A parábola da figueira
Visando melhor vincar nas almas dos seus ouvintes a
necessidade de uma pronta penitência, Jesus continua Seus ensinamentos
recorrendo a uma parábola de fácil compreensão, por ser a figueira muito comum
na Palestina daquela época. Costumava-se plantá-la pelo meio das vinhas, e
tanto as uvas quanto os figos secos constituíam parte importante da alimentação
dos povos que lá habitavam.
Imagem dos que não procuram fazer boas obras
6“E contou-lhes
também esta parábola: ‘Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha.
Foi até ela procurar figos e não encontrou’. Então disse ao vinhateiro: Já faz
três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a!
Por que está ela inutilizando a terra?’”.
A figueira costuma dar frutos logo no primeiro ano ou, no
mais tardar, no segundo. Ora, aquela estava há três anos sem nada produzir. Não
havia, portanto, necessidade de esperar mais tempo para cortá-la, porque uma
planta estéril, além de ocupar espaço no pomar, desgasta inutilmente o solo.
De fato, a árvore da parábola simboliza as pessoas que não
se esforçam em fazer boas obras, mas pretendem viver apenas se beneficiando das
graças de Deus, sem procurar fazer frutificar esses dons. Afirma São Gregório
Magno: “Quem não apresenta frutos de boas obras, segundo seu cargo e condição,
ocupa debalde o terreno, como árvore estéril, pois impede outros de fazerem o
bem no mesmo lugar por ele ocupado. [...] Com efeito, ocupa debalde o terreno
quem põe obstáculos às almas alheias; ocupa debalde o terreno quem não se
empenha em agir segundo o cargo que ocupa”.13
Encontramos aqui mais uma aplicação para nossa vida
espiritual: por vezes, sinais evidentes nos mostram que Deus nos quer em
determinada atividade apostólica, para ampliação do Reino d’Ele. Apesar disso,
nada fazemos. Incorremos, assim, numa falta por omissão. Com frequência, esse
tipo de faltas passa despercebido em nosso exame de consciência, pois, por
estarmos demasiadamente voltados para nossos próprios interesses, nem nos damos
conta de que pecamos quando não produzimos os frutos que o Dono da Vinha
espera.
Ora, nesta passagem há para nós uma advertência: o dono da
vinha mandou cortar a figueira estéril. Não poderá acontecer algo semelhante
com qualquer um de nós?
Analogia com o Povo Eleito
8“’Mas o
vinhateiro respondeu: Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em
volta dela e vou colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se
não der fruto, então tu a cortarás!’’’.
A situação descrita nestes versículos é aplicada pelos comentaristas
ao Povo Eleito. Neste sentido, afirma o padre Tuya: “assim foi tratado Israel,
cultivando-o repetidamente com avisos e profetas; em seguida o Batista e, por
fim, Cristo com suas doutrinas e milagres. Mas os dirigentes de Israel não O
reconheceram como o Messias”.14
Com efeito, no Antigo Testamento várias vezes Deus exortou,
sem sucesso, essa “figueira” a dar frutos. Já bem próximo do momento da
colheita, mandou o Precursor, como arauto da justiça divina, alertando: “Fazei
pois, dignos frutos de penitência. [...] Já o machado está posto na raiz da
árvore. Toda árvore que não dá frutos será cortada e lançada no fogo” (Lc 3,
8-9). Mais tarde Ele próprio quis fertilizá-la com seu preciosíssimo Sangue
divino, que regou toda a Terra.
Mas a “figueira” permaneceu estéril. “O Senhor procurou nela
frutos de fé, mas ela nada tinha para dar”, sentenciou Santo Efrém de Nísibe.15 Por isso, afirma São Cirilo
de Alexandria: “Após a crucifixão do Salvador, os israelitas foram condenados a
cair nas misérias que mereceram. Jerusalém seria capturada e seus habitantes
mortos pela espada inimiga; suas casas seriam queimadas e até o Templo de Deus
seria destruído”.16
Não esqueçamos, entretanto, aquilo que com propriedade fazem
notar os mesmos professores da Companhia de Jesus: “A aplicação é extensiva ao
homem em geral, pois a história judaica sintetiza a História da humanidade”.17
Saibamos, então, encontrar as devidas analogias desta
parábola para a nossa vida espiritual. Pois, como sublinha um piedoso autor:
“Nós somos essa figueira, enxertados em Jesus Cristo pelo Batismo, plantados em
sua Igreja pela fé, [...] cuidadosamente cultivados [...]. Procuramos
corresponder a tudo isso, produzindo os frutos que Ele tem direito a esperar de
nós?”.18
Continua no próximo post.
13 SAN
GREGORIO MAGNO. Obras completas. Madrid: BAC, 1958, p.693-694.
14
TUYA, OP, op. cit., p.857.
15 SAN
EFRÉN DE NISIBE, Comentario al Diatessaron,
14,
26-27. Apud: ODEN, Thomas C.; JUST, Arthur A. La biblia comentada por los
Padres de la Iglesia. Madrid: Ciudad Nueva, 2000, p.309.
16
Comentario al Evangelio de Lucas, 92, 12. Apud: Idem, p.310.
17
LEAL, SJ; PÁRAMO, SJ; ALONSO, SJ, op. cit., p.697.
18 L’Évangile médité. II. Paris- Lyon:
Perisse, 1843, p.552.
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