Magno: “Quem não apresenta frutos de boas obras, segundo seu cargo e condição, ocupa debalde o terreno, como árvore estéril, pois impede outros de fazerem o bem no mesmo lugar por ele ocupado. [...] Com efeito, ocupa debalde o terreno quem põe obstáculos às almas alheias; ocupa debalde o terreno quem não se empenha em agir segundo o cargo que ocupa”.13

Encontramos aqui mais uma aplicação para nossa vida espiritual: por vezes, sinais evidentes nos mostram que Deus nos quer em determinada atividade apostólica, para ampliação do Reino d’Ele. Apesar disso, nada fazemos. Incorremos, assim, numa falta por omissão. Com frequência, esse tipo de faltas passa despercebido em nosso exame de consciência, pois, por estarmos demasiadamente voltados para nossos próprios interesses, nem nos damos conta de que pecamos quando não produzimos os frutos que o Dono da Vinha espera.

Ora, nesta passagem há para nós uma advertência: o dono da vinha mandou cortar a figueira estéril. Não poderá acontecer algo semelhante com qualquer um de nós?

Analogia com o Povo Eleito

8“’Mas o vinhateiro respondeu: Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e vou colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der fruto, então tu a cortarás!’’’.

A situação descrita nestes versículos é aplicada pelos comentaristas ao Povo Eleito. Neste sentido, afirma o padre Tuya: “assim foi tratado Israel, cultivando-o repetidamente com avisos e profetas; em seguida o Batista e, por fim, Cristo com suas doutrinas e milagres. Mas os dirigentes de Israel não O reconheceram como o Messias”.14

Com efeito, no Antigo Testamento várias vezes Deus exortou, sem sucesso, essa “figueira” a dar frutos. Já bem próximo do momento da colheita, mandou o Precursor, como arauto da justiça divina, alertando: “Fazei pois, dignos frutos de penitência. [...] Já o machado está posto na raiz da árvore. Toda árvore que não dá frutos será cortada e lançada no fogo” (Lc 3, 8-9). Mais tarde Ele próprio quis fertilizá-la com seu preciosíssimo Sangue divino, que regou toda a Terra.

Mas a “figueira” permaneceu estéril. “O Senhor procurou nela frutos de fé, mas ela nada tinha para dar”, sentenciou Santo Efrém de Nísibe.15 Por isso, afirma São Cirilo de Alexandria: “Após a crucifixão do Salvador, os israelitas foram condenados a cair nas misérias que mereceram. Jerusalém seria capturada e seus habitantes mortos pela espada inimiga; suas casas seriam queimadas e até o Templo de Deus seria destruído”.16

Não esqueçamos, entretanto, aquilo que com propriedade fazem notar os mesmos professores da Companhia de Jesus: “A aplicação é extensiva ao homem em geral, pois a história judaica sintetiza a História da humanidade”.17

Saibamos, então, encontrar as devidas analogias desta parábola para a nossa vida espiritual. Pois, como sublinha um piedoso autor: “Nós somos essa figueira, enxertados em Jesus Cristo pelo Batismo, plantados em sua Igreja pela fé, [...] cuidadosamente cultivados [...]. Procuramos corresponder a tudo isso, produzindo os frutos que Ele tem direito a esperar de nós?”.18

Continua no próximo post.

13 SAN GREGORIO MAGNO. Obras completas. Madrid: BAC, 1958, p.693-694.
14 TUYA, OP, op. cit., p.857.
15 SAN EFRÉN DE NISIBE, Comentario al Diatessaron,
14, 26-27. Apud: ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La biblia comentada por los Padres de la Iglesia. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p.309.
16 Comentario al Evangelio de Lucas, 92, 12. Apud: Idem, p.310.
17 LEAL, SJ; PÁRAMO, SJ; ALONSO, SJ, op. cit., p.697.
18 L’Évangile médité. II. Paris- Lyon: Perisse, 1843, p.552.


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