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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Evangelho 3º Domingo da Quaresma Lc 13, 1-9 Ano C - 2013


Continuação dos comentários ao Evangelho 3º Domingo da Quaresma Lc 13, 1-9  Ano C -  2013

Simbolismo da figura do vinhateiro

Muitos são os simbolismos atribuídos pelos comentaristas à figura do vinhateiro.

Afirma Teófilo: “Deus Pai é o dono da vinha; o vinhateiro é Jesus Cristo, o qual não permite cortar a figueira estéril, como se dissesse ao Pai: ‘Mesmo não tendo dado frutos de penitência pela Lei e pelos Profetas, Eu os regarei com meus tormentos e minha doutrina, e talvez produzam frutos de obediência’”.19

O Cardeal Gomá o identifica com o nosso Anjo da Guarda, ou com as pessoas suscitadas por Deus para nos dirigir, ou até mesmo com cada um de nós, porque “cada qual cuida de sua vinha”.20

E São Gregório Magno se pergunta: “O que significa o vinhateiro, senão a ordem dos prelados? Pois estes, estando à frente da Igreja, estão certamente cuidando da vinha do Senhor”. E atribui, logo a seguir, um inesperado simbolismo ao trabalho do vinhateiro: “O que significa cavar ao redor da figueira senão increpar as almas infrutíferas? Com efeito, toda escavação se faz embaixo e é certo que a increpação, ao ser feita, humilha a alma; portanto, quando increpamos a alguém seu pecado, agimos como quem, por exigências do cultivo, cava em volta da árvore estéril”.

“Então tu a cortarás!”

A passagem do Evangelho termina abruptamente com palavras de terrível ameaça: “Então tu a cortarás!”.

Não faltavam no Antigo Testamento exemplos de severos castigos para dar crédito a essa advertência: no tempo de Noé, a terra foi submersa pelas águas do dilúvio (cf. Gn 7, 17-24); Sodoma e Gomorra foram destruídas pelo fogo (cf. Gn 19, 24-25); as tropas do faraó pereceram, afogadas no Mar Vermelho (cf. Ex 14, 27- 28). Deus é a Paciência, em substância, mas também é a Sabedoria e a Justiça, e sabe como e quando intervir.
E no Novo Testamento, veremos Jesus retomar a figura desta parábola quando, indo de Betânia a Jerusalém, três dias antes de Sua morte, teve fome e dirigiu-Se a uma figueira localizada à beira do caminho. Não achando nela senão folhas, disse-lhe: “Nunca mais produzas fruto algum!”. E, no mesmo instante, a figueira secou, deixando estupefatos os discípulos (cf. Mt 21, 17-20). Conforme especifica São Marcos, ela secou “até a raiz” (Mc 11, 20).

Bem pode essa árvore estéril representar a história de quem vai abusando da paciência do Criador, até o momento, desconhecido pelos homens, em que sua medida estará completa...

O que Deus espera de nós

Deus usa de longanimidade para conosco, conforme as palavras de São Pedro: “O Senhor pacientemente vos aguarda, não querendo que ninguém pereça senão que todos se arrependam” (II Pd 3, 9). Dá Ele tempo de sobra para a terra ser adubada e regada, ou seja, para as pessoas se converterem.

Contudo, os terríveis efeitos da Justiça divina convidam-nos a examinar a fundo nossa consciência, para saber se estamos cumprindo nossos deveres de cristão, assumidos no Batismo. O convite à conversão apresentado por esta passagem significa caminhar para a perfeição, excluindo qualquer apego ao pecado, pois o bem só poderá nascer de uma causa íntegra.22

Estejamos, pois, conscientes da necessidade de uma contínua e autêntica conversão, uma vez que a busca de Deus exige do homem todo o empenho de sua inteligência e a retidão de sua vontade para corresponder à graça, sem a qual nada podemos fazer.

E se, por infelicidade, tivermos incorrido em muitas faltas, não nos esqueçamos de que Nossa Senhora e o nosso Anjo da Guarda estão sempre rogando por nós, para Deus nos conceder mais uma oportunidade. O mesmo fazem os bem-aventurados, conforme afirma Santo Agostinho ao comentar essa parábola: “Todos os santos são como vinhateiros que intercedem pelos pecadores perante o Senhor”.23

Esta Liturgia — que nos adverte com tanta seriedade, mas também nos incentiva a ter uma inabalável confiança na misericórdia divina — é própria a nos conduzir, como dissemos, a um apurado exame de consciência. Aproveitemos, então, o dia de hoje para pedir a graça de romper inteiramente com o mal. Aquilo que Jesus esperava e até reclamava de Seu povo, tal qual transparece no Evangelho de hoje, é exatamente o que Ele quer de cada um de nós. Ou seja, uma grande virtude de penitência e espírito de compunção, necessários a todos os que não viveram uma perfeita inocência.

Essa dor dos próprios pecados, quando redunda numa contrição perfeita, produz belos e abundantes frutos, como a plena remissão de nossas culpas e das próprias penas temporais, e também um considerável aumento da graça santificante que faz a alma avançar rapidamente pelas sendas da santificação. Além de grande paz interior, essa contrição manterá a alma em estado de humildade, purificando-a e auxiliando-a a mortificar seus desordenados instintos. Aí está um ótimo meio para adquirir forças contra as tentações e garantir a perseverança na fidelidade aos Mandamentos.

Será que não nos move o exemplo tão clamoroso da rejeição daquele povo ao prazo que lhe dá o Salvador para seu arrependimento e conversão? Reagiremos nós da mesma forma ou imploraremos, por meio de Maria, esse verdadeiro dom de Deus, que é a contrição perfeita?

Eis o que a respeito da pecaminosa rejeição do povo eleito comenta Didon: “O fruto que Deus esperava e reclamava da Sua nação escolhida era a penitência e a fé; a penitência que chora as infidelidades e as faltas, a fé que aceita a palavra de vida e dá acesso ao Reino messiânico”.

“Desde a primeira hora da Sua vida pública, Jesus não cessou de lembrar estes grandes deveres. Mas, afora alguns eleitos, nenhum responde; em lugar de bater no peito, os chefes religiosos não falam senão da sua justiça; em lugar de crer no Enviado, combatem-no, perseguem-no, difamam-no, ameaçam-no e anatematizam-no. A vingança de Deus aproxima-se, pronta a rebentar, se o Enviado desconhecido não suspende a sua explosão; esta raça cega mal o imagina, embala-se em ilusões fatais que a palavra de Jesus não consegue dissipar, adormece nas promessas de Deus, sem pensar que o seu endurecimento torna estéreis essas promessas e provoca a cólera celeste. Os milagres não podem mais sobre ela do que a palavra. Arrancam à multidão alguns gritos de admiração, mas escandalizam a classe dirigente que não cessa de opor ao Profeta as vãs observâncias do seu culto”.24

Mais uma vez, podemos nos perguntar: e nós, reagiremos da mesma forma? Ou tiraremos todo o proveito, não só desta Liturgia, mas de toda a Quaresma?

19 TEOFILO, apud SANTO TOMÁS DE AQUINO, Catena áurea. IV. San Lucas. Buenos Aires: Cursos de Cultura Católica, s/d, p.334-335.
20 GOMÁ Y TOMÁS, op. cit., p.245.
21 SAN GREGORIO MAGNO. Obras completas. Madrid: BAC, 1958, p.694.
22 Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica, I-II, q.18, a.4, ad.3.
23 SAN AGUSTÍN, apud MALDONADO, SJ, op. cit., p.619.
24 DIDON, op. cit., p.321-322.

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